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Brasil-Mundo

Rabino brasileiro assume sinagoga da terra de Pedro Álvares Cabral

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Avraham Franco, brasileiro de Manaus e descente de marroquinos, é há dois meses o novo rabino da sinagoga de Belmonte, terra onde nasceu Pedro Álvares Cabral e berço de uma comunidade de cristãos novos,  judeus que foram obrigados a se converter ao catolicismo. No belo cenário da Serra da Estrela, no centro de Portugal, o rabino recebeu a RFI.

O rabino Avraham Franco é brasileiro de Manaus e descente de marroquinos.
O rabino Avraham Franco é brasileiro de Manaus e descente de marroquinos. Arquivo Pessoal
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Adriana Niemeyer, correspondente da RFI em Belmonte

“Essa sinagoga representa um marco no judaísmo moderno em Portugal. Digo isso porque só foi fundada em 1996 para reunir as famílias dos judeus que aqui se encontravam e que são descendentes daquelas que foram forçadas a se converter ao cristianismo, no período triste e sombrio da história que foi a Inquisição”, relembra o rabino.

Construída com uma orientação voltada para Israel, foi inaugurada na data em que se comemorou os 500 anos do decreto de D.Manuel I de expulsão dos judeus de Portugal. A sinagoga foi doada à comunidade de Belmonte por Salomon Azulai, que também é de origem marroquina e queria homenagear a memória de seu pai, o rabino Elias Azulai. Seu nome, Beit Heliau, significa “filho de Elias”.

Em Belmonte, vivem os judeus chamados marranos, criptos judeus descobertos há um século por um pesquisador polonês, Samuel Schwartz, que veio estudar a histórias da localidade. “Ele descobriu essas comunidades que ainda praticava ritos judaicos, e foram descobertas judiarias em Covilhã, Guarda e outras localidades da zona”, indica.

“Os judeus saíram da Espanha em 1498 por decreto de expulsão da Inquisição e foram recebidos em Portugal, instalando-se na área fronteiriça com a Espanha. Eles acabaram se assimilando à população local, mas algumas famílias decidiram preservar o judaísmo, casando-se entre si. Em 1975, o Estado de Israel enviou emissários rabinos para verificar a autenticidade das  tradições judaicas dessas famílias”, explica Franco.

Casamentos consanguíneos

Naquele momento, a comunidade tinha dificuldades em dar continuidade às suas origens: os sucessivos casamentos entre consanguíneos acabaram resultando em problemas genéticos. Agora, a solução passa por enviar os jovens para Israel, para se casarem com outros judeus que não sejam seus familiares. “Minha missão é fazer a comunidade sobreviver depois da ida das famílias para Israel”, afirma.

Franco recebeu o convite em setembro de 2018, quando estava em Israel e um amigo sugeriu-lhe ir para Portugal, já que a comunidade judaica de Belmonte estava sem rabino. Preparado para atender pequenas comunidade, ele trouxe uma nova esperança para os judeus locais.

Além das funções habituais, como abater animais segundo o ritual kasher, fazer circuncisões e celebrar casamentos e ritos funerários, ele também canta ópera e reúne a comunidade para cozinhar. Para ele, “ser rabino é ser conhecedor da história e abraçar aqueles que estão de luto, ou alegrar uma reunião. Seja num barmitzva ou num casamento.”

Rabino brasileiro em terra de Cabral

Franco avalia que ser o primeiro rabino brasileiro na terra de Cabral significa uma responsabilidade ainda maior. “Quando eu vi o castelo de Pedro Álvares Cabral, caiu a ficha. Entendi que o próprio Cabral era descendente daqueles judeus que foram expulsos. Então me sinto com uma dupla responsabilidade: representar Israel e representar o povo brasileiro.”

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