Libération destaca batalha de professora argentina contra pesticida glifosato
No dia em que representantes da União Europeia não conseguiram mais uma vez alcançar um acordo sobre a renovação da licença do pesticida glifosato, o jornal Libération traz uma matéria sobre a batalha de uma professora na Argentina contra essa substância suspeita de ser cancerígena, mas protegida pelo forte lobby da gigante americana Monsanto.
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Em uma matéria produzida por Mathilde Guillaume, enviada especial do Libération à cidade de Basavilbaso, no nordeste da Argentina, o diário ressalta o perigo do glifosato, "o herbicida que aniquila tudo".
Em pleno coração do pampa, 700 escolas rurais dividem espaço com os milhões de hectares de campos de soja, milho e algodão transgênicos. A repórter explica que Argentina utiliza mais de 250 milhões de litros de glifosato por ano - sendo o maior consumidor deste produto no mundo.
Segundo a reportagem do Libération, uma lei do país - que teoricamente deveria proteger os agricultores expostos a essa substância - proíbe que aviões despejem o glifosato a uma distância menor de 3 mil metros do limite das cidades. No entanto, para as residências isoladas nos campos, esse limite passa a 50 metros. Os moradores dessas regiões deveriam ser prevenidos da aplicação do pesticida nas lavouras com 48 horas de antecedência, mas raramente a regra é respeitada.
Vômito e queimaduras em alunos
A jornalista escreve que em 4 de dezembro de 2014, a professora Mariela Leiva dava aula em uma escola de Basavilbaso, quando um avião despejou 500 litros de glifosato em uma plantação ao lado da escola. Consciente da ilegalidade da situação, a professora filmou a pulverização, que não tardou a provocar vômito e queimaduras nos alunos.
Ao tentar advertir os pais - todos agricultores - Mariela percebeu uma forte resistência. "A pressão dos donos das plantações é grande para que eles se calem", diz a professora ao Libération, que, com ajuda de uma associação ambiental decidiu liderar o combate contra a utilização do glifosato na região, essencialmente governada por proprietários de campos de soja.
Processo durou três anos
Na Justiça, o processo durou três anos. Entrevistado pelo Libé, o advogado Mario Arcusín diz que os acusados nem cogitavam a possibilidade que o caso fosse adiante. "E, portanto, a lista de infrações era longa: além da pulverização ilegal, a empresa de fumigação não tinha licença e nem o avião não estava habilitado para a tarefa", escreve o jornal.
No dia do julgamento, Mariela conta que os insolentes acusados chegaram em clima de festa, sentaram na primeira fileira da sala do tribunal e tinham toda a certeza de que sairiam ilesos. Mas a encenação de nada serviu: a decisão histórica anunciada em 2 de outubro apontou contaminação ecológica e lesões por negligência, além de uma pena de 18 meses de prisão para os três acusados.
Embora considerada leve, a decisão é fundamental para a luta contra o glifosato na Argentina. Desde então, várias outras escolas rurais denunciaram ações ilegais similares nas plantações do país. "As línguas começam a se soltar", conclui o jornal Libération.
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