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Bolsonaro/China

Brasil de Bolsonaro cede ao pragmatismo na relação comercial com a China

O presidente chinês Xi Jinping recebeu seu homólogo brasileiro nesta sexta-feira (25) durante a primeira visita de Jair Bolsonaro à China. Como se encontram as relações entre os dois países do BRICS no meio da guerra comercial sino-americana?

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro e seu colega chinês Xi Jinping no Salão do Povo, em Pequim, em 25 de outubro de 2019.
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro e seu colega chinês Xi Jinping no Salão do Povo, em Pequim, em 25 de outubro de 2019. NOEL CELIS / AFP
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Por Joris Zylberman

Muitas palavras bonitas na boca de Xi Jinping se derramaram sobre o presidente brasileiro durante a visita. "A política da China de desenvolver relações com o Brasil com horizontes de longo prazo permanece inalterada, garantiu o número um chinês cumprimentando o chefe de Estado brasileiro no Grande do Povo nesta sexta-feira (25) em Pequim. A cooperação mutuamente benéfica entre os dois países terá um futuro melhor", disse.

A declaração do presidente chinês é circunstancial. Seu país procura amortecer o impacto da guerra comercial com Washington. Mesmo que a fase 1 de um acordo comercial possa ser assinada em meados de novembro entre Xi e Donald Trump, as sobretaxas norte-americanas planejadas para serem aplicadas em dezembro ainda não foram canceladas. É sempre bom encontrar maneiras de contornar o imbróglio, e o Brasil é uma delas.

"A China quer importar mais produtos de alto valor do Brasil, que atendam às necessidades do mercado chinês", disse Xi Jinping, citado pela TV estatal CCTV. Segundo o comunicado conjunto aos dois presidentes, Brasil e China esperam "promover um crescimento bilateral diversificado das exportações agrícolas" por meio de acordos entre a alfândega e as autoridades responsáveis pela agricultura nos dois países.

Bolsonaro "bate na China" em silêncio

Essas trocas de boas intenções podem fazer rir quando se estar a par das responsabilidades de Jair Bolsonaro na China. Durante a campanha presidencial, o candidato de extrema direita adotou um coro "Trumpiano" de críticas à compra ou participação de terras da China nas principais indústrias do Brasil: "Os chineses não virão para comprar no Brasil”, repetiu o futuro presidente durante comícios eleitorais. “Eles estão comprando o Brasil!”, denunciou na época Bolsonaro.

Hoje, Jair Bolsonaro não fala mais assim. Exportações ou importações, a China já é o principal parceiro comercial de seu país, segundo dados do Ministério do Comércio do Brasil. O volume comercial bilateral foi de cerca de US$ 100 bilhões em 2018 e o investimento da China no Brasil é estimado em US$ 60 bilhões.

No meio de uma guerra comercial com os Estados Unidos, as importações de produtos agrícolas dos EUA para a China caíram de US$ 19,5 bilhões em 2017 para apenas US$ 9 bilhões em 2018. Isso criou um déficit nos principais produtos, como a soja. O Brasil se beneficiou disso: o país é agora a maior fonte de importação de soja para a China, segundo a Trase, empresa especializada em dados agrícolas.

O Brasil ainda é beneficiário da guerra comercial sino-americana?

No entanto "essa tendência está mudando", diz Jean-Raphaël Chaponnière, economista e pesquisador da Asia21 (Futuribles). Primeiro, em 11 de setembro, Pequim decidiu aumentar os impostos sobre algumas importações dos EUA, incluindo soja. Segundo, a peste suína da China dizimou seus rebanhos em 30-40%, reduzindo significativamente as necessidades de soja. O Brasil estará competindo novamente em um mercado que encolherá nos próximos dois anos", analisa.

Outra questão da guerra comercial para o Brasil, a batalha tecnológica, principalmente no 5G. O admirador de Trump, Bolsonaro, no entanto, tem neste sentido as mãos atadas. Pois uma aliança com a América certamente iria contra o que a comunidade empresarial e os militares, que levaram o presidente brasileiro ao poder, querem.

Porque "forçaria a proibir a Huawei, a controversa gigante digital chinesa", diz Jean-Raphaël Chaponnière. As elites econômicas e militares do Brasil "não querem esperar para obter 5G", diz o economista. A Huawei já possui um centro de pesquisa em São Paulo. A ex-presidente Dilma Roussef foi espionada pela NASA, então quando dizem que a Huawei é uma ameaça, eles sorriem!", avalia o professor.

Mensagens conflitantes

Problema: mesmo se abandonou a retórica anti-chinesa, o governo brasileiro multiplica declarações contraditórias que impedem seus representantes na China de atuarem e interrompem o comércio e o investimento.

As empresas chinesas poderão fazer lances no 5G? A Huawei não será excluída, disse o primeiro vice-presidente Hamilton Mourão, ex-general favorável ao pragmatismo na diplomacia comercial com Pequim. Ao mesmo tempo, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, muito anti-chinês, disse que o caso ainda está sendo analisado.

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