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O Mundo Agora

Movimentos "antissistema" beneficiam de crise social, política e econômica na UE

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Não resta dúvida: a União Europeia não anda bem das pernas. Durante cinquenta anos, essa sofisticada construção institucional garantiu a paz e a prosperidade no Velho Continente. O maior período sem conflitos armados entre grandes Estados europeus.

O fortalecimento dos partidos nacionalistas na Europa como o novo governo italiano qu é o exemplo mais recente dessa novidade no voto democrático.
O fortalecimento dos partidos nacionalistas na Europa como o novo governo italiano qu é o exemplo mais recente dessa novidade no voto democrático. Presidential Press Office/Handout via REUTERS
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A receita foi abandonar os chauvinismos estreitos e compartilhar porções cada vez maiores de soberania nacional. Mas o segredo impertinente é que só foi possível porque a superpotência americana garantiu a segurança da Europa ocidental. Contra a ameaça soviética, mas também prevenindo enfrentamentos entre os velhos países do continente. Só que agora, os velhos nacionalismos estão de vento em popa, a economia está cambaleante e os governos estão perdendo a capacidade de administrar as desigualdades sociais e territoriais.

Pior ainda: Washington parece não estar mais a fim de avalizar a paz na região. Trump está dizendo claramente: “vocês que se virem!”. A nova Casa Branca também não vê vantagem em respeitar o sistema de regras e comportamentos internacionais essenciais para o bom funcionamento das economias, não só da Europa mas também do mundo inteiro.

Novidade no voto democrático

Essas tensões políticas, sociais e econômicas estão alimentando movimentos populistas “antissistema”, de esquerda e de direita. O novo governo italiano é o exemplo mais recente dessa novidade no voto democrático. Uma rejeição dos partidos e elites tradicionais que está pipocando pela Europa inteira, desde o Brexit britânico, passando pelo nacionalismo exacerbado das autoridades polonesas, a “democracia iliberal” de Victor Orban na Hungria, a extrema-direita no poder na Áustria, a Grécia de Tsipras, ou o derretimento do sistema partidário espanhol.

Sem falar nos sucessos eleitorais de movimentos xenófobos e chauvinistas na Alemanha, Holanda e até nas velhas sociais-democracias nórdicas. E todos tem a mesma palavra de ordem: a União Europeia, a burocracia de Bruxelas e o euro, são os culpados por todos os problemas.

Só que essa raiva acumulada é paradoxal. Uma parte significativa do eleitorado europeu acha que a única maneira de enfrentar os desafios da globalização e das desigualdades crescentes, é voltar para os Estados nacionais todo poderosos. O problema é que num mundo globalizado, os governos nacionais europeus não têm mais condições, por si só, de resistir às pressões dos gigantes econômicos como a China ou os Estados Unidos. Ou de garantir a própria segurança frente aos perigos vindos da Rússia, do Oriente Médio ou da onda de emigrantes no Mediterrâneo. Apesar riquíssima, a Europa nunca foi capaz de construir uma força militar comum. Tirando a Grã-Bretanha e a França, nenhum país tem capacidades de defesa sérias.

Europeus não podem enfrentar ofensica protecionista de Trump

Com certa razão, os movimentos populistas acusam as “elites”, nacionais e europeias supranacionais, de serem incapazes de resolver esses problemas. Só que retornar aos velhos Estados-nações é a melhor maneira de se enfraquecer mais ainda. Nem a Alemanha e a França, os dois países mais poderosos do Velho Continente, têm cacife para sentar na mesa com os Estados Unidos, a Rússia ou a China.

Nenhum Estado europeu tem condições de enfrentar a última ofensiva protecionista de Donald Trump, que vem ameaçando o mundo inteiro de lançar uma guerra comercial. O paradoxo é que essa ânsia dos movimentos populistas por mais soberania, e mais independência econômica e militar, só poderá ser resolvida com mais integração europeia.

Uma Europa com mais soberania compartilhada é a única dimensão bastante importante para proteger os europeus. A raiva contra a União Europeia é portanto um tiro no pé. Mas também é verdade que a União, tal como ela existe hoje, também não resolve o problema. De duas uma: ou os novos e jovens dirigentes políticos europeus conseguem dar o salto para uma verdadeira potência militar e econômica integrada, ou então vai ser cada um por si numa Europa desintegrada, em crise permanente, e sem solução. E a História é cruel: o Velho Continente em crise sempre acaba em guerra. E guerra na Europa engole o mundo inteiro.

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