Acessar o conteúdo principal
Cabo Verde/Evento

Convenção em Cabo Verde sugere aliar esporte e turismo

O esporte pode ser um grande propulsor do desenvolvimento econômico e turístico, mas um grande evento desportivo deve ser fruto de uma estratégia global, que tenha o apoio das iniciativas pública e privada e conte com a mobilização e envolvimento da população local. Esta foi uma das conclusões da 8ª Convenção Internacional do Desporto em África (CISA, na sigla em francês) que foi realizada entre 1 e 3 de maio em Cabo Verde. O evento reuniu cerca de 150 participantes do continente africano e convidados da Ásia e Oriente Médio para discutir assuntos relacionados ao esporte e turismo, tema principal da convenção.

8ª Convenção Internacional do Desporto em África foi encerrada neste sábado (3), em Cabo Verde.
8ª Convenção Internacional do Desporto em África foi encerrada neste sábado (3), em Cabo Verde. RFI/Elcio Ramalho
Publicidade

Neste sábado (3), terceiro e último dia da convenção, especialistas em consultoria e organização de eventos esportivos destacaram alguns pontos considerados essenciais para que o continente africano consiga, através do esporte, explorar seu potencial econômico e melhorar sua visibilidade internacional.

William Louis-Marie, consultor esportivo, destacou que é preciso um planejamento criterioso antes de um país ou cidade pensar em acolher um evento. “Para atingir qualquer objetivo é preciso um planejamento prévio, é preciso envolver todos os membros e implicá-los no evento esportivo, que deve ser benéfico para todos”, destacou.

Segundo ele, antes de começar a construção de estádios e outras estruturas, é preciso saber se as obras vão mesmo integrar uma política esportiva aliando os setores público e o privado. Além disso, é preciso identificar quem vai se beneficiar com as construções e se elas irão garantir o bom funcionamento do evento. “Algumas perguntas devem ser feitas antes de um país ou uma cidade se lançar em uma candidatura para acolher um evento”, insiste o especialista.

“É preciso criar um modelo de negócios que justifique a construção como a de um estádio. Não é para ser construído apenas para um evento. É preciso projetar sua utilização para um prazo de 5 ou 10 anos”, afirma. “O papel do estado é construir a infraestrutura necessária, mas não de gerenciar um estádio”, acrescenta. “O setor privado na África atualmente ainda não está preparado para gerenciar uma estrutura como um estádio. Isso porque a rentabilidade ainda não é garantida”, garante.

Legado

Outro ponto destacado pelos especialistas foi a necessidade de refletir sobre o que um evento pode deixar para a população. “Os organizadores devem se indagar: o que vou deixar após o evento? O legado é importante”, destaca Yohan Blondel, doutor em história do esporte.

Ele citou as Olimpíadas de Londres como exemplo. Além de organizar atividades paralelas aos Jogos durante o evento para promover a cidade e divertir os turistas, os organizadores estabeleceram uma estratégia de longo prazo já que a capital inglesa programou eventos até 2019, como campeonatos mundiais de críquete e atletismo, o que ajuda a desenvolver estruturas e viabilizar investimentos.

Eventos menores e lucrativos

Para Jacques Danger, da empresa City Events, muitas cidades e países não precisam investir em eventos esportivos grandiosos. Segundo ele, há muitas opções de eventos de baixo custo que podem trazer muitos benefícios em termos de visibilidade e negócios.

“Não existem apenas eventos caros. Cito as maratonas, provas ciclísticas ou competições ligadas à água ou ao mar. São eventos que a gente aproveita a natureza, as estruturas já existentes e que podem mobilizar muitos espectadores”, garante.

“Neste evento, chegamos à conclusão de que para um país ou uma cidade, é fundamental que a população se envolva e que os moradores sejam os primeiros atores. É importante que o primeiro a se beneficiar do evento seja o morador local”, avalia.

Na Convenção, o representante do Conselho de Esportes de Dubai explicou a estratégia do país para atrair 20 milhões de turistas até 2020 e como o esporte pode desempenhar um papel importante para alavancar negócios e contribuir para uma maior visibilidade do país.

