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Linha Direta

Na Espanha, prefeitos de extrema-esquerda tomam posse cortando próprios salários

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Uma nova era política tem início nesta segunda-feira (15) na Espanha. É o primeiro dia de trabalho para prefeitos de 8.122 municípios do país. Eles tomaram posse no fim de semana após as eleições regionais do mês passado, marcadas pelo êxito de novos partidos e o fracasso dos tradicionais. Oito das 10 maiores cidades serão agora governadas pela esquerda radical ou por plataformas cidadãs, com promessas como eletricidade grátis, redistribuir a riqueza e frear os programas de austeridade.

A nova prefeita de Madri, Manuela Carmena.
A nova prefeita de Madri, Manuela Carmena. Reuters
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Luisa Belchior, correspondente da RFI em Madri.

Em Madri há uma mudança radical sobretudo porque o Partido Popular, a sigla conservadora do primeiro-ministro Mariano Rajoy, deixa o governo após 24 anos à frente da capital. Quem entra é Manuela Carmena, uma juíza aposentada de 71 anos com uma longa luta contra despejos de pessoas que não conseguem pagar hipotecas. Carmena já anunciou que vai garantir moradia às famílias despejadas pelos bancos que provem não ter renda. Também dará refeições grátis a todas as crianças de 0 a 13 anos de baixa renda.

Na estrutura do governo, vai cortar pela metade o seu próprio salário, que passará de € 94 mil para € 45 mil euros anuais, e o de secretários e altos cargos. Líder de uma plataforma cidadã ligada ao Podemos, a ex-juíza também prometeu dialogar com todos os partidos e não só com os de extrema-esquerda.

Em Barcelona quem assume é a ativista política Ada Colau, de 41 anos. Ela é líder de um movimento que impediu centenas de execuções de ordens de despejo na cidade, chegando a ser presa por isso. Colau apresentou no fim de semana um plano de choque para reduzir a desigualdade social na capital catalã.

Usará € 25 milhões para garantir renda mínima de € 600 a todas as famílias. Também vai reduzir seu salário para € 2.200. Ela também declarou guerra ao turismo de massas da cidade e promete frear a construção de novos hotéis.

Em Valência, a terceira maior cidade espanhola, a mudança foi drástica. O Podemos, partido de extrema-esquerda que surgiu há pouco mais de um ano e já é o favorito nas eleições gerais, conquistou a prefeitura e, com isso, tira do posto a prefeita do PP que governou sozinha e em maioria absoluta por 24 anos. O novo prefeito declarou guerra às grandes construções a mega empreendimentos, que viraram a marca da cidade.

Temor no meio empresarial

Também se destaca a nova prefeitura de Cádiz, no extremo sul da Espanha. A cidade, também em mãos do PP por duas décadas, passa agora o comando a um professor de geografia de 39 anos, um dos mais jovens prefeitos, também do Podemos. Ele garantiu dar luz e água grátis a todas as casas de Cádiz e manterá o seu salário de professor, de € 1.800.

Há um temor grande do mercado e do setor financeiro e empresarial, principalmente em Barcelona e Valência. Em Madri, o fato de Manuela Carmena já ter ocupado por décadas um cargo público, de juíza, transmitiu certa confiança e segurança a esses setores. Mas empresários e investidores já estão em pé de guerra com a prefeita de Barcelona, Ada Colau, e em Valência temem que os investimentos se estanquem.

Vale destacar também a crise que esse novo tabuleiro político provocou nos dois principais partidos, o PP e PSOE. No caso dos socialistas, a crise é menor, já que, além de prefeituras próprias, eles garantiram o governo a partir de pactos com as siglas de extrema-esquerda e plataformas cidadãs. Já na sigla de Mariano Rajoy, o problema é maior. O partido, que tinha maioria absoluta em parlamentos de 38 municípios, só conseguiu segurar duas cidades com o governo dessa maneira. Em todos os outros que venceu, teve que fazer pactos para poder governar.

 

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