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“Até tomar banho mata”, diz Libération sobre desreguladores endócrinos

A imprensa francesa desta terça-feira (28) faz novo alerta sobre o desreguladores endócrinos. Libération aproveita a votação hoje na Comissão Europeia sobre esses aditivos químicos presentes em numerosos produtos de uso diário para afirmar em sua manchete: "até tomar banho mata!"

Capa do jornal Libération desta terça-feira, 28 de fevereiro de 2017, alerta sobre os desreguladores endócrinos
Capa do jornal Libération desta terça-feira, 28 de fevereiro de 2017, alerta sobre os desreguladores endócrinos RFI
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Os desreguladores endócrinos "são verdadeiros venenos do cotidiano e há urgência sanitária em nossos armários", escreve o diário. Essas substâncias químicas podem modificar nosso sistema hormonal e provocar diversas doenças em organismos expostos a concentrações realmente muito baixas.

Os desreguladores endócrinos estão presentes em cosméticos, produtos de higiene e limpeza, plásticos e até em resíduos de pesticidas em nossos pratos. "Estamos impregnados", se alarma Libération.

Primeira regulamentação do mundo

Nesta terça-feira, mais uma vez, a Comissão Europeia vota para tentar definir o que são os desreguladores endócrinos. O objetivo de Bruxelas é estabelecer a primeira regulamentação do mundo sobre o tema. Por incrível que pareça, a utilização dessas substâncias químicas ainda não é regulamentada em nenhum país, apesar dos especialistas afirmarem que nunca a humanidade enfrentou uma proporção tão importante de doenças ligadas ao sistema endócrino. Câncer de mama, dos testículos, do ovário ou da próstata; problemas no desenvolvimento do cérebro, diabetes, obesidade, má-formação do pênis, dos testículos e do sistema reprodutivo nos bebês, são a lista de algumas dessas doenças.

Uma definição de Bruxelas mais ou menos restritiva acarretará uma regulamentação mais ou menos severa, aponta o jornal. Os especialistas defendem a noção estabelecida pela Organização Mundial da Saúde. Para a OMS, os desreguladores endócrinos são uma substância ou uma mistura exógena que possuem propriedades capazes de perturbar o sistema hormonal em um organismo saudável, assim como em seus descendentes.

Mas as resistências a qualquer regulamentação ambiciosa são enormes, afirma o jornal progressista. Até agora, o lobby da indústria química fez de tudo para enfraquecer os critérios que a Comissão Europeia tenta estabelecer e evitar um melhor controle. A definição que será votada nesta terça-feira não agrada ainda ONGs. Elas afirmam que a descrição pede um nível de certeza da nocividade dos desreguladores endócrinos muito alto e prevê derrogações inaceitáveis. O resultado da votação é incerto, diz Libération.

Comparação com a luta contra o tabagismo

Em seu editorial, o jornal compara a situação à luta contra o tabagismo. O texto lembra os filmes dos anos 70 e 80, onde os atores fumavam um cigarro atrás do outro. Nessa época, as pessoas fumavam como respiravam, sem pensar um minuto sequer nos efeitos nocivos do cigarro para a saúde. Hoje sabemos que fumar mata, graças a décadas de luta contra o lobby da indústria do tabaco.

"Aposto que em algumas décadas, as gerações futuras verão consternados nossas imagens lavando os cabelos e a louça e escovando os dentes sem preocupação, sem olhar atentamente as etiquetas dos produtos para verificar se eles contêm ou não algum tipo de desregulador endócrino", ironiza o texto. Os governos não agem para obrigar as etiquetas a serem mais claras ou mesmo para eliminar essas substâncias da vida cotidiana.

A Comissão Europeia vai tentar obrigar os países integrantes do bloco a não deixarem de se pronunciar sobre o tema. Um pequeno gesto diante da urgência de saúde pública que representam os desreguladores endócrinos, conclui o editorial do Libération.

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