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Esporte em foco

Brasileiros do Shakhtar querem voltar a jogar no leste da Ucrânia

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Clube “mais verde-amarelo” da Europa, com uma legião atual de nove brasileiros no plantel, o ucraniano Shakthar Donetsk está a quase dois anos sem jogar no seu estádio devido a guerra no leste do país que opõe o exército aos rebeldes pró-russos. Para os jogadores, a situação gera muito desconforto porque além de mais deslocamentos para jogar e treinar, eles não atuam diante da torcida e tiveram que abrir mão das modernas instalações do clube.

Taison
Taison REUTERS/Benoit Tessier
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Desde que eclodiu a guerra, no início de 2014, os jogadores foram transferidos com seus familiares para a capital, Kiev. Apesar da segurança garantida pela direção do clube, os brasileiros lamentam não poder disputar jogos do campeonato local e das competições europeias no moderno estádio Donbass Arena.

“A situação que o clube está vivendo é difícil. Não jogar no nosso estádio, que era uma referência muito importante para a gente, é difícil. Sempre estamos viajando, não paramos em casa. Mas temos que levar assim, não podemos fugir disso. Já estamos dois anos jogando fora, já nos acostumamos”, diz Alex Teixeira, meia-atacante que está há seis anos no clube.

Alex Teixeira
Alex Teixeira RFI

Mais “velho” da atual geração de brasileiros, Alex confessa que acompanha de longe a situação política do país: “Os ucranianos com quem converso dizem que a situação está mais tranquila, mas não parou ainda. Não acompanho muito as notícias. Talvez no próximo ano a gente possa voltar a jogar no nosso estádio. Não viver lá, mas jogar e voltar”, diz esperançoso.

No site do clube, que tem uma versão em português para os fãs brasileiros, a última notícia sobre a Donbass Arena, publicada em outubro, informa que a suspeita de uma bomba no local não se confirmou. A estrutura serve atualmente como ponto de apoio para serviços humanitários.

O estádio, construído em 2009, é um dos mais modernos da Europa e foi projetado também para acolher os jogos da Eurocopa de 2012. Depois da eclosão da guerra, Donetsk, no leste do país, se tornou um dos principais palcos do conflito sangrento. O estádio foi alvo de ataques e chegou a ser incendiado.

Estadio do Shakhtyor
Estadio do Shakhtyor http://shakhtar.com

Distância da torcida atrapalha rendimento

Sem local fixo, o time se desloca entre Kiev e um centro de treinamento próximo da capital e disputa partidas do campeonato ucraniano e até da Liga dos campeões longe dos torcedores. “Pelo pouco que a gente ouve falar, a situação em Donetsk continua complicada. Lá tínhamos nosso centro de treinamento que era muito bom. Agora, em Kiev, estamos sempre fora de casa. Temos que jogar em um lugar, Livovo. Isso atrapalha muito, são muitas viagens, é cansativo. Mas é o que temos no momento. Temos que superar tudo isso e fazer o nosso melhor”, explica o lateral-esquerdo Ismaily.

“A situação da guerra dificultou a nossa situação porque não jogamos no nosso estádio, estamos longe da cidade”, acrescenta o meia Taison.

O atacante Bernard, que se diz em processo de adaptação depois de dois anos e meio no país, confirma que a instabilidade política é um fator de desestabilização também para os jogadores: “Atrapalhou um pouco no início, devido ao perigo iminente por causa do conflito no país. Mas o clube nos passou uma tranquilidade para que nós pudéssemos trabalhar”.

Ismayil
Ismayil RFI

O centro-avante Eduardo, brasileiro naturalizado croata, afirma que a distância dos torcedores tem afetado o desempenho da equipe e se reflete nos resultados. “Atrapalha muito, a começar pela própria torcida. Quando jogamos lá, sempre conseguíamos vitórias ou empates. Nesse momento, jogando fora, temos o apoio de alguns torcedores, mas não é a mesma coisa. Em Donetsk, tínhamos tudo, um dos melhores centros de treinamento da Europa. Estava tudo certinho”, conta.

Segundo Eduardo, por causa da crise política, o futebol passou a segundo plano mesmo para os fanáticos pelo esporte. ”O futebol está sendo a segunda opção. O povo está sofrendo financeiramente por causa da guerra que teve e continua. As pessoas esqueceram um pouco do futebol, estão pensando na família, nas necessidades básicas”, afirma.

“Estamos jogando apenas em estádios vazios. Ninguém se interessa muito pelo futebol no momento. Nós, jogadores, e os clubes estamos tentando dar um pouco de alegria ao povo ucraniano”, completa.

Campeonato com pouca visibilidade mas funciona como vitrine

Além da adaptação a uma situação política conturbada, os brasileiros também são confrontados à baixa qualidade técnica observada no futebol ucraniano. O nível do campeonato é fraco e a competitividade é restrita, principalmente quando comparado com outros da Europa.

“O campeonato ucraniano tem um nível abaixo do esperado. Tem apenas duas equipes fortes que é o Shakhtar e o Dínamo de Kiev, mas está crescendo. Serve como trampolim”, diz o ex-corinthiano Dentinho, que chegou ao país. “O futebol ucraniano não é tão visto. É mais fraco em relação aos outros. Pode perceber que o nosso time perde o rendimento na segunda etapa”, explica Alex Teixeira, em referência ao jogo da última rodada da Liga dos Campeões, perdido para o PSG por 2 a 0.

“É um país que não tem tanta visibilidade. O campeonato não tem muita qualidade, mas serve de escola, para a gente se adaptar. Dentro dessas dificuldades a gente consegue tirar situações positivas para que a gente possa aprender como é o futebol europeu”, avalia Bernard.

Fred
Fred REUTERS/Gonzalo Fuentes

Como líder do campeonato ucraniano, o Shakhtar Donetsk tem presença garantida na Liga dos Campeões da europa, a competição interclubes mais importante do continente e que já funcionou como vitrine para muitos brasileiros.

A atual legião de brasileiros se inspira em vários exemplos: Fernandinho , que atuou pelo clube entre 2005 e 2013 joga hoje no Manchester City, Willian também foi transferido para o futebol inglês, para vestir a camisa do Chelsea, e mais recentemente Douglas Costa, comprado pelo Bayern de Munique por € 30 milhões.

“Estou em um período muito bom. Cheguei aqui com 19 anos, estou com 25. Muitos jogadores já saíram como Douglas Costa, Fernandinho e o Willian. O próximo pode ser eu. Tenho mais dois anos de contrato, e continua sendo uma grande vitrine para o futebol europeu”, completa Alex Teixeira.
 

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