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Polêmica

Indignação sobre genocídio leva turcos a caricaturar Merkel de Hitler

A aprovação, pela Câmara Baixa do Parlamento alemão, de uma resolução de reconhecimento do genocídio armênio estremece as relações entre a Alemanha e a Turquia. Nesta sexta-feira (3), os jornais turcos publicaram charges retratando a chanceler alemã, Angela Merkel, com a aparência do ditador Adolf Hitler.

Turcos protestaram em frente à embaixada da Alemanha na Turquia, nesta sexta-feira (3).
Turcos protestaram em frente à embaixada da Alemanha na Turquia, nesta sexta-feira (3). REUTERS/Umit Bektas
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Na quinta-feira (2), a decisão alemã levou Ancara a convocar seu embaixador em Berlim para consultas e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que a resolução afetaria “seriamente” os laços entre os dois países. O ministro da Justiça, Bekir Bozdag, foi ainda mais longe: lembrou o passado nazista alemão. “Primeiro, vocês queimam judeus em fornos e agora vêm acusar o povo turco dessa calúnia de genocídio”, disparou.

A imprensa turca seguiu por essa linha – vários estamparam Merkel com um bigode de Hitler. A manchete do Hürriyet era “Vergonha”, e a do Aksam era "Dummkopf!" (“imbecil”, em alemão).

Diante do acirramento do clima, nesta sexta-feira, o primeiro-ministro da Turquia, Binali Yildirim, amenizou o tom e disse que as duas nações são aliadas “muito importantes”. Ele avalia que a relação “não vai se deteriorar por completo”. “Ninguém deve esperar que as relações se deteriorem por completo de uma só vez por causa desta decisão ou de decisões similares", declarou Yildirim. "Isso não quer dizer, no entanto, que não vamos reagir, que não diremos nada", completou.

Alemanha se une a outras potências europeias na questão do genocídio

Os armênios consideram que 1,5 milhão de pessoas foram assassinadas de maneira sistemática ao final do Império Otomano, em 1915. Muitos historiadores e mais de 20 países, entre eles França, Itália e Rússia, reconhecem o genocídio dos armênios.

A Turquia, entretanto, afirma que o que aconteceu foi uma guerra civil, ao que se adicionou a fome, na qual morreram de 300.000 a 500.000 armênios, além de milhares de turcos que também perderam a vida, quando as forças otomanas e a Rússia disputavam o controle de Anatólia.

Crise dos refugiados

Em plena crise migratória na Europa, na qual a Turquia tem um papel determinante, a votação do Parlamento alemão complica a já tensa comunicação entre Ancara e Berlim. O cumprimento do acordo entre a Turquia e a União Europeia contribuiu para reduzir drasticamente o fluxo de migrantes à Europa.

A Turquia ameaça não aplicar o acordo se não conseguir a isenção dos vistos para os cidadãos turcos que quiserem viajar ao espaço europeu Schengen. Pouco depois da votação, Merkel destacou que seu governo queria favorecer "o diálogo entre a Armênia e a Turquia" e que as três milhões de pessoas de origem turca que vivem na Alemanha "são e continuarão sendo uma parte do país".

Aprovação por ampla maioria

A resolução, intitulada "Lembrança e recordação do genocídio dos armênios e de outras minorias cristãs há 101 anos", foi aprovada quase por unanimidade pelos deputados presentes na votação. A Armênia elogiou a "contribuição notável da Alemanha no reconhecimento e na condenação internacional do genocídio armênio".

No início dos debates, Norbert Lammert, presidente do Bundestag, destacou que a assembleia não é um tribunal nem uma comissão de historiadores, mas servia para os deputados alemãs assumirem suas responsabilidades a respeito do assunto. Lambert lamentou as "muitas ameaças, inclusive de morte", contra alguns deputados, sobretudo os de origem turca. Ele disse que as ameaças são "inaceitáveis" e os deputados "não se deixarão intimidar".

Muitos deputados destacaram que a resolução não era um texto contra as atuais autoridades turcas, e sim contra o governo da época, responsável pelas mortes em 1915. A resolução "deplora os atos cometidos pelo governo dos Jovens Turcos da época, que levaram ao extermínio quase total dos armênios, e lamenta "o papel deplorável do Reich alemão que, como principal aliado militar do Império Otomano (...), não atuou para acabar com este crime contra a humanidade".

Angela Merkel, por sua vez, não participou da votação por razões de agenda, mas apoiou a resolução na terça-feira. O texto, porém, não engaja o Estado alemão – trata-se de uma decisão que diz respeito apenas aos parlamentares.
 

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