Acessar o conteúdo principal
Esporte em foco

“Racismo nunca vai acabar”, diz jogador brasileiro insultado na Sérvia

Publicado em:

Vítima de insultos racistas durante um jogo pelo campeonato sérvio de futebol, o jogador Everton Luiz do Partizan Belgrado acredita que o fenômeno nunca será ser erradicado e acha que seu caso será esquecido.

A foto de Everton Luiz (e) saindo do campo aos prantos deu ao volta ao mundo
A foto de Everton Luiz (e) saindo do campo aos prantos deu ao volta ao mundo REUTERS/Miroslav Todorovic
Publicidade

Everton esteve em campo no último domingo (20) durante o confronto entre sua equipe, o Partizan Belgrado, e o RAD. Durante a partida, disputada na casa do adversário, ele diz ter sido alvo constante de insultos por parte de um grupo de torcedores. “Toda vez que eu pegava na bola, ouvia gritos imitando macacos. Sabia que era para mim. Quando chegava mais perto do gol, onde estava a torcida, os gritos eram mais altos”, relatou Everton, em entrevista exclusiva à Rádio França Internacional.

Ao final da partida, vencida pelo Partizan Belgrado por 1 a 0, Everton Luiz se dirigiu aos torcedores e mostrou o dedo médio levantado. O gesto levou os torcedores do RAD a proferir mais insultos das arquibancadas, e dentro do gramado os jogadores das duas equipes se enfrentaram, gerando mais tumulto.

As cenas do brasileiro saindo de campo chorando e sendo consolado por seus companheiros de equipe deram a volta ao mundo e viralizaram na internet. “Eu chorei de raiva porque depois os jogadores deles (do RAD) vieram para cima de mim. Foi um choro de raiva”, explicou.

Everton levou um cartão amarelo pelo gesto obsceno. Na entrevista exclusiva à RFI Brasil, ele admitiu ter se arrependido da forma como reagiu contra os torcedores que o insultaram, mas justificou sua atitude como um desabafo: “Eu aguentei durante o jogo inteiro e acabei explodindo. Fiquei muito triste. Com a cabeça quente, acabei fazendo aquele gesto obsceno. Acho que não deveria ter feito aquilo. Deveria ter me controlado mais, não ter feito aquele gesto e reclamado com alguém para que fossem tomadas providências”.

Everton, de 28 anos, começou sua carreira no Brasil onde passou por clubes como o Bragantino, a equipe B do Palmeiras e o Criciúma. Já jogou nos gramados do México e dois anos na Suíça antes de desembarcar no futebol sérvio para jogar por um dos principais times do país.

O jogo de domingo passado ficará marcado como o primeiro em que foi alvo de insultos por ser negro. “Nunca tinha passado por isso. Já joguei no México, na Suíça, e até quando cheguei aqui não tinha acontecido isso, nem dentro nem fora de campo”, relata. 

Polêmica com o treinador

Everton Luiz teve a solidariedade de seus companheiros e da direção do clube, que emitiu na segunda-feira (21) uma nota de repúdio para condenar o comportamento de parte da torcida adversária. O estádio do RAD, onde foi realizada a partida, ficará fechado temporariamente até a Comissão de Disciplina da Liga de futebol da Sérvia analisar o caso.

O treinador do Partizan Belgrado, o sérvio Marko Nikolić, que já chamou de “negros idiotas" jogadores de uma outra equipe que comandou, surpreendeu mais uma vez ao defender uma punição também para o jogador brasileiro, por sua implicação no incidente. Everton Luiz diz ter tomado conhecimento do comentário apenas pela imprensa. “Ele teve uma conversa comigo, disse que estava me apoiando. Em uma entrevista ele teria dito que eu também deveria ser punido. Não fiquei sabendo de nada por ele. Não sei se ele realmente falou isso. Para mim, não falou nada”, afirmou.

Combate contra o racismo

O gaúcho lamenta ter aparecido na mídia no centro de uma polêmica envolvendo um tema que as repetidas campanhas e punições aos torcedores e clubes não conseguem erradicar: o racismo no futebol. “Não vai acabar nunca. Daqui a pouco passa, acontece em outro lugar e todo mundo esquece e assim vai continuar. A gente espera que isso acabe, mas está difícil. Tem no Brasil e em tudo quanto é lugar, e não sei o que deve ser feito para acabar”, lamentou.

Everton Luiz, que chegou em janeiro de 2016 ao Partizan Belgrado, tem ainda dois anos de contrato para cumprir com o clube que é o atual vice-líder do campeonato sérvio. Apesar do incidente, ele diz estar feliz no país onde vive com a mulher e dois filhos e pretende continuar defendendo o time até surgir uma nova oportunidade.

“Já esqueci o que aconteceu. O clube gosta de mim, os torcedores também e estou feliz aqui. Tenho contrato por mais dois anos, mas não sei o que pode acontecer. Espero cumprir meu contrato. O pensamento é agora, que é focar no final do campeonato. Depois, se tiver uma proposta, vamos ver o que pode acontecer”, concluiu.
 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.