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Dinamarca / Crise migratória / Migrantes

Dinamarca coloca migrantes 'indesejáveis' em Ilha deserta

A Dinamarca considera que não pode receber mais imigrantes sem pôr em perigo seu modelo social, e por isso multiplica as medidas para impedir sua chegada. A mais recente delas é deter os "indesejáveis" em uma ilha deserta.

Alojamentos de ilha dinamarquesa vistos à distancia. 6/12/2018
Alojamentos de ilha dinamarquesa vistos à distancia. 6/12/2018 Ritzau Scanpix/Mads Claus Rasmussen via REUTERS
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Desde a onda migratória de 2015 que levou o país a restabelecer o controle de suas fronteiras terrestres, a Dinamarca - governada por uma coalizão de centro-direita apoiada pela direita populista antimigração do Partido Popular Dinamarquês (DF) - se orgulha de ter adotado cerca de 100 emendas que restringem os direitos dos estrangeiros.

"Os dinamarqueses são acolhedores, mas o sistema é outra coisa: o governo diz claramente que não nos quer", afirma Dejene, um solicitante de refúgio etíope de 30 anos, que se encontra em uma associação de ajuda aos recém-chegados. Faz quatro anos que ela chegou a este pequeno país de 5,8 milhões de habitantes, dos quais 8,5% são de origem "não ocidental", segundo o instituto de estatísticas nacional.

Para 2019, ano eleitoral, o objetivo da maioria é claro: que os refugiados compreendam que só podem ficar provisoriamente. Por isso, acabou de propor ao Parlamento uma limitação da reunificação familiar e uma redução dos benefícios sociais. Uma ajuda financeira, teoricamente generosa, que já não costuma ser suficiente neste país, um dos mais caros da Europa.

"Devem voltar e ajudar a reconstruir seu país o mais rápido possível" se justifica Martin Henriksen, porta-voz de temas migratórios de DF.

Dissuadir os "indesejáveis"

Entre 2015 e 2017, devido a restrições cada vez maiores, o número de pedidos de refúgio caiu 75%. Para o pesquisador Demetri Papademetriou, fundador do Instituto Europeu de Migrações, a política migratória dinamarquesa "é um caso único de dureza e intolerância" na Europa, em um contexto já pouco favorável aos migrantes.

Nos últimos três anos, a Dinamarca não poupou meios para dissuadir os solicitantes de refúgio: anúncios na imprensa libanesa para advertir sobre o endurecimento das condições para se instalar em seu território, ou o confisco de bens de valor dos migrantes quando cruzam a fronteira.

Estas restrições são principalmente obra do DF, afirma Papademetriou. "Na Europa, nenhum outro partido teve tanto êxito em moldar de forma tão profunda e duradoura a política nacional relativa a migrações", estima.

A última de suas conquistas é agrupar em uma ilha desabitada migrantes que tiveram o pedido de asilo recusado e que têm antecedentes criminais, à espera de sua expulsão, assim como os que não podem ser mandados de volta a seus países.

Este lugar de detenção, situado em um antigo centro de pesquisa sobre doenças animais contagiosas na ilha de Lindholm, abrigará 125 pessoas a partir de 2021. Algumas destas deverão deixar rapidamente o país, mas outras poderiam permanecer na ilha por tempo indeterminado.

O projeto, proposto por DF, foi aceito sem reservas pelo governo. "Se alguém é indesejável na sociedade dinamarquesa, não deve incomodar o dinamarquês comum", justificou no Facebook Inger Støjberg, o popular e controverso ministro da Imigração.

Milhares de dinamarqueses ocuparam as ruas para protestar contra este projeto e as medidas sobre a imigração. "Os dinamarqueses não se manifestam com frequência de forma maciça, mas (...) sentem que a classe política está indo longe demais", disse a secretária-geral da Anistia Internacional na Dinamarca, Trine Christensen. Nem todos. Segundo as últimas pesquisas, a poucos meses das legislativas, o DF continuará sendo o segundo partido do país, com 18% dos votos, muito perto do Partido Liberal, que dirige o atual governo.

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