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Rio 2016/Futebol

“Futebol brasileiro não está morto”, diz treinador da seleção olímpica

Uma sensação de alívio e euforia, misturada com ressentimento e confiança no futuro do futebol brasileiro. As diversas reações dos jogadores e do técnico Rogério Micale após a conquista inédita do ouro na Olimpíada mostraram que no grupo havia muito orgulho e também vontade de dar uma resposta aos críticos da equipe e do atual momento do futebol brasileiro.

Brasil foi campeão depois de vencer a Alemanha nos pênaltis.
Brasil foi campeão depois de vencer a Alemanha nos pênaltis. REUTERS/Yves Herman
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Do enviado especial ao Rio de Janeiro,

A celebração em campo foi emocionante, assim como a subida no lugar mais alto do pódio, testemunhada por mais de 75 mil pessoas no Maracanã e outros milhões de brasileiros que torceram em casa. O público já havia deixado o estádio quando os jogadores e a comissão técnica voltaram ao gramado, para, em círculo, fazerem uma última celebração coletiva pela conquista de um título tão desejado e duramente conquistado.

Na saída do campo, o treinador Rogério Micale exibia muita satisfação e elogiou o comportamento do elenco.“Trabalhei com um grupo maravilhoso, que deu resposta a todo momento, com uma responsabilidade imensa. Por tudo o que a história nos mostrava, que não tínhamos essa medalha. Saio com o sentimento de estar realizado, muito satisfeito, e ter proporcionado ao torcedor brasileiro esse momento de alegria”, declarou.

Depois de um início hesitante, com dois empates sem gols contra as seleções da África do Sul e do Iraque, a equipe de Micale foi alvo de críticas pesadas e motivo de desconfiança por parte dos torcedores e da imprensa sobre a qualidade do futebol brasileiro, que vive um momento delicado também nas eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia.

Renato Augusto, um dos melhores em campo na final, e um dos três jogadores, com Neymar e Weverton, acima dos 23 anos, destacou a dedicação coletiva da seleção. “A gente começou a pensar coletivo, lutar coletivo, e o individualismo ficou para segundo plano. A mão do Micale funcionou”, avaliou ao final da partida contra a Alemanha.

“Meu trabalho também era dentro de campo, como um dos maiores de 23 (anos). Acho que consegui corresponder ao que o Micale queria”, declarou, em referência ao treinador da seleção. “Temos que ressaltar a qualidade defensiva da nossa equipe, que só tomou um gol em seis jogos da competição. Essa geração, que muitos não acreditavam, que xingaram, falaram mal da gente, tem que entender que somos campeões olímpicos, conseguiu o que ninguém havia conseguido e agora entramos para a história”, completou.

Jogadores comemoram conquista no gramado do Maracanã.
Jogadores comemoram conquista no gramado do Maracanã. Foto:REUTERS

O zagueiro Marquinhos comentou o momento crítico da equipe e o trabalho para ganhar confiança para chegar à final. “Depois de tantas críticas, de tantos resultados que não vieram a nosso favor, a gente criou desconfiança e dúvidas, mas o professor (Micale) nos fez acreditar no trabalho que vinha sendo feito, nos deixou orgulhosos de nós mesmos, nos fortaleceu e buscamos dar a resposta dentro de campo”, afirmou.

O atacante Felipe Anderson, que entrou no segundo e desperdiçou oportunidades de marcar ainda durante a prorrogação do jogo, resumiu o sentimento dos jogadores ao erguerem a medalha de ouro. “A palavra que melhor descreve é orgulho, e orgulho também dos companheiros. Mesmo quando não vencemos os dois primeiros jogos, eu sabia que em alguma hora iria deslanchar o time. Todo mundo aqui foi muito humilde, trabalhou muito, todo dia só pensava em estar bem para o jogo. Era muito difícil tirar essa medalha da gente”, declarou.

"Engolir" Neymar

Neymar, capitão e um dos melhores em campo na final, além de cobrar o pênalti do título, desabafou de maneira ainda mais contundente sobre as críticas que a seleção e ele sofreram. Em entrevista à Rede Globo, ele disparou: ”Agora vão ter que me engolir”. A frase foi dita inicialmente pelo ex-treinador Zagallo, que fez a declaração em 1997, após a conqusita da Copa América. Na época, seu trabalho era contestado pela torcida.

Mais tarde, durante entrevista coletiva, Rogério Micale não fez comentários sobre o assunto que agitou as redes sociais, mas preferiu destacar a integridade e importância de Neymar para o grupo durante toda a fase de preparação e durante a competição. Revelou ter decidido que o camisa 10 seria o técnico desde o início e comentou a decisão do atacante de não ser mais o capitão da equipe principal, que será treinada por Tite.

“Acho um gesto nobre dele, deixar o treinador Tite à vontade para escolher o capitão da equipe. Saio dessa competição com as melhores impressões sobre ele e sobre todos da equipe. Mais uma vez ele tem demonstrado maturidade em relação às atitudes dele. Na seleção, ele se mostrou um líder”, disse.

O treinador Rogério Micale abraçado com Neymar e Gabriel Jesus.
O treinador Rogério Micale abraçado com Neymar e Gabriel Jesus. REUTERS/Bruno Kelly

Resgate da autoestima

Apesar de negar as comparações com o confronto das duas seleções durante a Copa do Mundo, quando o Brasil foi humilhado por 7 a 1, Micale admitiu que o resultado deste sábado, tem um significado importante para os torcedores: “Nosso sentimento era de que precisávamos dar uma resposta ao nosso povo. Nós, do meio do futebol, o que poderíamos fazer algo diferente. Isso não queria dizer somente ganhar, mas competência dentro de campo. Conseguimos dar uma resposta boa com pouco tempo de trabalho”, estimou.

Para Micale, a medalha de ouro inédita vai representar um resgate da autoestima do brasileiro com o esporte mais popular do país.“Eu espero que sim. Nós tínhamos um anseio de muito tempo. É uma responsabilidade que todo time olímpico carregava. Eu acredito que é uma fase que passou e, agora, para o futuro, vamos ter maior tranquilidade para lidar com essa situação”, declarou.

“É, sim, motivo de orgulho. Nosso futebol não está morto. Acredito no potencial de nossos jogadores e temos ainda muito a oferecer ao futebol mundial”, concluiu.
 

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