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Radar econômico

Acionistas têm mais resistência em aceitar salários elevados da direção das empresas

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Depois de três anos de quedas, a remuneração dos diretores das grandes empresas francesas voltou a subir em 2014. Mas a aprovação dos salários multimilionários é cada vez menos consensual, por parte dos acionistas. Em empresas como L’Oréal ou Carrefour, no máximo 58% dos sócios concordaram com o valor do contra-cheque dos patrões nas assembleias-gerais deste ano.

O presidente da Nissan-Renault, Carlos Ghosn.
O presidente da Nissan-Renault, Carlos Ghosn. Reuters/Henry Romero
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Na esteira da crise financeira, as empresas do chamado CAC-40 – as cotadas na bolsa francesa – agora têm de submeter a remuneração da mesa-diretora à aprovação. A mudança, conhecida como “say on pay”, visa aumentar a transparência e passou a valer no ano passado.

O chamado pacote de recompensas inclui o salário propriamente dito e os diversos tipos de bônus que engordam, e muito, os vencimentos da diretoria. Os acionistas minoritários têm pressionado por um desempenho equivalente ao dinheiro que vai parar no bolso dos diretores.

“As remunerações estão mais indexadas ao desempenho da empresa. Os acionistas são muito sensíveis aos resultados da companhia, que têm um impacto direto nos dividendos”, afirma o sociólogo Philippe Quême, que estuda o comportamento dos operadores do mercado financeiro.

A crise pouco ou nada impactou na remuneração dos patrões. Agora, com as turbulências econômicas ficando para trás e o crescimento retomando aos poucos no continente europeu, os valores voltaram a subir.

Apesar de os montantes estarem sujeitos à aprovação, Pierre-Henry Leroy, presidente da consultoria de investimentos Proxinvest, destaca que o conselho de administração continua tendo um peso muito maior na votação da assembleia dos acionistas – por isso, o acordo para os salários exorbitantes tende a permanecer, em um sistema que funciona como em um círculo vicioso.

“Esse modelo econômico é concentrador. É um modelo que favorece os grandes grupos empresariais: os grandes bancos querem trabalhar com os grandes grupos, afinal ali eles ganham as maiores comissões”, explica. “As empresas agora apresentam a remuneração dos dirigentes para votação na assembleia-geral dos acionistas, mas sabem que isso não terá muitos riscos, porque a votação é controlada pelos representantes de fundos poderosos, que por sua vez querem fazer carreira nos bancos."

Leroy destaca que nada mudou desde a crise financeira de 2008, apesar de todos os abusos dos mercados financeiros. As promessas dos governos na Europa ou nos Estados Unidos, de limitar a busca desenfreada por bônus, ficaram no ar.

“A crise financeira não teve nenhuma consequência tangível na problemática da remuneração excessiva dos dirigentes. Os contra-cheques deles só sobem e nunca caem”, observa. “Isso não vai mudar porque os nossos políticos ocidentais não parecem querer modificar o sistema financeiro que eles inventaram.”

Para Quême, um patrão como Carlos Ghosn, da Renault, vale um salário de € 15 milhões, na medida em que teve sucesso em uma operação delicada como a fusão da fabricante francesa com a japonesa Nissan.

“Não podemos esquecer que um diretor-presidente é alguém que trabalha três vezes mais que a média dos outros trabalhadores, viaja entre 500 e 700 mil quilômetros de avião por ano, tem responsabilidades enormes, sobretudo em relação à concorrência”, ressalta. “Apesar de parecerem excessivos, os salários deles só me chocam quando vão para diretores de empresas que não tiveram bons resultados.”

Outra demanda que têm crescido por parte dos acionistas é por um equilíbrio mais justo entre o maior e o menor salário nas empresas. Segundo a Proxinvest, a maior remuneração não deve ser mais do que 240 vezes superior à menor. Na França, isso significa um generoso salário de € 4,8 milhões para o patrão.

 

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