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Radar econômico

China atrai todas as atenções no Fórum Econômico de Davos

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Retomada americana instável, fraco desempenho econômico na Europa, crise dos refugiados, preço do petróleo em queda e possibilidade de saída do Reino Unido da União Europeia serão alguns dos principais assuntos que vão pautar o 64º Fórum Econômico de Davos, que começa nesta quarta-feira nos Alpes suíços. Mas o tema que mais deve circular nos corredores e salas de conferências do chamado “clube dos ricos” é o futuro da China. A desaceleração do gigante asiático impacta na economia de diversos países e tem causado pânico nas bolsas mundiais.

O Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, começa nesta quarta-feira, 20, e vai até dia 23 de janeiro.
O Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, começa nesta quarta-feira, 20, e vai até dia 23 de janeiro. FABRICE COFFRINI / AFP
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Não se deve esperar decisões no Fórum de Davos, que reúne representantes de organismos multilaterais, líderes de governo e grandes empresários. O evento anual visa discutir os principais desafios da atualidade e apontar direções para melhorar o crescimento e o desenvolvimento.

A China, embora não costume ter uma presença ostensiva nas conferências, vai estar em todas as conversas. O economista Renato Baumann, diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que a maior dificuldade dos ocidentais é desvendar as estratégias do governo chinês para os próximos anos, agora que o país passou de um crescimento de 12% do PIB para 6%, ou até menos.

“O jogo intelectual do Ocidente é o xadrez, em que você sabe que o que o seu adversário quer é matar o seu rei. O jogo intelectual da China é o ‘go’, em que você não conhece as estratégias do seu adversário. Efetivamente, é assim que os chineses jogam. Você sabe que eles têm um objetivo claro, mas os sinais podem ser interpretados de diferentes maneiras”, afirma Baumann, citando o livro Sobre a China, do prêmio Nobel Henry Kissinger.

Fórum de Davos é oportunidade de atrair investimentos

O Fórum de Davos é uma ocasião para ver e para ser visto. Presidentes das maiores companhias do planeta marcam presença no evento, uma ocasião para líderes políticos do mais alto nível afinarem os contatos e atraírem investimentos para os seus países, como explica o cientista político Philippe Moreau-Defarges, um dos maiores especialistas da França em geopolítica internacional.

“O rito de Davos, em que chefes de Governo e de Estado vão explicar as suas políticas de governo, é mais necessário do que nunca, na medida em que as interações são cada vez mais fortes entre os mercados e as políticas públicas. Ainda que a fórmula seja batida, ela continua sendo muito útil”, afirma o pesquisador do IFRI (Instituto Francês de Relações Internacionais).

Dilma não vai

Os primeiros-ministros da França, Manuel Valls, Reino Unido, David Cameron, e Israel, Benjamin Netanyahu, confirmaram presença no fórum, assim como os presidentes da Alemanha, Joachim Gauck, da Argentina, Mauricio Macri, e do México, Enrique Peña Nieto. A líder do Brasil, Dilma Rousseff, não aceitou o convite, pelo segundo ano consecutivo. Desde que assumiu o Planalto, ela só foi a Davos uma vez, em 2014.

“É claro que é um encontro importante também para os países cuja economia não vai bem. Não podemos esquecer que Davos é um fórum no qual os políticos vão “se explicar” para os empresários, para mostrar que, apesar dos problemas, eles são sérios. O Brasil, em meio a toda essa crise e os escândalos de corrupção, deveria participar, se pudesse”, indica Moreau-Defarges. “Talvez a presidente brasileira tenha outras coisas mais importantes para fazer neste momento. Além disso, uma presidente de esquerda que vai a Davos neste período de graves dificuldades pode parecer que é alguém que foi mendigar o dinheiro dos ricos.”

Missão de Barbosa: explicar como o Brasil vai se recuperar

O Brasil será representado pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que vai aproveitar a oportunidade para se apresentar para lideranças internacionais. Barbosa terá a difícil tarefa de promover o Brasil em um momento de marasmo econômico – repetindo a missão do seu antecessor no cargo, Joaquim Levy, no ano passado.

“No ponto de vista comercial e financeiro, o Brasil sumiu. Em Davos, o país não tem muito o que mostrar. O ponto é esse”, sublinha Baumann, que já foi diretor do escritório brasileiro da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal). “Para o Levy, era mais fácil, primeiro porque ele era novidade, e segundo porque ele já foi do Fundo Monetário Internacional. Ele era mais do ramo e mais conhecido do que o Barbosa.”

Sinal dos tempos conturbados, em três anos consecutivos, o Brasil levou três ministros da Fazenda diferentes ao Fórum de Davos: Guido Mantega, Joaquim Levy e, agora, Nelson Barbosa. O atual ministro vai discursar na quinta-feira e não deve defender medidas ousadas na política econômica do Brasil.

“O problema é que se ele tiver um discurso muito em favor de ajustes à la Portugal, Espanha ou Grécia, quando ele chegar aqui de volta, o PT solta três manifestos em cima. Ele sofreria as consequências porque a pressão é muito forte”, analisa o diretor do Ipea.

Barbosa terá uma série de encontros com executivos durante o Fórum Econômico Mundial, que vai até sexta-feira. Ele fará reuniões bilaterais com o secretário do Tesouro americano, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e o ministro de Finanças do Chile.

 

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