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Linha Direta

Crise entre EUA e Alemanha pode fortalecer UE, acredita Merkel

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As críticas recentes da chanceler alemã, Angela Merkel, ao presidente americano, Donald Trump, têm provocado o temor de uma crise entre dois parceiros históricos. Nesta terça-feira, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, negou que as relações entre os dois líderes estejam abaladas, poucas horas após a publicação de mais um tuíte de Trump criticando duramente os alemães.  

Angela Merkel et Donald Trump, lors du sommet du G7 à Taormine, le 26 mai 2017.
Angela Merkel et Donald Trump, lors du sommet du G7 à Taormine, le 26 mai 2017. REUTERS/Jonathan Ernst
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Márcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim

O porta-voz da Casa Branca negou nesta terça-feira (30) que haja uma crise. Ele classificou o relacionamento entre Trump e Merkel como “inacreditável” e disse que as afirmações de Merkel corroboram tudo aquilo que o governo americano defende, mas a declaração de Spicer parece insuficiente para apaziguar os ânimos entre Berlim e Washington, que vivem uma das piores crises bilaterais da história recente dos dois países.

Até porque, poucas horas antes, Trump reiterou suas acusações contra a Alemanha, de que o país paga menos que deveria à Otan e que os Estados Unidos têm um grande déficit na balança comercial com a Alemanha. Ele fechou seu tuíte com uma ameaça, afirmando que essa situação “vai mudar”. Merkel, por sua vez, em que a época onde o país poderia contar com os EUA "sem hesitação" tinha ficado para trás.Entre desmentidos e tuítes, o governo de Trump envia mensagens contraditórias e isso só aumenta a desconfiança no atual governo americano.

Eleições

A Alemanha está a menos de três meses das eleições gerais em que Merkel tentará a reeleição. Suas críticas de Merkel têm tudo a ver com a campanha eleitoral alemã, e as declarações que irritaram Merkel foram feitas  durante um discurso em um comício. É necessário também considerar que esse debate é fruto da campanha eleitoral alemã e que sempre houve certa tensão entre Washington e Berlim em relação ao orçamento da Otan e ao déficit comercial dos Estados Unidos.

Com a eleição de Trump, essa tensão cresceu, mas por outro lado, essa troca de farpas e esse ataque de Merkel também é uma tentativa da chanceler de marcar ponto junto a seu eleitorado. Isso lembra a estratégia de Gerhard Schröder na campanha eleitoral de 2002, quando ele fez duras críticas a George W. Bush e conseguiu dar uma reviravolta, ganhando eleições que pareciam perdidas.

A estratégia de Merkel também parece que está dando certo, ainda que ela esteja numa situação muito diferente da de Schröder em 2002. A chanceler lidera as pesquisas, enquanto Schröder perdia e conseguiu se recuperar. Criticar Trump rende votos na Alemanha. O eleitor alemão não gosta de Trump. Uma pesquisa de opinião encomendada pelo jornal Die Welt confirma isso, apontando que mais de 77% dos alemães apoiam a posição firme de Angela Merkel em relação a Trump. A grande maioria dos alemães, segundo a pesquisa, concorda que a resposta à política isolacionista do presidente americano é um aprofundamento da cooperação dentro da União Europeia.

Coesão da UE

O distanciamento de Merkel em relação a Washington pode ser positivo para a UE, a tornando mais coesa. Esse parece ser esse o objetivo de Merkel. Ainda mais depois que ficou clara a divergência entre Europa e Estados Unidos durante a última cúpula do G7, principalmente em relação ao clima. Esse debate também é uma tentativa de alinhavar melhor a parceria com a França dentro da UE. Depois da saída do Reino Unido da União Europeia, é importante que o eixo Berlim-Paris seja fortificado. E se espera que o novo presidente francês, Emmanuel Macron, responda a esse chamado.

Merkel deixou claro, em suas últimas declarações, que o que ela quer é aproveitar esse momento para solidificar a cooperação europeia sem, entretanto, deixar de lado a relação transatlântica com os EUA e os laços com os britânicos. Dois laços que ela afirma continuar considerando muito importantes para os alemães.
 

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