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Rússia

Ksenia Sobtchak encerra campanha na Rússia homenageando opositores mortos na era Putin

Foi ao som de música pop e com homenagem aos opositores políticos assassinados durante os mandatos de Vladimir Putin que Ksenia Sobtchak, a única mulher na corrida presidencial russa, terminou sua campanha na noite desta quinta-feira (15).  Mesmo sem chances de ganhar o pleito, ela mostrou seu poder de atrair o eleitorado jovem e aproveitou até o último momento para criticar o chefe de Estado, que está há quase 20 anos no poder.

Ksenia Sobtchak (de moleton vermelho, acompanhada por Dmitri Goudkov de azul) seduziu parte do eleitorado jovem.
Ksenia Sobtchak (de moleton vermelho, acompanhada por Dmitri Goudkov de azul) seduziu parte do eleitorado jovem. RFI
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Silvano Mendes, enviado especial da RFI a Moscou

Vestindo jeans e um moleton vermelho, Ksenia Sobtchak apelou nesse último comício, realizado em uma casa de shows no noroeste de Moscou, para a pegada jovem que marcou sua candidatura. Afinal, com um estilo moderno e uma campanha com ares de start-up, que fazem lembrar a do presidente francês Emmanuel Macron em 2017, ela percebeu que atrai muitos eleitores que vão às urnas pela primeira vez e que só conheceram uma Rússia dirigida por Vladimir Putin.

“É preciso uma transformação no poder. É preciso que parem de roubar nossa liberdade, nossa juventude e nosso futuro comum”, declarou logo de cara a candidata de 36 anos. “Entrei nessa campanha para mostrar que não se deve ter medo. Há coisas que eles não podem nos roubar: a nossa dignidade e a nossa esperança de uma vida melhor”, continuou.

Logo em seguida, Ksenia, que tem em seu currículo uma carreira híbrida – entre apresentadora de reality show e jornalista para um programa de investigação – homenageou vários opositores assassinados nos últimos anos. Em um vídeo, ela lembrou nomes como do ex-vice-primeiro-ministro Boris Nemtsov, baleado em frente ao muro de Kremlin em 2015, ou ainda a jornalista Anna Politkovskaïa, abatida em seu prédio em Moscou.

“Cheguei bem perto do inferno”

Ksenia fez campanha sem partido, em mais um detalhe que remete ao presidente francês. Mas nesta quinta-feira ela anunciou que vai criar sua própria legenda, batizada Partido das Mudanças. O projeto é lançado junto com Dmitri Goudkov, um dos nomes mais cotados da oposição para concorrer pela prefeitura de Moscou nas próximas eleições municipais. Ele participou ativamente do comício, ao ponto de assumir a bateria durante o show musical que pontuou o evento.

Na sala, era possível ver bandeiras arco-íris, lembrando que a candidata é a única concorrente a apoiar o casamento gay. Ela, que sempre disse que “na Rússia há três coisas que não se escolhe: seus pais, seu gênero e seu presidente”, atraiu um público bem mais eclético e festivo que nos eventos de Putin, com uma plateia tomada por inúmeros jovens, que veem na candidata uma outra forma de fazer política.

 

A jovem Masha (e) mostra orgulhosa sua bandeira durante comício de Ksenia Sobtchak em Moscou
A jovem Masha (e) mostra orgulhosa sua bandeira durante comício de Ksenia Sobtchak em Moscou RFI

 

“Eu sei que Putin vai ganhar as eleições e que não haverá mudança. Mas cada um tem fazer sua escolha e a minha é essa candidata”, disse Masha, de 21 anos, orgulhosa com sua bandeira. “O problema na Rússia é que as pessoas pensam que a transformação não depende delas. Mas se cada um fizer sua parte, aos poucos as coisas vão mudar. Só não podemos ficar de braços cruzados dizendo que não dá para fazer nada”.

O comício foi marcado por uma série de perguntas feitas pelo público, que abordou temas como o lugar das mulheres na política russa e as críticas sexistas que a candidata sofreu. “Essa foi uma campanha muito suja”, disse Ksenia, que chegou a ser insultada durante debates na televisão. “Se hoje me perguntarem se conheci o inferno nos últimos meses, posso dizer que não o conheci, mas cheguei bem perto”, comentou.

Ksenia é filha de Anatoli Sobtchak, ex-prefeito de São Petersburgo morto em 2000, além de ser amigo e mentor do atual presidente. Ele foi um dos responsáveis pela entrada do líder do Kremlim no mundo da política, quando o atual chefe de Estado ainda era um agente do KGB.

Essa proximidade indireta da candidata, aliás, fez alguns opositores alegarem que ela seria uma marionete do governo e que teria se candidatado apenas para diluir ainda mais a oposição, formada por sete candidatos inexpressivos.

A campanha presidencial russa termina oficialmente nesta sexta-feira (16).

 

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Reportagem no Comicio de Ksenia Sobtchak

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