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República Tcheca

Medo de imigrante domina legislativas na República Tcheca, país sem refugiado

Imigrantes agridem uma aposentada tcheca e correm para um centro de assistência social. Assim começa um vídeo do Partido Bloco contra a Islamização, de extrema- direita, uma das siglas em disputa nas eleições legislativas da República Tcheca nesta sexta e sábado (20 e 21).

O magnata Andrej Babis, considerado o "Trump tcheco", do movimento populista ANO, posa para foto com uma eleitora
O magnata Andrej Babis, considerado o "Trump tcheco", do movimento populista ANO, posa para foto com uma eleitora REUTERS/David W Cerny
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O vídeo termina dizendo: "Você escolhe: dar o dinheiro para nossos filhos e aposentados, ou para muçulmanos e africanos?".

Dos 31 partidos que se apresentam para esta eleição, o Bloco contra a Islamização não é o único que faz campanha sobre o tema. Do mesmo modo que a Frente Nacional na França, o AfD na Alemanha, o Partido da Liberdade na Áustria, ou Geert Wilders na Holanda, várias legendas tchecas usam o medo provocado pelas chegadas em massa de imigrantes à Europa.

A imigração se tornou o assunto-chave da campanha tcheca, apesar da quase ausência de imigrantes e de refugiados no país, que preferem ir para a Alemanha ou para a Suécia.

Com um presidente declaradamente antimuçulmano, a República Tcheca acolheu apenas 12 refugiados até agora, embora a União Europeia lhe tenha pedido que aceitasse cerca de 1.600, de acordo com o sistema de cotas para distribuição dos migrantes.

“Nada contra os chineses”

Para conquistar eleitores, muitos partidos usam em suas campanhas o medo do terrorismo, a “ameaça islâmica” e o temor de perder a prosperidade econômica.

"Isso não tem muito a ver com a realidade, porque, realmente, não há muitos imigrantes aqui", diz o analista Jiri Pehe.

De acordo com uma pesquisa feita em abril pelo instituto CVVM, da Academia Tcheca de Ciências, 60% dos tchecos são hostis à acolhida de migrantes. Apenas 3% são favoráveis.

"Precisamos de uma barreira contra a ideologia de ódio do Islã", afirma Tomas Erlich, um eleitor de Praga decidido a votar no partido anti-imigrantes "Liberdade e Democracia Direta" (SPD), do empresário Tomio Okamura, nascido em Tóquio.

O Islã "é incompatível com a democracia, com a legislação e com os valores europeus. A experiência do Ocidente demonstra isso claramente", insiste.

Erlich nega, porém, ser xenófobo, já que "não tem nada contra os chineses e os vietnamitas, inteligentes e que trabalham incrivelmente duro".

O SPD teria 7,3% dos votos, segundo o CVVM, superando o limite de 5% para entrar na Câmara baixa, de 200 cadeiras.

Conhecido na imprensa como o "Trump tcheco", o magnata Andrej Babis, cujo movimento populista ANO seria o ganhador das legislativas – com 30,9% dos votos, de acordo com o CVVM –, também não esconde sua hostilidade em relação aos imigrantes.

“Comércio do medo”

"Quase não há imigrantes aqui, o país está atravessando um bom período do ponto de vista econômico e, apesar disso, as pessoas estão insatisfeitas, inclusive com raiva", constata o analista Josef Mlejnek, da Universidade Carolina de Praga.

"Eu me pergunto quais são as razões. Acho que é uma mistura de frustrações pessoais e de um problema geral", sugere.

"Por exemplo, Babis insiste em que a corrupção está por toda parte, e as pessoas começam a levar isso a sério", completa.

O índice de desemprego na República Tcheca foi de 3,8% em setembro, seu nível mais baixo desde 1998. E o Banco Central prevê crescimento de 3,6% ao fim do exercício de 2017.

"O cenário político tcheco degenerou, porém, no comércio do medo", alerta Jiri Pehe.

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