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Alemanha

Refugiados viram arma política em eleição legislativa na Alemanha

A chanceler Angela Merkel se prepara para um provável quarto mandato à frente da Alemanha. Porém, mesmo se sua vitória já está praticamente confirmada, a chefe do governo foi criticada por alguns de seus inimigos durante toda a campanha por sua estratégia de gestão da crise migratória de 2015. A tal ponto que os quase um milhão de refugiados que desembarcaram no país em apenas dois anos se tornaram uma munição valiosa para o discurso e o sucesso da extrema-direita. 

Refugiados são alojados em centros de acolhimento em Berlim (imagem de 2016)
Refugiados são alojados em centros de acolhimento em Berlim (imagem de 2016) REUTERS/Fabrizio Bensch
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Enviado especial a Berlim

Noraz vive há dois anos com sua mulher em um quarto de cerca de 20m² em um prédio no norte de Berlim. Palestino, ele fugiu de Damasco durante a guerra e atravessou seis países antes de colocar seus poucos pertences nesse espaço administrado pela ONG Caritas, que recebe cerca de 100 migrantes vindos de vários países.

Como seus vizinhos, muitos deles homens solteiros, mas também famílias com filhos que correm e brincam pelos corredores, ele estuda alemão e tenta entender a burocracia do país que escolheu para viver. Como os demais, ele também espera os documentos que lhe darão o direito de trabalhar no território alemão.

Por enquanto, o jovem vive graças à ajuda dada pelo governo do país europeu, como todos aqueles que foram reconhecidos como refugiados. “Foi muito difícil atravessar todos esses países, cruzar o mar. Passei pela Turquia, Macedônia, Sérvia, Hungria, Áustria”, lista Noraz, que confessa se entediar um pouco. “Eu não gosto de ficar sentado sem fazer nada, então realizo pequenos projetos, como as esculturas de madeira que fabrico desde que cheguei”.

Uma boa dose de xenofobia

Para o jovem, a corrida eleitoral que termina neste domingo (24) não parece ser uma prioridade. Porém, ele os demais refugiados se transformaram, sem mesmo se darem conta, em munição na campanha política do AfD, o partido da extrema-direita alemã. A legenda, criada em 2013 para contestar o Euro, aproveitou da crise migratória de 2015 para integrar uma boa dose de xenofobia em seu discurso, colocando nas costas dos migrantes, e também da chanceler Angela Merkel, que os acolheu, a culpa da precariedade de parte da população. 

“Só quem aproveita dessa situação, de forma oportunista, é o AfD. Eles dizem que corta-se as verbas para atender às creches, por exemplo, enquanto, gasta-se bilhões com refugiados. O AfD passa todo o tempo criando essa polarização que coloca refugiados de um lado e alemães do outro. E com isso conseguiu crescer no campo mais conservador”, explica Sérgio Costa, professor titular de sociologia da Universidade Livre de Berlim.

Resultado: o partido já reuniu boa parte daqueles que veem no acolhimento de migrantes o pior erro dos 12 anos de mandato sucessivos de Merkel. “É verdade que no começo houve muita improvisação, algo que não é típico na Alemanha. Os órgãos competentes não conseguiram responder a tempo e houve casos de refugiados abrigados em locais inadequados. Mas hoje a situação já melhorou”, analisa Costa.

“É importante não agir como se fosse uma catástrofe natural”, pondera Florence Vettraino, que trabalha para Caritas em Berlim. “Além disso, deve-se tomar cuidado com a maneira como se fala das pessoas que pedem asilo. Pois mesmo se eles são 800 mil ou um milhão, por trás de cada um desses números há uma pessoa diferente, cada um com sua história.”

Extrema-direita pode se tornar principal força de oposição no país

Mesmo assim, no próximo domingo o AfD deve colher os frutos de sua campanha xenófoba. A legenda, que já está presente em 13 dos 16 parlamentos regionais da Alemanha, pode ultrapassar os 10% nas urnas, e colocar pela primeira a extrema-direita no Bundestag. Além ter grandes chances, em função da coalizão que será criada por Merkel, de se tornar a principal força de oposição no país.

Enquanto isso, Noraz e todos os milhares de refugiados continuam tentando se integrar, alheios a um debate do qual foram os protagonistas sem querer. Porém, alguns pesquisadores afirmam que essa onda de migrantes vai mudar a cara da Alemanha, independentemente do pleito. Sem contar que eles podem – mesmo se ainda não há estudos oficiais – contribuir para a economia de um país cuja população sofre de envelhecimento, e que precisa de mão-de-obra para pagar as aposentadorias num futuro não muito distante.

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Reportagem: Refugiados viram arma política em eleição legislativa na Alemanha

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