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Radar econômico

Austeridade pode aumentar ainda mais na Grécia, advertem analistas

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O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, foi reeleito para o cargo com a promessa de abrandar a austeridade. Mas agora que a ala mais à esquerda do seu partido saiu do governo, o premiê pode ficar acuado e ser obrigado a adotar medidas de rigor ainda mais profundas.

Primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, sai fortalecido das eleições, mas terá margem de manobra reduzida no poder.
Primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, sai fortalecido das eleições, mas terá margem de manobra reduzida no poder. AFP PHOTO / ANDREAS SOLARO
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Em julho, Atenas se comprometeu com um pacote de reformas econômicas e sociais para aumentar a arrecadação e enfrentar a dívida colossal do país, que engole 170% do PIB grego. Em troca, o país vai receber o terceiro resgate financeiro do Banco Central Europeu, a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional.

O problema é que os ex-aliados do partido Syriza,desertores do governo, eram as vozes mais ferozes contra as exigências dos credores. Eles tinham um papel importante para manter a pressão contrária ao rigor fiscal, ressalta o economista grego Dimitri Uzunidis, professor da Universidade Littoral-Côte d’Opale.

“Tsipras não tem mais argumentos para adocicar um pouco esse remédio amargo. Como não há mais uma oposição bem estruturada e forte, uma política de austeridade ainda mais dura pode ser adotada”, avalia.

O acordo assinado com os credores prevê que a Grécia precisará da autorização da chamada troika de credores a cada vez que quiser adotar um projeto que mexa no orçamento. Uzunidis avalia que Tsipras pode até prometer diminuir o aperto fiscal – mas a realidade é que está de mãos atadas.

“No discurso, sim. Mas, na prática, não é possível, porque ele assinou um acordo com os credores europeus, o FMI e bancos privados, que prevê medidas drásticas que lhe impedem de adotar uma política contrária à austeridade. A margem de manobra de Tsipras é muito limitada”, explica o pesquisador. “Ele vai precisar respeitar esse acordo, que é ultraliberal.”

Renegociação delicada

O primeiro grande desafio do premiê será tentar renegociar a dívida grega, que já foi considerada “insustentável” até pelo FMI. A possibilidade de uma parte do valor ser abatido está distante, afirma Thomas Grjebine, economista do Centro de Estudos e Prospectivas e Informações Internacionais (CEPII).

“A renegociação da dívida não está prevista explicitamente no memorando assinado entre a Grécia e os credores. O eurogrupo já disse que não haverá um haircut, ou seja, uma redução do estoque da dívida”, diz Grjebine. “O melhor que o governo vai conseguir é um alívio da dívida, mas nem isso é certo.”

Ausência de projeto para o futuro

Os especialistas estão convencidos de que o pacote de reformas exigido pelos credores não vai tirar a Grécia da crise – pelo contrário, tende a ampliar a recessão. O acordo se concentra em metas orçamentárias rígidas e não planeja uma política econômica que vise à retomada do crescimento econômico, adverte Grjebine.

“Na verdade, não há um motor de crescimento econômico. A Grécia diminuiu os gastos, aumentou os impostos, mas como o país não tem quase nada para vender, é muito difícil de retomar a atividade. Os investimentos público e privado caíram de uma maneira drástica”, sulinha o professor. “Todos os fatores que poderiam alimentar o crescimento estão ausentes.”

O pesquisador do CEPII destaca que o ajuste pedido à Grécia nesses sete anos de crise são “incomparáveis” com os exigidos de outros países europeus, como a Espanha e Portugal, que já começam a se recuperar. Sem um projeto de desenvolvimento, as perspectivas para a economia grega são sombrias. Os salários já baixaram 25% desde 2008 e o desemprego continua afetando um quarto da população em idade ativa.
 

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