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Crise

Alemanha reforça alerta sobre riscos de viagem à Turquia

A Alemanha reforçou para seus cidadãos nesta quinta-feira (20) as advertências sobre viagens à Turquia, após a detenção de um militante alemão dos direitos humanos no país. A informação foi dada pelo ministro das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, em meio à escalada de tensão bilateral.

O ministro alemão das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, em coletiva de imprensa
O ministro alemão das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, em coletiva de imprensa REUTERS/Fabrizio Bensch
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Em entrevista coletiva em Berlim, ele também anunciou uma "reorientação" geral da política alemã em relação à Turquia.

"Devemos ser mais claros, afirmando que as violações dos direitos humanos não podem ficar sem consequências", ressaltou Gabriel.

Uma posição que a chanceler alemã, Angela Merkel, qualificou como "necessária e indispensável".

Segundo o ministro, essas violações sistemáticas dos direitos humanos "distanciam a Turquia da base dos valores europeus".

Gabriel acusou o governo de Recep Tayyip Erdogan de "estar fazendo o curso da história recuar" no país com o objetivo de "reduzir todas as vozes críticas ao silêncio".

Causando irritação e mal-estar em Berlim, a Turquia mantém o alemão Peter Steudtner preso desde 5 de julho, juntamente com outros militantes dos direitos humanos. Entre eles, está a diretora da Anistia Internacional Idil Eser.

Recomendações mais severas

As novas recomendações de viagem são mais severas do que aquelas feitas anteriormente.

"As pessoas que forem à Turquia por razões profissionais ou pessoais, são encorajadas a uma prudência reforçada e a se registrar nos consulados", indica o texto publicado no site ministério.

"Nesses últimos tempos, um certo número de alemães se viu privado de liberdade por razões ou por uma duração que não são compreensíveis", acrescenta a nota.

Membro do Partido Social-Democrata, Gabriel destacou que as decisões foram tomadas em conjunto com Merkel.

A advertência feita por Berlim pode ter consequências econômicas imediatas, já que a Alemanha é o principal fornecedor de turistas da Turquia, à frente da Rússia, além de um de seus principais parceiros comerciais.

A "reorientação" da política alemã incluirá uma reavaliação de créditos, garantias e ajudas financeiras às exportações e aos investimentos de empresas alemães nesse país.

"Não é mais possível recomendar investimentos em um país" que não respeita o Estado de direito, denunciou Gabriel.

O ministro disse ainda que a Alemanha vai "discutir com seus parceiros da União Europeia" sobre o futuro dos recursos recebidos pela Turquia no âmbito de seu processo de aproximação com a UE.

De 2014 a 2020, o bloco alocou cerca de € 4,45 bilhões para a Turquia como fundos de "pré-adesão". Há anos, Ancara negocia sua entrada no bloco, mas no momento as discussões se encontram em ponto morto.

Reação turca

O governo Erdogan reagiu, nesta quinta, considerando "inaceitáveis" as críticas alemães, e acusou Berlim de ingerência na Justiça turca.

"Enviar uma mensagem dizendo que viajar à Turquia não é seguro é uma grande irresponsabilidade política", declarou o porta-voz da Presidência, Ibrahim Kalin, em coletiva de imprensa. "Tentar despertar dúvidas no espírito dos investidores alemães é inaceitável."

A reação turca veio no dia seguinte à convocação, por parte do governo alemão, do embaixador da Turquia em Berlim para protestar contra a detenção do militante Peter Steudtner, em Istambul.

"É necessário que o governo turco compreenda imediata e diretamente a indignação e a incompreensão do governo alemão", disse ontem à imprensa o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Martin Schäfer.

Nessa mesma direção, o porta-voz da chanceler Angela Merkel, Steffen Seibert, advertiu a Turquia de que não poderia esperar qualquer avanço nas negociações de adesão à UE.

No contexto atual, afirmou, "avanços não estão na ordem do dia".

Reféns de Ancara?

No total, nove alemães - alguns com dupla nacionalidade - estão detidos na Turquia sob acusação de "terrorismo" desde a tentativa de golpe de Estado em 15 de julho de 2016 contra Erdogan, indicaram as autoridades alemães.

A Procuradoria os acusa de cometer violações "em nome de uma organização terrorista sem pertencer a ela", em uma referência indireta à organização do clérigo Fethullah Gülen. Autoexilado nos EUA, Gülen é acusado de ter sido o mentor desse movimento.

Nesse grupo está Deniz Yücel, jornalista turco-alemão, correspondente na Turquia do jornal "Die Welt". Ele se encontra preso há quase cinco meses, em condição de isolamento, sem receber qualquer acusação formal.

Segundo jornais alemães, os presos "servem sistematicamente como reféns" a Ancara, que espera trocá-los por turcos refugiados na Alemanha. Para Ancara, eles seriam partidários do movimento de Gülen.

Erdogan propôs a troca do jornalista por dois generais do Exército turco. Nesse sentido, o ministro Gabriel confirmou que o governo turco enviou para Berlim uma lista de 68 grupos alemães e executivos de empresas alemães acusados de apoiar o terrorismo.

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