Sete anos depois do estouro da bolha imobiliária que conduziu a Espanha a uma grave crise econômica, o país dá sinais evidentes de sair do fundo do poço. O PIB deve crescer 3,3% em 2015, um alívio para uma economia que passou cinco anos em recessão ou estagnada.
Outros vizinhos que entraram no furacão da crise, como a França, estão longe de apresentar um desempenho semelhante. O pesquisador Rafael Pampillon, diretor do departamento de Economia do Instituto de Empresas Business School, avalia que dois fatores explicam a retomada espanhola: o euro fraco em relação ao dólar e as reformas trabalhista e fiscal realizadas pelo governo do primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy. A Espanha ganhou competitividade e pôde voltar a produzir.
“Eu acho que o remédio da Espanha foi adotar o mesmo caminho que a Alemanha: promover uma desvalorização interna, principalmente porque tínhamos perdido competitividade, pela nossa inflação alta. A nossa economia era mais travada, controlada”, afirma.
O estímulo à indústria contribuiu para aumentar os postos de trabalho. Com emprego, os espanhóis voltam pouco a pouco a consumir. Neste ano, o país deve registrar uma alta de 3,8% no consumo.
Exportações se beneficiam de euro baixo
A conjuntura favoreceu as exportações, que devem crescer 5,5%. A Espanha se tornou atraente para fabricar e vender máquinas pesadas, automóveis e produtos de alta tecnologia, além de ter aumentado a exportação de alimentos. A queda do preço do petróleo no mercado internacional baixou o custo da energia – outra boa notícia para as empresas.
“Fizemos um duro ajuste fiscal, com o objetivo claro de impulsionar as exportações. Esse era um pedido dos empresários, já que a demanda interna não se sustentava mais”, relembra Pampillon. “A Espanha passou de uma participação de 23% das exportações de bens e serviços no Produto Interno Bruto, em 2007, para 33%, no ano passado. Esse crescimento, unido a uma taxa de inflação negativa que nos permitiu praticar preços inferiores aos da zona do euro, nos colocou em uma boa posição nos mercados internacionais.”
Calcanhar de Aquiles: desemprego
Nem tudo é um mar de rosas. O desemprego permanece o ponto fraco da retomada econômica, mas começa a recuar. Em um ano, 513 mil empregos foram criados no país. O índice de pessoas sem trabalho passou do recorde de 27% da população ativa, em 2013, para 22,4% em junho passado. A taxa é a segunda mais elevada entre os países que fazem parte da zona do euro – e a expectativa é que só em 2017 o índice vai cair para menos de 20%.
Os números começaram a recuar depois da flexibilização do mercado de trabalho, a exemplo do que fez a Alemanha há 10 anos. Está mais barato contratar e demitir funcionários. A negociação salarial acontece cada vez mais entre as empresas e os empregados, e não por convenção coletiva.
“A reforma do mercado de trabalho trouxe uma maior flexibilidade da mão de obra, além de torná-la mais eficiente. Isso permitiu que muitos trabalhadores voltassem a encontrar um emprego”, explica Pampillon. “Há precariedade? Sim, claro. Os salários estão mais baixos. Mas é interessante notar que ocorreu um aumento de 430 mil contratos em tempo integral no segundo trimestre do ano, enquanto o número de contratos em tempo parcial diminuiu.”
O economista defende que o governo continue a promover os ajustes fiscais para reduzir o déficit público, que está em 4,2% do PIB. Para Pampillon, apesar de serem impopulares, as medidas de austeridade estão trazendo os resultados esperados.
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