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Esporte em foco

Africanos criam Futebol Maracana, inspirado no estádio mítico do Rio de Janeiro

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Neste final de semana é realizada a 5ª edição da Copa Africana de Futebol Maracana, uma prática desportiva derivada do esporte mais popular do planeta e que teve o nome inspirado no estádio mundialmente conhecido do Rio de Janeiro.

O Futebol Maracana se tornou muito popular na região ocidental da África.
O Futebol Maracana se tornou muito popular na região ocidental da África. Foto: Annie Gasnier/RFI
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No principal ginásio esportivo de Ougadugu, capital do Burkina Faso, a Ocidental da África. Equipes de nove países entre eles Gabão, Nigéria, Burkina Faso, Níger, Costa do Marfim, Benin e Togo, disputam o troféu de um esporte que como o próprio nome indica, tem origem no mítico Maracanã.

A modalidade nem é tão nova, surgiu nos anos 1970, na Costa do Marfim. Na época, o chefe de Estado da Costa do Marfim, Félix Houphouët-Boigny, motivavam os melhores estudantes do país oferecendo viagens ao destino preferido deles, o Brasil.

“Os apaixonados por futebol, e os melhores estudantes dos anos 1973 e 1974 foram ao Rio de Janeiro e lá descobriram o estádio mítico do Maracanã”, lembrou Bleu Charlemagne, presidente da Federação Internacional Futebol Maracanã, durante entrevista ao programa Radio Foot Internacional, da jornalista Annie Gasnier.

“Nos arredores do estádio, os estudantes viram que nas favelas brasileiras, se jogava futebol como nas cidades do Mali, da Costa do marfim, do Burkina Faso e em muitos outros lugares. A prática era igual. E na volta ao campus universitário de Cocody (Abdijan) para marcar a diferença dos que não tiveram a mesma oportunidade, que além de não serem os melhores alunos não tiveram a chance de passar 45 dias no Brasil, eles denominaram o esporte que estavam praticando, futebol Maracanã”, lembrou.

Com origem no futebol de rua, o Futebol Maracana (sem o til), ganhou regras e características próprias: é disputado em uma quadra parecida com a de handebol, mas com outras dimensões: um retângulo de 22 metros por 44 metros. São seis jogadores para cada lado, e não tem goleiro. As dimensões do gol são de dois metros de altura por três de largura e há três tipos de cartões: o amarelo e o vermelho, como no futebol e o azul, para punir as faltas mais graves, que viram pênaltis.

Partida entre o Mali e a Costa do Marfim pela Copa Africana de Nações disputada em Uagadugu, capital do Burkina Faso.
Partida entre o Mali e a Costa do Marfim pela Copa Africana de Nações disputada em Uagadugu, capital do Burkina Faso. Foto: Annie Gasnier/RFI

O tempo de partida também é curto, dois tempos de dez minutos, com um breve intervalo.“A velocidade é incrível e a técnica também. Eles não querem goleiro, porque afinal de contas, ninguém quer ser goleiro no futebol”, brinca Annie Gasnier, que acompanha a Copa Africana de Nações em Uagadugu. “Tem poucos gols porque, primeiramente, o lugar de fazer gol é mais estreito e sempre tem um zagueiro cuidando do gol. Ele pode parar a bola com os pés e o corpo, mas nunca com a mão”, explica.

O Futebol Maracana tem quatro categorias:  Jovens, entre 0 a 17 anos, Open, de 18 a 34,  Sênior de 35 a 45 anos, e Veteranos, a partir de 45 anos. Apenas essas duas últimas disputam a Copa Africana de Nações.

“Esse esporte foi criado como uma saída para os veteranos e da categoria sênior, acima de 35 anos. Na África há muitos jogadores de nível internacional, que participaram da Copa Africana e até da Copa do Mundo de futebol e que agora praticam esse esporte. É muito mais fácil achar seis jogadores para fazer uma partida do que 11 para completar um time inteiro de futebol”, conta Annie Gasnier.

Bleu Charlemagne, acredita que o Futebol Maracanã tem futuro: “Nós somos o parceiro certo para o futebol. Depois dos 30 anos de idade, um jogador de futebol é mandado para a aposentadoria. E aí, o Futebol Maracana resgata esses atletas de alto nível, por isso é um complemento importante para o futebol (de campo)”.

Bleu Charlemagne (à esq.), presidente da Federação Internacional de Futebol Maracana.
Bleu Charlemagne (à esq.), presidente da Federação Internacional de Futebol Maracana. Foto: Annie Gasnier/RFI

Fraternidade está entre os lemas do novo esporte

Vice-presidente da Federação Internacional do Futebol Maracanã, Mamadou Dipa Fané, do Mali, destaca outras virtudes do esporte. “O fato de se encontrar, é um aspecto interessante. O lema do futebol Maracanã é a convivialidade, a fraternidade e a amizade. Precisamos disso no nosso país, que tem ainda muitas dificuldades. Promover um esporte como esse, permite unir as pessoas, dialogar, levar a solidariedade, não há nada melhor”, defende.

Na Costa do Marfim, onde o esporte surgiu e é mais desenvolvido, a Federação Maracana local passou de 32 clubes em 2010 para 173 este ano, com cerca de 15 mil atletas filiados.

Entre os atletas amadores, as estatísticas indicam que a evolução foi de 300 mil no início de 2010 para mais de 4 milhões em 2016. No Mali, que entrou no ano passado na Federação Internacional, já são 32 clubes. Em quatro anos, no Benin, o número de clubes passou de zero a 62.

“Em muitos países, há tantos praticantes eventuais quanto atletas filiados às federações nacionais. Por isso, considero um verdadeiro fenômeno”, diz Charlemagne.

No Mali, por exemplo, devido à falta de insfraestrutura, os jogos são realizados em quadras de handebol, mas as dimensões são diferentes. Uma empresa sueca já patrocinou duas quadras sintéticas com as dimensões regulamentares. O Canadá já se candidatou par sediar o evento em 2020 e para isso pretende construir estádios.

A Federação ainda não é reconhecida pela FIFA, mas o Futebol Maracanã pretende se expandir para fora das fronteiras da Africa. Na Europa, a França já tem clubes em pelo menos três cidades, Paris, Toulouse e Bordeaux. O Canadá, que disputa a Copa Africana de Nações em Uagadugu como convidado, mostrou interesse em sediar uma competição internacional em 2020.

Mamadou Dipa Fané, vice-presidente da Federação Internacional de Futebol Maracana.
Mamadou Dipa Fané, vice-presidente da Federação Internacional de Futebol Maracana. Foto: Annie Gasnier/RFI

”O presidente Bleu Charlemagne tem muito carisma e está trabalhando muito na divulgação do esporte. Ele já foi a vários países do norte da Europa como Suécia e Noruega, onde foi muito bem recebido. Nesses países há muitos ginásios para esportes indoor e eles querem aproveitar. Há boas perspectivas”, afirma Annie Gasnier.

No entanto, segundo ela, o sonho do presidente do Futebol Maracanã, é que um dia conquiste o Brasil, país na origem e na marca desse esporte.

“O Brasil e a seleção de futebol são muito populares na África. Começou nos anos 60 quando o Santos de Pelé vinha jogar no continente e isso deixou lembranças muito fortes. O presidente Charlemagne me disse que sonha em ser recebido no Brasil para explicar como eles estão tentando expandir esse tipo de jogo muito elegante, muito leve”, conclui.

 

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