Vaticano julga desvio para reforma luxuosa de cobertura de cardeal

A reforma do apartamento do cardeal Bertone, ex-secretário do papa Bento XVI, teria sido financiada ilegalmente. As investigações começaram no fim de 2016, conduzindo à abertura do processo nesta terça-feira (18).

O cardeal Tarcisio Bertone nega financiamento ilícito de seu apartamento. REUTERS/Max Rossi

A primeira audiência não contou com a presença de Bertone, que pode ser chamado posteriormente para ser testemunha. No banco de réus estão Giuseppe Profiti e Massimo Spina, respectivamente ex-presidente e ex-tesoureiro do hospital pediátrico Bambino Gesù (Criança Jesus), de onde foram desviados mais de € 420 mil para bancar a reforma da residência.

O escândalo chocou os italianos em 2014, não somente pelo desvio de dinheiro, mas também pelo tamanho do apartamento a ser renovado: 300 m² que, segundo Bertone, ele dividiria com duas religiosas e um secretário numa localidade próxima à modesta residência Santa Marta, onde vive o papa Francisco. De acordo com o promotor de justiça do Vaticano, a soma foi destinada a Gianantonio Bandera, responsável pela reforma.

Luta contra a corrupção

Apesar de negar o financiamento ilícito, Bertone, sem grandes explicações, reembolsou o hospital Bambino Gesù em €150 mil euros no final de 2015. Os dois acusados, que podem pegar penas de três a cinco anos de prisão, alegam que o dinheiro desviado não era destinado aos cuidados pediátricos do hospital.

O cardeal Parolin, sucessor de Bertone, explicou que o processo representa a vontade do papa Francisco de "colocar ordem nas finanças do Vaticano". A ironia da história é que a Autoridade da Informação Financeira (AIF) do Vaticano, responsável por lutar contra as fraudes e a lavagem de dinheiro, se encontra logo abaixo do polêmico apartamento.