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Radar econômico

Câmbio vai continuar vulnerável se EUA aumentarem os juros

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O suspense já dura um ano e pode ser quebrado nesta semana. O FED, o Banco Central americano, poderá romper com o ciclo de juros próximos de zero, em vigor desde a crise financeira, iniciada em 2008. Os países emergentes tentam se proteger como podem, mas os efeitos da medida sobre o câmbio e o mercado de capitais são inevitáveis.

O presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini.
O presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini. Antônio Cruz/Agência Brasil
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A elevação dos juros e a redução dos estímulos à economia americana devem resultar na saída de dinheiro que, atualmente, está alocado em outros países, como o Brasil. Aos olhos de muitos investidores, os Estados Unidos voltariam a ser mais atraentes. O economista Marcelo Milan, especialista em economias emergentes da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), avalia que até mesmo um aumento mínimo na taxa americana vai gerar consequências negativas nos países menos sólidos.

“Mesmo um aumento de 0,25% já teria impacto nas expectativas, deslocamento de capitais, realinhamento de carteiras internacionais, que fariam com que os efeitos nos países emergentes fossem consideráveis”, explica.

O FED está atento às sequelas das suas decisões ao redor do mundo. Em meio a uma retomada econômica lenta nos países desenvolvidos e a uma desaceleração nos emergentes, a tendência é que as mudanças na política econômica americana sejam progressivas.

BC aposta nos juros altos do Brasil

O Banco Central brasileiro afirma que, como os juros no país estão entre os mais elevados do planeta (14,5%), a fuga de capitais não será tão acentuada – ou seja, os ganhos dos investidores no país continuarão interessantes. Na opinião de Milan, o governo não dispunha de margem de manobra para se proteger melhor do que acontece nos Estados Unidos.

“A economia e o mercado monetário brasileiro são muito pequenos frente à economia norte-americana e ao sistema financeiro internacional, que é mobilizado pelas medidas do FED. Os países em desenvolvimento acabam em uma posição bastante passiva”, sustenta o professor da UFGRS.

Política monetária em xeque

Já o economista Pedro Paulo Zahlut Bastos, da Unicamp, é crítico à política monetária brasileira, sustentada à base de juros altos. Ele argumenta que essa decisão resultou em uma valorização desproporcional do real, e agora o país sofre as consequências.

“No futuro, é preciso evitar uma nova apreciação cambial, porque é só assim que você consegue se proteger da mudança dos ciclos de negócios internacionais e da mudança das políticas monetárias, sem depender tanto da exportação de commodities. Desta forma, você poderia competir mais na indústria de transformação”, afirma.

Efeito na inflação

Os especialistas concordam que o anúncio do FED deve resultar em um aumento ainda maior do dólar em relação ao real. Zahlut Bastos ressalta que o principal efeito da depreciação da moeda nacional é sobre a inflação.

“Essa desvalorização cambial tem efeitos muito ruins para as dívidas das empresas, tem impactos inflacionários muito grandes – é o principal motivo da elevação da inflação no Brasil – e não resolve os problemas de transações correntes a curto prazo”, observa o pesquisador da Unicamp. “É claro que a capacidade produtiva brasileira fica um pouco mais competitiva. Mas, a curto prazo, a desvalorização cambial traz um conjunto de problemas e é o elemento central da crise que estamos passando hoje.”

Milan destaca que outros países emergentes, como Chile, Indonésia, África do Sul e Turquia, também estão vulneráveis às decisões do FED. Já a China, por ter uma política monetária intervencionista, acaba mais protegida das turbulências que virão da América do Norte.
 

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