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Esporte em foco

Paralimpíadas vão deixar legado para o esporte e a sociedade, dizem para-atletas e treinadores

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Além do desafio de organizar um evento inesquecível, que começou com uma bela e emocionante festa de abertura no Maracanã, o Brasil também estabeleceu uma meta ambiciosa para as Paralimpíadas do Rio de Janeiro: ficar entre as cinco maiores potências esportivas do planeta e melhorar o desempenho de Londres, quando ficou na sétima colocação.

Equipe masculina de goalball do Brasil.
Equipe masculina de goalball do Brasil. REUTERS/Ricardo Moraes
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Enviado especial da RFI ao Rio de Janeiro,

Mais do que o desafio esportivo, os Jogos representam uma nova etapa no desenvolvimento do esporte adaptado no Brasil e deixa também como legado uma maior visibilidade dos para-atletas, além de lançar uma discussão sobre a inclusão social de pessoas com deficiências no país. Esta é a opinião de atletas e treinadores presentes no Rio ouvidos pela RFI Brasil.

Os primeiros dias de competição, com medalhas no atletismo e na natação, indicam que o objetivo do país no quadro de medalhas pode ser alcançado.

Daniel Dias, maior nome da história da natação paraolímpica brasileira, diz ter consciência de que pode contribuir para o país atingiu seu objetivo. “Fico feliz de fazer parte disso. Sei de minha responsabilidade, assim como os atletas que estão caindo na piscina e querem dar o seu melhor e querem dar sua parcela de contribuição”, afirmou após receber sua medalha de ouro nos 100m livre, a 16ª da sua carreira.

Daniel saiu da piscina como o primeiro nadador brasileiro a levantar uma medalha do Parque Aquático do Rio. Feito histórico para um atleta que certamente vai inspirar muitas outras gerações. Nome conhecido do grande público, Daniel acredita que os Jogos serão um marco para o país. “Não só em relação ao esporte, mas também aos direitos das pessoas com deficiência. A gente fala tanto em inclusão e devemos apenas conquistar o nosso espaço. Essa é a grande mensagem”, afirmou.

Espaço que a atleta Terezinha Guilhermina ajudou a conquistar. Desta vez, ela não subiu ao pódio, mas nem por isso deixa de contribuir para o desejo de uma sociedade mais aberta aos deficientes depois dos Jogos. “O legado vai ser uma sociedade mais inclusiva. Temos a necessidade de uma mudança de infraestrutura para que a inclusão aconteça de fato. Em nem todos os lugares um cadeirante pode entrar. Nem todos os deficientes visuais podem circular em diversas cidades do Brasil. Espero que com essas Paralimpíadas, a gente consiga mudar isso”, afirmou.

Clodoaldo Silva, Joana Maria Silva, Susana Ribeiro e Daniel Dias exibem exibem medalhas conquistadas na Rio 2016.
Clodoaldo Silva, Joana Maria Silva, Susana Ribeiro e Daniel Dias exibem exibem medalhas conquistadas na Rio 2016.

Para Ana Aurélia, do basquete em cadeiras de rodas, as Paralimpíadas vão também despertar nos brasileiros o interesse em conhecer muitos outros para-atletas. “ Os Jogos vão mostrar muitos atletas que as pessoas não conheciam. Esse vai ser o diferencial. A oportunidade de mostrar tudo o que tem e o que mais virá por aí. Essa é a porta que abre o caminho para muita gente. O Brasil está vendo que existe muito para-atletas e outros estão vindo”, diz.

Medalha de prata nos 100 metros categoria T35, Fabio da Silva Bordignon chegou à conquista sem ajuda de patrocínio. Ele espera que a competição possa representar novas oportunidades para os que investirem na carreira esportiva. “É bom as Paralimpíadas acontecerem aqui no Brasil para a pessoas conhecerem os esportes paralímpicos. Estamos provando que eles existem, afirmou. “Nós esperamos mais valorização. Que haja mais investimentos por parte das pessoas que podem investir em atletas de alto rendimento”.

Entre os esportes que milhares de brasileiros estão descobrindo nas Arenas do Parque Olímpico ou pela televisão está o goalball, única modalidade exclusiva paraolímpica criada para deficientes visuais.

Leomon Moreno é um dos destaques da equipe e acredita na valorização não apenas de sua modalidade mas também dos atletas de um modo geral. “Com certeza as Paralimpíadas vão deixar um legado para mostrar que os atletas não são só pessoas com deficiências. Somos atletas de alto nível, treinamos todos os dias. Não deixamos nada a desejamos e nos esforçamos pelo nosso país”, afirmou.

Treinador da seleção feminina de goalball, Daílton Freitas explica que o goalball, já bastante incentivado pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro e pela Confederação de Esportes para Deficientes Visuais, tende a crescer ainda mais cresce com as Paralimpíadas.

“O legado vai ser o conhecimento. Se já tínhamos uma valorização, será muito maior. As crianças, as escolas, os profissionais, toda uma estrutura administrativa entenda que a potencialidade de um atleta paralímpico é sem limite”, diz. “Eu não consigo ver mais um atleta cego ou um atleta deficiente na quadra. É um atleta. A conduta, a forma de trabalhar, eu trabalho com um atleta. A deficiência fica em segundo plano. São grandes atletas e com grandes potenciais”, acrescenta.

Alessandro Tozin, treinador da equipe masculina de goalball desde 2009, observa: “Muitas pessoas ainda veem os deficientes com um olhar do “coitadinho” e não conseguem vê-los como atletas, o que eles realmente são. Eles treinam em média quatro horas por dia. Quantas pessoas em uma sociedade conseguem fazer isso?, questiona.

“O maior legado desses Jogos é que as pessoas vão olhar mais as pessoas com deficiência como se verdadeiros atletas e de altíssima performance”, afirma Alessandro Tozin, que desde 2009 comanda a seleção brasileira masculina de goalball.

Verônica Hipolito, 20 anos, medalha de prata no atletismo na Rio 2016, é da geração de atletas que cresceu tendo como ídolos para-atletas brasileiros. Ela vê o evento no Rio de Janeiro como um divisor de águas para o país.

“Espero que esses Jogos possam significar o pré e o pós Rio 2016. Que no pré-Rio, fiquem os preconceitos, as discriminações. E que no pós-Rio as pessoas queiram entender mais, compreender mais. Que não tenha só lotação de estádio aqui, mas nas próximas competições também. Que tenhamos mais incentivos, se leve para as escolas”, afirma. “Alto rendimento começa na base, na idade escolar. Eu espero sair daqui e falar: eu ajudei a contribuir para isso. E acho que vai dar certo”, afirma.
 

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