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Economia/Swiss Leaks

Presidente do HSBC tem de explicar sua própria conta na Suíça

A prestação de contas anual do banco HSBC, enterrado no maior escândalo de lavagem de dinheiro e evasão de divisas da história, se transformou em uma sessão de malhação do Judas, nesta segunda-feira (23) em Londres. O Judas em questão era o presidente da instituição, Stuart Gulliver. Ele foi pressionado a explicar porque ele mesmo, que prometeu moralizar as operações do banco quando estourou o escândalo conhecido como Swiss Leaks, recebeu mais de US$ 7 milhões na filial suíça em 2007, quando vivia em Hong Kong.

Stuart Gulliver, em foto do dia 29 de janeiro, em Hong Kong
Stuart Gulliver, em foto do dia 29 de janeiro, em Hong Kong REUTERS/Bobby Yip
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Gulliver se recusou a falar se essa conta, aberta em 1998 e cuja existência foi revelada neste domingo pelo jornal britânico The Guardian, continua aberta. Ele se restringiu a garantir que paga na Grã-Bretanha os impostos sobre a totalidade de sua renda mundial e que a revelação da existência da conta "não afeta de nenhuma maneira" sua capacidade de dirigir a corporação. De acordo com ele, a conta era usada para proteger a confidencialidade de sua remuneração de seus colegas em Hong Kong e na Suíça.

Pressão sobre a imprensa

Também coube a Stuart Gulliver explicar porque o HSBC tem cortado a verba publicitária de veículos de mídia que fazem o que ele chamou de "cobertura hostil" do caso. Ele nega que isso seja uma forma de intimidar e influenciar editorialmente a imprensa. "Não tem nada a ver com influenciar a cobertura editorial de quem quer que seja", respondeu. "Recorremos à publicidade para vender produtos bancários. Não tem sentido colocar publicidade ao lado de uma cobertura jornalística hostil".

De acordo com ele, essa é uma medida de bom senso, puro e simples: "Os negócios exigem que não coloquemos anúncios ao lado de artigos hostis porque isso significaria jogar fora a verba publicitária". Na semana passada, um editorialista do Daily Telegraph pediu demissão e acusou o diário conservador britânico de censurar informações sobre o HSBC, o que o jornal nega.

Não bastassem os escândalos, o balanço financeiro não ajudou. Em 2014, os processos judiciais custaram US$ 3,7 bilhões à instituição. No mesmo ano, o volume de negócios encolheu 5,3% para US$ 61,2 bilhões. Em 2015, o cenário não deve melhorar, devido a "tensões geopolíticas, as incertezas na zona do euro e a incerteza sobre as medidas pouco convencionais dos bancos centrais" em meio à crise. O HSBC reviu suas previsões para baixo e viu suas ações despencarem 5,57% no pregão da tarde.

Swiss Leaks

O Swiss Leaks é o escândalo mais recente - e mais importante - envolvendo o banco, cujas ligações com atividades contestáveis remontam à própria fundação. Depois de vencer a segunda Guerra do Ópio, a Inglaterra obrigou a China a restabelecer o comércio da droga depois que o gigante asiático o proibiu por uma questão de saúde pública. Para financiar suas atividades econômicas locais e, principalmente, o tráfico de ópio, Londres fundou a Hong Kong and Shangai Bank Corporation (HKSC), depois rebatizada de HSBC. Isso faz exatos 150 anos e, de lá para cá, ele se tornou o maior banco da Europa e segundo maior do mundo.

Como mostrou o escândalo Swiss Leaks, suas relações com o crime organizado seguiram de vento em popa. Entre os quase €180 bilhões que circularam pela filial suíça da instituição do final de 2006 ao início de 2007, há muita evasão fiscal e crimes mais graves, como lavagem de dinheiro de traficantes de drogas, armas e diamantes de sangue. Em termos de valores financeiros, o Brasil é o nono do ranking feito pelo ICIJ (International Consortium of Invesgative Journalism), responsável pelo vazamento das informações.

A instituição enviou listas de correntistas de diversos países a jornalistas do mundo inteiro, que tomaram a decisão de divulgar ou não os nomes e valores. No Brasil, optou-se por encaminhar a lista às autoridades. Além do jornalista que recebeu o documento inicial, outro membro brasileiro do ICIJ requisitou acesso à lista, mas o pedido foi negado. O valor total de dinheiro relacionado ao Brasil que circulou no período deflagrado foi de quase US$ 7 bilhões. Um único brasileiro chegou a ter US$ 302 milhões na conta.

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