Processo de pacificação da Síria continua uma grande incógnita
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O governo italiano está cada vez mais preocupado com as ameaças políticas, militares e humanitárias no Mediterrâneo. Um enorme encontro em Roma reuniu uma batelada de ministros, chefes de Estado, altos representantes de organismos internacionais, empresários e especialistas para falar do assunto. Mas desde o início, o pessimismo tomou conta dos participantes e o ministro das Relações Exteriores do Catar não teve dúvida em declarar que a “situação não era preta, era muito mais preta”.
Claro, havia um certo alívio geral pela vitórias recentes contra o grupo “Estado Islâmico” (Daech, em árabe). O grupo terrorista não tem mais condições de resistir às diversas coalizões de grandes potências, governos da região e milícias que decidiram limpar a Síria e o Iraque. Mas todos sabem que os terroristas agora vão voltar à clandestinidade para cometer atentados pelo mundo afora. O grupo ainda vai causar muitos estragos. Porém, vem coisa mais grave pela frente. A reunião de Roma mostrou que a questão agora é vai quem vai dominar o futuro da Síria, do Iraque e de todo o Oriente Médio.
O Irã xiita aproveitou esses anos de conflito para consolidar a sua posição de potência regional dominante. O regime de Bachar Al-Assad conseguiu salvar a pele graças aos bombardeamentos massivos da aviação russa, mas sobretudo graças aos soldados do Hezbollah libanês, armados e treinados por Teerã e à ajuda de oficiais e militares iranianos no território sírio.
No Iraque, o governo, dominado pelos xiitas, também depende das milícias treinadas e comandadas por quadros da Guarda Revolucionária iraniana. Milícias que no combate contra Daech, foram apoiadas pelas forças aéreas ocidentais dos Estados Unidos e da OTAN. Resultado: os iranianos hoje controlam um corredor militar territorial que vai da fronteira iraniana às costas do Líbano.
Obviamente, isso é intolerável não só para a Arábia Saudita – inimiga figadal do Irã – mas também para Israel que não pode viver sob a ameaça constante dos mísseis e dos militares iranianos e suas milícias locais a poucos quilômetros de sua fronteira norte. O governo de Jerusalém já avisou que não aceitará nenhuma presença militar iraniana na Síria, e já começou a bombardear instalações militares iranianas na região e colunas de transporte de armas para o Hezbollah no Líbano.
Em Roma, o jovem ministro das relações exteriores da Arábia Saudita foi extremamente duro e brutal, denunciando o Irã como um “estado criminoso” e até terrorista. Enquanto o seu homólogo iraniano declarava sorridente que não iria sair da Síria de jeito nenhum e que Oriente Médio era “sua casa”. Todos os ingredientes estão combinados para que o desmantelamento do califado territorial de Daech se transforme numa nova guerra no sul da Síria. Mas desta vez entre Estados bem mais poderosos e letais do que o grupo terrorista.
Xadrez político e estratégico
Apesar de declarações triunfalistas, os Russos estão numa saia justa. Não há hipótese que eles topem uma guerra contra Israel e os Sauditas. Um conflito que também poderia degenerar rapidamente em guerra geral com os Estados Unidos e a aliança ocidental. Só que os Russos também precisam da presença militar iraniana para manter o governo de Bachar Al-Assad e o controle sobre o futuro do país. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Hoje, ninguém sabe como pacificar a região.
Pouca gente acredita num estado sírio nas fronteiras antigas, dominado por Damasco, sob a tutela da Rússia e do Irã, e aceito pela ONU. Também, ninguém quer uma Síria dividida em pedaços, cada um sustentado por uma ou duas potências externas. Uma solução que seria profundamente instável. Portanto a solução agora é mais bala: todo o mundo atirando em todo mundo até a exaustão geral. E aí, algum grandão virá para juntar os cacos.
Pelo visto essa parece ser a visão da administração Trump em Washington. Os italianos, e o resto do mundo, tem amplas razões de estarem preocupados.
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