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Rendez-vous cultural

Exposição Degas no Museu d’Orsay revela universo das bailarinas e bastidores da Ópera de Paris

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Edgar Degas (1834-1917) é um dos maiores pintores impressionistas, famoso por suas obras que retratam bailarinas. A exposição em cartaz neste momento no Museu d’Orsay em Paris, confirma a fama, mas amplia a visão sobre sua produção.

Edgar Degas (1834-1917) Aula de Dança, 1873-76- Óleo sobre tela Washington, DC, Galeria Nacional de Arte
Edgar Degas (1834-1917) Aula de Dança, 1873-76- Óleo sobre tela Washington, DC, Galeria Nacional de Arte © Washington, DC, The National Gallery of Art
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"Degas na Ópera" reúne os quadros, desenhos e esculturas que marcaram a carreira do artista francês, de seu início como pintor nos anos 1860, como o quadro "Petites filles spartiates provoquant des garçons à la lutte" (Meninas espartanas desafiando meninos) até quase sua morte em 1917. Fascinado pelo universo das bailarinas, que lhe permitia transformar a música, sua paixão, em desenho, Edgar Degas frequentou a Ópera de Paris durante vários anos. Além dos corpos das dançarinas e seus movimentos   em cena, no camarim, em sala de aula  , reproduziu o espaço, a arquitetura e também os frequentadores assíduos da instituição que era um local central de sociabilidade na segunda metade do século 19 em Paris. A Ópera foi o laboratório de Degas explica à RFI uma das curadoras da mostra, Leïla Jarbouai :

"A Ópera era o espaço, o universo onde Degas experimentou todas as técnicas que trabalhou durante sua vida. Foi na Ópera que ele realizou a única escultura que expôs ainda vivo, que ele experimentou o ‘monotype’, um tipo de desenho novo, sem contorno, por impressão. Foi na Ópera que desenvolveu um formato original, o formato do leque, inspirado justamente no acessório feminino das espectadoras. Ele utilizou igualmente o pastel, esta poeira de cores que reproduz a magia das roupas cintilantes de dança”.

"A pequena bailarina de 14 anos"

A única escultura exposta por Degas em vida é sua obra-prima: “La petite danseuse de 14 ans” (A pequena bailarina de 14 anos). A obra em bronze, cópia da original feita em cera entre 1865 e 1881 que revolucionou os parâmetros estéticos da época e inaugurou a escultura moderna, ocupa um lugar central na exposição. Seu realismo, como as outras obras que compõem a mostra, revela os bastidores da Ópera e critica esse universo. Degas pinta os frequentadores assíduos, homens elegantes de fraque e cartola, predadores sexuais do século 19 que exploravam as dançarinas, quase sempre pobres e menores, como a adolescente Marie Van Goethem, que serviu de modelo para a escultura. Muitas vezes adota o ponto de vista destes homens, pinta as dançarinas de muito perto, enquadrando apenas detalhes dos corpos, e conferindo a sua obra uma perspectiva de movimento, que chamou a atenção da turista brasileira Cristina Rocha:

“Ele me parece um aficionado pela dança. Ele retrata as dançarinas, a Ópera, o teatro, os movimentos. (...) Para mim, a pintura dele dá uma sensação de movimento, ele retrata as posições de uma maneira que me parece movimento, seria essa a palavra”, define a psicóloga que visitou Paris pela primeira vez e teve a “felicidade de encontrar a exposição de Degas” no Museu d’Orsay.

A também psicóloga Vera ficou mais impressionada pelo universo retratado pelo artista francês: “É interessante que você pode ver os hábitos de uma época com os quadros e mesmo com os desenhos dele: quem habita a Ópera, a plateia e os artistas. Muito interessante! Os hábitos do café, do bar depois, alguém tocando uma música, alguém no piano, a dança, o exame de dança, o entorno da vida artística.”

Pintor das bailarinas?

Apesar do fascínio de Degas pelo mundo da dança, a curadora Leïla Jarbouai ressalta que ele não pode ser resumido como o “pintor das bailarinas”: “Ele dizia que as bailarinas eram um pretexto para pintar belos tecidos e movimentos. (...) Na verdade, ele se inscrevia em uma tradição da história da arte. Ele queria se unir aos grandes mestres e com as bailarinas contemporâneas ele encontrava a beleza do balanço rítmico dos gregos, a harmonia coreográfica dos quadros de história de Nicolas Poussin, por exemplo, ou Andrea Mantegna, artista que ele admirava muito. As bailarinas lhe permitiram conciliar a modernidade e a tradição, o permanente e o fugitivo, e fazer com que sua arte seja algo que não envelhece e continua encantando os visitantes pela beleza também do material usado para traduzir esse universo em movimento.”

A exposição "Degas na Ópera", que integra as comemorações dos 350 anos da Ópera de Paris, fica em cartaz até o dia 20 de janeiro de 2020. Para quem não pode assistir, fica a dica, o Masp de São Paulo possui uma cópia da escultura “A pequena bailarina de 14 anos”.

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