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A Semana na Imprensa

Le Monde mostra decepção de crianças e adolescentes refugiados expulsos da Noruega

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Eles pensavam poder viver para sempre no país onde vieram ao mundo, criaram raízes e fizeram amizades, até que o governo decidiu que não seria assim. A edição desta semana da revista M, do jornal Le Monde, expõe o trabalho de uma repórter fotográfica junto às crianças e adolescentes que nasceram refugiadas na Noruega, mas hoje não são mais consideradas como tal pelas autoridades e acabaram expulsas para os países de origem de seus pais, como o Afeganistão ou o Irã.

, a ministra norueguesa da Imigração, Sylvi Listhaug, disse que aumento de refugiados pode causar “consequências devastadoras” na sociedade norueguesa.
, a ministra norueguesa da Imigração, Sylvi Listhaug, disse que aumento de refugiados pode causar “consequências devastadoras” na sociedade norueguesa. Bård Gudim, FrPMedia - FrPMedia/ Creative commons
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Muitos desses menores jamais tinham colocado os pés fora da Europa, quanto menos visitado a terra-natal dos parentes. A fotógrafa Andrea Gjestvang acompanhou o drama (clique para ver as fotos) de várias dessas famílias, como a das irmãs Gofran e Nora, que agora vivem na Jordânia sem sequer falar árabe, e não podem frequentar a escola. As meninas passam o tempo dormindo ou conversando pelo computador com as suas amigas norueguesas. “As crianças contam o processo de desraizamento e esse falso reencontro com um país que eles conhecem pouco ou nada, e onde, às vezes, a famílias delas ainda correm riscos”, diz o texto.

Para a repórter, a adolescente nigeriana Josephine resumiu com ironia o destino dos ex-refugiados: “Eles falam de paz, mas não a constroem ao enviar crianças para o Afeganistão ou o Iêmen. Eles dão o prêmio Nobel da Paz para a jovem paquistanesa Malala Yousafzai, mas não promovem a paz nas próprias vidas”.

Medo de casamento forçado

A reportagem relata o caso da família Al Zanghari, obrigada a retornar à Jordânia após 12 anos de vida na Europa. Uma das filhas, Bayan, de 12 anos, conta ter pesadelos com a noite em que a polícia invadiu a residência familiar para expulsá-los da Noruega. Preocupada com o futuro, a menina teme ser forçada a se casar com um desconhecido, no novo país, e se questiona o que fez de errado para não merecer mais ficar na Europa.

A história da iraniana Negin Hekmatara, de 15 anos, também é contada nas páginas de M. Sua família era perseguida política no Irã até deixar o país rumo à Noruega, em 2009. Já no desembarque de volta a Teerã, no ano passado, todos foram levados para interrogatório. “Eu penso em norueguês e sonho em norueguês, mas não posso viver na Noruega. Não consigo pensar em outra coisa que não seja a minha casa lá e nas amigas que eu tinha”, lamenta a jovem.

O texto explica que os noruegueses são conhecidos pela hospitalidade e são uma referência em Estado de bem-estar social, mas a despencada do preço do barril do petróleo tem afetado a economia do país, um dos maiores exportadores mundiais do óleo negro. Na esteira das dificuldades, a Noruega “endurece a política em relação aos refugiados, inclusive menores”. Esse novo cenário se concretizou com a ascensão do Partido do Progresso, abertamente anti-imigração, que integra a coalizão no poder.

Crise dos refugiados apertou o cerco contra os que já estavam instalados

Le Monde relata que, até pouco tempo atrás, havia um “consenso em vigor”, segundo o qual as crianças que viveram muitos anos no país não seriam alvo de medidas de expulsão, uma regra tácita que parece não valer mais. Em tempos de fluxo migratório recorde rumo à Europa, a ministra norueguesa da Imigração, Sylvi Listhaug, está empenhada em diminuir o número de refugiados no país. Ela alega que a presença massiva de estrangeiros pode provocar “consequências devastadoras” na sociedade norueguesa.

A revista observa que, como em todo o resto da Europa, a Noruega “se fecha nela mesma”. Uma pesquisa recente mostrou que 45% dos noruegueses acham que a imigração é positiva para o país – um índice que, apenas um atrás, era de 54%.
 

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