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Quem disse que brasileiros não torcem pela Argentina?

Era a última chance para a Argentina e, finalmente, apareceu o futebol de Lionel Messi na seleção. Com ele, o grito entalado de um gol argentino saiu. Aliás, saiu três vezes para carimbar o passaporte da seleção azul celeste e branco à Rússia. Argentinos respiram aliviados com a classificação que contou com apoio da torcida brasileira em Buenos Aires

O argentino Lionel Messi celebra seu terceiro gol, em 10 de outubro de 2017 em Quito.
O argentino Lionel Messi celebra seu terceiro gol, em 10 de outubro de 2017 em Quito. Fuente: Reuters/Henry Romero
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Márcio Resende, correspondente em Buenos Aires

Da ameaça trágica da eliminação à glória da classificação, estes 90 minutos mudaram a cara do país. "A sensação é de alívio. Era lógico que um dos melhores jogadores do mundo entrasse na Copa, né?", pergunta retoricamente o advogado argentino, Fernando Bejar (48), em referência ao jogador responsável pela classificação argentina.

Se a vitória brasileira foi comandada por Jesus, a argentina foi por Messi, o messias dos argentinos. "Foi uma partida histórica na carreira dele", concorda Bejar, que, no entanto, vê o Brasil como o campeão na Rússia, superando o vexame de 2014.

"Apesar de ser argentino e de querer que a minha seleção seja a campeã, o meu palpite objetivo é que o Brasil, se superar alguns obstáculos, será campeão do mundo. O jogo brasileiro está muito sólido. O melhor futebol das Américas hoje está no Brasil", aposta.

"A Argentina começa um processo novo, com um treinador novo que não definiu nem o sistema de jogo nem o time", explica. "A Argentina começa um trabalho quando deveria estar consolidando, como é o caso da seleção brasileira", compara.

Sentimentos contraditórios

Se pode surpreender um torcedor argentino exaltando a seleção brasileira, algo mágico aconteceu entre cerca de 200 torcedores argentinos e brasileiros reunidos no restaurante Gambino, o ponto mais frequentado pelos brasileiros em Buenos Aires. Ambos saíram vitoriosos na mesma noite e ganharam o mesmo prêmio. A famosa rivalidade passou de longe.

"Estou feliz com o resultado da Argentina", afirma o brasileiro Paulo Dyniewicz (29), estudante de medicina, há oito anos em Buenos Aires.

"Do ponto de vista do futebol, a Argentina não merecia ficar de fora, sendo uma das melhores do ranking da FIFA. A seleção argentina eleva o padrão da Copa do Mundo", indica. "Já do ponto de vista pessoal, a Argentina me proporcionou o estudo que não pude ter no Brasil. Fui sempre muito bem tratado e só tenho a agradecer", completa.

Mas as coisas não eram bem assim há oito anos em Irati, no Paraná. "Antes de vir morar aqui, a rivalidade sempre existiu. Torcia contra a Argentina até que eu conheci o país. As coisas mudaram", recorda.

A fotógrafa carioca Adriana Carolina Iwanczuk (38), filha de argentinos, há nove anos no país, é outra para quem a famosa rivalidade entre Brasil e Argentina é algo abstrato.

"Eu torço para o Brasil. Se a Argentina jogar contra outros países, eu torço para a Argentina. Se a Argentina jogar contra o Brasil, eu torço para o Brasil. Mas se a Argentina ganhar, eu também não fico triste. Eu me sinto duplamente vitoriosa", explica entre risos.

"Acho que todos os brasileiros aqui em Buenos Aires, mesmo os que torceram contra a Argentina, ficaram felizes, porque foi emocionante", acredita.

Mas eis que surgem os primeiros vestígios de rivalidade. "Para o futebol, é bom eles irem, mas seria melhor se eles não fossem", diz o brasileiro Gustavo Boing (22), estudante de medicina em Buenos Aires.

"Eu gostaria que a Argentina se classificasse porque vamos ter o Messi e teremos uma Copa mais disputada, mas gostaria que não se classificassem para os argentinos pararem de zoar com o '7 a 1' e para termos algo para zoar contra eles", admite. "Tive sentimentos contraditórios", sintetiza.

Enquanto isso, pela Argentina, a angústia de um país dava lugar a uma explosão de alegria. Em Buenos Aires, centenas de pessoas seguiam ao Obelisco da Avenida 9 de Julho para a tradicional comemoração de vitória.

Aos poucos, tudo voltava ao normal. E os argentinos retomavam a divertida e irritante canção "Brasil, decime qué se siente".

Pronto, a Copa já pode começar.

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