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Reino Unido

Agonia interminável do Brexit levanta questionamento sobre soberania

A principal imagem de capa dos jornais franceses nesta quinta-feira (28) é a da primeira-ministra britânica, Theresa May. Na véspera do que seria a data fatídica de saída do Reino Unido da União Europeia, nesta sexta 29 de março, já adiada, a imprensa evoca a última cartada de May para o Brexit.

a última cartada de Theresa May para evitar um Brexit desastroso para o Reino Unido é uma dasprincipais manchetes dos jornais franceses Les Echos e Le Figaro desta quinta-feira (28).
a última cartada de Theresa May para evitar um Brexit desastroso para o Reino Unido é uma dasprincipais manchetes dos jornais franceses Les Echos e Le Figaro desta quinta-feira (28). Fotomontagem RFI
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Ontem, Theresa May prometeu deixar o cargo caso os deputados conservadores aprovem o acordo de divórcio que ela negociou com os europeus. A cabeça de May era uma das exigências dos deputados que defendem o chamado Brexit duro. Uma nova votação no Parlamento poderá acontecer nesta sexta-feira.

Les Echos afirma que, conforme o drama do Brexit foi se desenrolando diante dos olhos dos europeus, muitos compreenderam que os britânicos não sabem o que querem, a ponto de alguns especialistas defenderem hoje que o Artigo 50 do Tratado sobre a União Europeia, que permite a um país deixar o bloco, seja simplesmente suprimido. Essa negociação se tornou um pesadelo interminável, constata Les Echos.

A ilusão da soberania do estado-nação

O referendo realizado em junho de 2016 abriu a caixa de Pandora do que seria o retorno da soberania de um estado-nação, mas os deputados britânicos brigam entre si há meses sem saber que contorno querem dar ao Reino Unido fora da União Europeia. O presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, submeteu ontem à votação oito cenários possíveis para o divórcio e todos foram rejeitados.

Nas páginas de Les Echos, Robert Skidelsky, professor emérito de economia política na Universidade de Warwick, afirma que o Brexit abalou seriamente o conceito de soberania de um estado-nação. O processo britânico demonstra que esta representação, que prevaleceu desde o fim da Guerra Fria, tornou-se uma ilusão no mundo globalizado. "Na realidade, o Reino Unido é livre para deixar o bloco, mas os custos seriam tão proibitivos que a vontade popular não poderá ser respeitada", destaca o professor. A longo prazo, a integração econômica é benéfica para todos, defende, mas a curto prazo perturba aspectos culturais e econômicos.

Segundo o especialista, a União Europeia acabou ultrapassando alguns princípios de legitimidade democrática para garantir o funcionamento comercial do bloco, mas esta falha ainda poderá ser aperfeiçoada. Por outro lado, uma questão em aberto é saber se os britânicos ainda poderão se autogovernar - cenário que provoca um certo receio no especialista. "Se outros eleitores do bloco começarem a se sentir ameaçados de um aprisionamento semelhante, pode ser o começo do fim da democracia liberal europeia - ou o retorno dos demônios do passado", conclui Skidelsky.

Le Figaro entrevista Matthew Elliot, que pilotou a campanha do ex-ministro eurocético Boris Johnson em defesa do Brexit. Ele é mais otimista e acredita que a saída de Theresa May poderá facilitar um consenso positivo para um acordo. 

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