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Radar econômico

Escândalos financeiros acentuaram interesse por “finanças solidárias” na Europa

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Desde a crise financeira de 2008, os holofotes se voltaram para os abusos do mercado financeiro internacional. A luta contra os paraísos fiscais se acentuou e os escândalos envolvendo grandes bancos se multiplicaram. Na Europa, a má fama do sistema bancário levou milhares de pessoas a encontrarem outras formas de investir.

A poupança solidária permite o investimento de suas finanças em projetos sociais.
A poupança solidária permite o investimento de suas finanças em projetos sociais. pixabay
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Na França, o valor colocado na chamada “poupança solidária” chegou a € 6 bilhões em 2013, um aumento de 28% jamais atingido nos seus 30 anos de existência. A partir da crise, o estoque de fundos cresceu quatro vezes.

O valor investido é direcionado para projetos eticamente responsáveis, que atendem às mais diversas áreas, como habitação social, meio ambiente ou criação de empregos. E a cada vez que um novo escândalo financeiro estoura na imprensa, a procura é maior, conforme Sophie des Mazery, diretora da Finansol, uma associação que certifica todos os produtos financeiros que atendem aos critérios da poupança solidária na França.

“Eu acho que a vontade de dar um sentido às economias é muito marcada pelas informações sobre os abusos do mercado financeiro. A crise financeira de 2008 ou o último escândalo do HSBC leva cada poupador a se perguntar o que é feito com o nosso dinheiro”, afirma.

A maioria dos bancos oferece uma alternativa de investimento solidário. Mas Des Mazery admite que o rendimento costuma ser inferior ao de um produto financeiro tradicional.

“Não existe um produto de poupança solidária que não traga rentabilidade financeira, seja direta, pela taxa de rendimento que será proposta, seja indireta, pelas vantagens fiscais a que terá direito”, explica. “E os riscos em uma operação solidária não são maiores do que nas outras. Quando observamos o que aconteceu com as empresas com utilidade social durante a crise econômica, vemos que a resistência delas foi maior que as empresas ditas ‘clássicas’.”

Rendimento tem menos importância na escolha

Os correntistas que escolhem esse tipo de operação têm em comum o desejo de transformar as economias em resultados práticos, que farão a diferença na vida de outras pessoas. A aposentada Anne-Marie Sonnet confirma que, na sua decisão, o que menos pesou foi o retorno financeiro.

“A poupança rende um pouco, porque compartilhamos o rendimento dos juros. Mas ninguém vai colocar todo o seu dinheiro em uma poupança solidária. O que me parece interessante é colocar uma parte das economias”, observa a francesa.

Sonnet chegou a viajar para Burkina Faso, onde conferiu o andamento do projeto que ajudou a financiar, intermediado pela organização católica CCFD-Terre Solidaire. “Depois disso, a nossa visão sobre o assunto muda completamente. Ver de perto faz toda a diferença, e isso é inestimável. Uma coisa é certa: a motivação principal não pode ser ganhar dinheiro, mas sim ver que o seu dinheiro será usado em projetos úteis, principalmente para as populações mais pobres do mundo”, conta.

Fugir da especulação

O engenheiro Jean-Yves Angst escolheu o Cigales, uma associação formada por pessoas físicas engajadas em ajudar a tirar do papel projetos inovadores e com responsabilidade social na sua localidade. O clube já conta com cerca de 3 mil participantes em toda a França – cada região financia uma ideia por ano.

“É uma relação equilibrada. De um lado, nós colocamos dinheiro, conselhos, contatos. Do outro, nós descobrimos novas formas e técnicas de fazer as coisas. Isso nos enriquece muito, afinal, existem outros enriquecimentos além do financeiro”, destaca.

Segundo Angst, o índice de sucesso das pequenas empresas financiadas pela Cigales é de 70%, passados cinco anos. O risco de perdas existe, tanto quanto no mercado financeiro tradicional. “Mas com as finanças solidárias, nós temos garantias da utilização dos fundos. Gera um financiamento útil, que vai direto para a economia real, e não vai para a especulação.”

O objetivo da Finansol é de que, no futuro, 1% da poupança dos franceses esteja alocada em finanças solidárias – o que significaria € 40 bilhões de euros.

 

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