Papa discorda da Turquia e afirma que massacres dos cristãos armênios foi genocídio
Em sua tradicional missa dominical na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o papa Francisco lembrou hoje o 100º aniversário do massacre do povo armênio. O líder da Igreja Católica utilizou o termo "genocídio" para se referir aos ataques cometidos pelos turcos que quase exterminaram os armênios entre 1915 e 1917. A Turquia admite que muitos cristãos armênios morreram durante o conflito, mas nega a existência de um genocídio.
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Durante a missa, o papa Francisco disse que a humanidade vivenciou no século passado três grandes tragédias. "O massacre da população cristã armênia foi o primeiro genocídio do século XX", afirmou. Francisco recordou a "matança sem sentido" de mais de um milhão de armênios no final do Império Turco-Otomano. Na época, em plena Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os turcos, aliados dos alemães, lutavam contra a Tríplice Entente, formada pela Inglaterra, França e Rússia, e acusaram os armênios de apoiar as tropas inimigas.
Em seguida, o papa citou as outras duas tragédias que marcaram o século passado, o nazismo e o stalinismo, sem esquecer de citar extermínios mais recentes, como os do Cambodja, de Ruanda, do Burundi e da Bósnia.
O papa também falou sobre as perseguições e crimes cometidos atualmente contra os cristãos, evocando uma "terceira guerra mundial combatida aos pedaços".
João Paulo 2° criou precedente
Esta não foi a primeira vez que um papa usou o termo "genocídio" em relação ao conflito armênio. Durante o pontificado de João Paulo 2°, quando o argentino Jorge Bergolio ainda era um cardeal, um documento da Igreja citou a exterminação dos cristãos armênios. Em conversas privadas, autoridades da Igreja também evocaram os massacres. A novidade é que nenhum papa, antes de Francisco, havia empregado publicamente o termo genocídio.
O papa Francisco corre o risco de entrar em conflito com Ancara. A Turquia considera esse período como uma guerra civil, na qual morreram entre 300 mil e 500 mil armênios e outros tantos turcos.
Os armênios estimam que 1,5 milhão deles foram mortos entre 1915 e 1917. Hoje, mais de vinte países, incluindo França, Itália e Rússia, reconhecem o genocídio armênio, em função do trabalho de muitos historiadores.
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