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O Mundo Agora

Nova geração de políticos atropela velhos partidos na Europa

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Nos últimos anos a Europa parecia o patinho feio do Primeiro Mundo. De repente, está virando esperança do planeta. Há pouco tempo, o tão celebrado modelo europeu parecia moribundo. Moeda e mercado únicos, partilha de pedaços de soberania, leis e regras comuns, um capitalismo domesticado por generosas políticas sociais, e o maior período de paz interna desde a guerra de Troia: todas estas conquistas estavam com ares de fim de festa.

"O “bye-bye” dos anglo-saxões serviram como catalisadores de uma tomada de consciência de que o modelo europeu precisava ser defendido. E que valia a pena brigar por isso."
"O “bye-bye” dos anglo-saxões serviram como catalisadores de uma tomada de consciência de que o modelo europeu precisava ser defendido. E que valia a pena brigar por isso." REUTERS/Luke MacGregor
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A crise financeira de 2009 bateu violentamente no Velho Continente. Países como a Grécia simplesmente desmancharam. A Europa do Sul teve que aceitar pesadas políticas de austeridade. A Rússia surgiu, mais uma vez, como uma ameaça à paz e aos valores básicos da construção europeia: o respeito às fronteiras e à independência dos Estados. Pior ainda: os europeus vivem agora com a ameaça constante de atentados terroristas. Sem falar, nas centenas de milhares de refugiados e imigrantes econômicos que chegam em busca do sonho europeu de prosperidade e liberdade.

Nessas condições, partidos e movimentos populistas, nacionalistas e xenófobos começaram a crescer, ameaçando a coesão da União Europeia e até as bases democráticas do bloco. A cereja no bolo foi o Brexit, quando uma pequena maioria de eleitores votou a favor da saída da Grã-Bretanha da União. Muitos europeus pensaram que não tinha mais jeito: a integração europeia estava fadada a se esfacelar.

Uma onda de pessimismo reforçada pela eleição de Donald Trump, que multiplicava declarações e tuites hostis ao modelo europeu. O medo era que uma Europa sem o apoio dos dois polos anglo-saxões ia voltar a cair nos tradicionais enfretamentos e desordens sociais tão frequentes na sua história.

Só que não é bem assim. Pelo visto, Trump e Brexit – o “bye-bye” dos anglo-saxões – serviram como catalisadores de uma tomada de consciência de que o modelo europeu precisava ser defendido. E que valia a pena brigar por isso, resolvendo os problemas da União e avançando ainda mais na integração econômica e política.

Hoje, estamos vivenciando o começo de um novo entusiasmo para com a Europa. Nas últimas eleições, na Áustria ou na Holanda, os partidos nacionalistas anti-europeus saíram derrotados. Fortes movimentos pró-europeus estão se organizando na Polônia e na Hungria para enfrentar seus governos nacional-populistas. Na Alemanha, o grupo da extrema-direita AfD que estava de vento em popa, está se dividindo e perdendo espaço.

Eleições francesas espetaculares

Mas o acontecimento mais espetacular foram as eleições francesas, com a vitória de Emmanuel Macron, um jovem e ferrenho defensor de uma Europa forte e unida, contra a candidata do Frente Nacional, o poderoso partido nacionalista e xenófobo de Marine Le Pen.

Com a vitória provável de Angela Merkel nas próximas eleições legislativas alemães em setembro, os astros parecem se alinhar para que os dois “grandes” – França e Alemanha – possam lançar novas e ambiciosas iniciativas: atacar as difíceis e necessárias reformas sociais e econômicas, e concretizar a velha ideia de políticas comuns no âmbito da defesa, segurança, e relações exteriores. E como os momentos de sorte não são avarentos, todos os últimos indicadores da saúde econômica do Velho Continente estão no azul: o PIB aumentando, os investimentos chegando e o desemprego caindo.

Mas o elemento mais alvissareiro, é que essa forte reação pró-europeia vem da juventude. Hoje, os jovens europeus voltam a se interessar por política. Em todos os países do continente, os velhos partidos e velhos políticos estão sendo atropelados pela nova geração que está chegando com fome ao poder. E que não acha muita graça nos populismos de extrema direita.

É uma formidável injeção de energia num Velho Continente que todos achavam triste e envelhecido. Claro, juventude não é documento. Os jovens às vezes podem ser piores que a velharia. Mas numa Europa paralisada há anos, sem vigor, pessimista e ressentida, essa explosão de juventude só pode fazer bem a todos. Aos europeus como ao resto do mundo.
 

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