Ghazi Al Madani citou como exemplo o campeonato de badmington, programado no país para atrair visitantes da Ásia. “Investir em esporte é investir no futuro. O esporte atrai pessoas”, afirmou. As ambições de Dubai correspondem à capacidade de investimento do governo em obras e infraestruturas, o que não é o caso de muitos países africanos. Por isso, o sul-africano Sam Ramsamy, membro do Comitê Olímpico Internacional, fez um alerta.

Segundo ele, os países africanos devem começar com eventos pequenos e convencer seus governantes a investir em estruturas para satisfazer as necessidades dos esportistas. Elas devem também corresponder às expectativas dos turistas e a capacidade de mobilização da população local.

“Os países africanos já participam das federações internacionais de muitos esportes como futebol, atletismo, judô, caratê, entre outros. Mas devemos falar com nossos governantes para começar com pequenos eventos”, afirmou. E citou especificamente o caso dos anfitriões da Convenção. “No caso de Cabo Verde, por exemplo, eles podem começar organizando eventos com países da África Ocidental e depois para todo o continente africano. Este é o caminho, fazer as coisas passo a passo”, acrescentou Ramsamy.

Esportes radicais

Jacques Danger ressaltou que há muitos eventos esportivos que podem ser interessantes para as cidades se desenvolveram, sem a necessidade de criar estádios ou ginásios. Cabo Verde, segundo ele, pode desenvolver grandes eventos esportivos como surf e outras esportes ligados à natureza ou radicais. “Em Sochi, foram os esportes radicais que mais chamaram a atenção”, destacou Danger ao se referir às Olimpíadas de Inverno de 2014 na cidade russa.

A Convenção aconteceu na Ilha do Sal, a ilha mais turística do arquipélago de Cabo Verde, país que pretende fazer do esporte um fator de desenvolvimento econômico e de turismo. O prefeito da Câmara do Sal, Jorge Figueiredo, se referiu a muitos desafios do país para aproveitar suas riquezas naturais e fazer do esporte um fator importante do crescimento.

“Nós temos condições naturais necessárias para a prática de esportes náuticos, como o surf, que já nos colocou no circuito mundial. A canoagem e a natação podem ser outras alternativas de desenvolvimento. E além das competições, cada vez mais turistas pretendem aliar seu lazer com a prática dos esportes”, afirmou Figueiredo.

Esporte e mobilidade

Para José Rodrigo Bejarano, secretário-geral do Comitê Paralímpico africano, Cabo Verde também deve ter como perspectiva acolher eventos até para atletas turistas com mobilidade reduzida. “Um dos objetivos de qualquer cidade ou país que pretenda organizar competições, é garantir acessibilidade, para facilitar a mobilidade. Temos que realizar mudanças na infraestrutura, fazer adaptações e também capacitar pessoas da área de recursos humanos para melhor atendimento a pessoas com necessidades especiais. O país tem que ser sensível à inclusão”, afirmou.

A questão da mobilidade foi um dos assuntos que ganharam destaque na Convenção, que deveria reunir mais de 300 pessoas, o dobro do que o número dos participantes que realmente puderam se deslocar e comparecer ao evento.

“Gostaria que aqui na África nós refletíssemos sobre muitas questões. Para conjugar esportes e turismo, é preciso primeiramente conseguir viajar”, disse Diamil Faye, presidente da CISA. Ele lembrou que muitos conferencistas e participantes não puderam comparecer ao evento devido a inúmeros problemas como o transporte aéreo com Cabo Verde, onde os atrasos e cancelamento de voos são frequentes.

“Isso não favorece o desenvolvimento da indústria do turismo nem da indústria do esporte. E é preciso que o continente africano faça muitos esforços para melhorar a questão da mobilidade”, concluiu.

Ao final da CISA em Cabo Verde, foi anunciado o local da próxima Convenção. Em 2015 o encontro será realizado em Kigali, em Ruanda. Em 2016 será em Argel, na Argélia.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.