"Sou branca, nasci num país rico e tenho passaporte adequado": capitã presa na Itália recebe apoio da França e Alemanha
"Sou branca, nasci em um país rico e tenho o passaporte adequado", disse a alemã Carola Rackete, quando um jornalista italiano do La Reppublica perguntou esta semana o que teria levado uma pesquisadora ambiental a se tornar capitã de um navio humanitário que resgata migrantes no Mediterrâneo. Neste domingo (30), a França e a Alemanha reagiram duramente à prisão da capitã durante o desembarque do Sea Watch 3, na ilha de Lampedusa.
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"Não foi um ato de violência, apenas de desobediência", disse a capitã em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera neste domingo (30). Ela é acusada de tentar uma manobra perigosa contra o barco do governo italiano, que queria impedi-la de atracar.
"A situação era desesperadora, meu objetivo era apenas desembarcar em terra firme essas pessoas exaustas e desesperadas", disse a alemã de 31 anos, que diz temer que os migrantes cometam suicídio pulando na água, uma vez que eles não sabem nadar.
Anter de desembarcar em Lampedusa, o navio humanitário Sea Watch 3 permaneceu semanas no mar, aguardando uma decisão positiva do governo italiano.
Prisão
Presa na noite de sexta-feira para sábado, Carola Rackete foi colocada em prisão domiciliar antes de ser apresentada a um juiz de Agrigento (sul da Itália) no início desta semana.
A jovem, que se desculpou domingo por sua manobra marítima, é acusada na Justiça de forçar o bloqueio de águas italianas, imposto pelo ministro do Interior, Matteo Salvini, de extrema direita, com um decreto-lei entrou em vigor em meados de junho contra navios humanitários, que ele acusa de seres cúmplices de contrabandistas.
Ela também responde a outro crime, o de ter forçado a passagem, obrigando o barco da Alfândega de se retirar do cais. Um ato que a lei italiana chama de "resistência a um navio de guerra", e é punível com 10 anos de prisão.
Reação europeia
Muito críticos à atitude da Itália no caso, Paris e Berlim reagiram duramente. A França, que concordou em receber 10 dos 40 migrantes do Sea Watch 3, declarou neste sábado (29), por meio de seu ministro do Interior, Christophe Castaner, que a política italiana de fechamento de portos era contrária à lei marítima.
O ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, pediu um "rápido esclarecimento" das acusações contra Carola Rackete, dizendo que "salvar vidas é uma obrigação humanitária" e que o resgate no mar não deveria ser "criminalizado".
Neste domingo (30), o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, também criticou a Itália, "um país fundador da Europa que, esperávamos, pudesse lidar com isso de forma diferente", disse à imprensa alemã.
A reação de Salvini
Irritado com as declarações da capitã Carola Rackete esta semana, o ministro do Interior da Itália decidiu reagir no Twitter:
"Mas não é que todos aqueles que nascem 'brancos, alemães e ricos' devem vir encher o saco na Itália, estou errado ??? O que o governo de Berlim pensa? É normal que um dos seus cidadãos venha até nós e diga: não estou nem aí para as leis italianas?"
Ma non è che tutti quelli che nascono "bianchi, tedeschi e ricchi" devono venire a rompere le palle in Italia, sbaglio??? Il governo di Berlino che ne pensa? È normale che una loro cittadina venga da noi a dire: me ne frego delle leggi italiane? pic.twitter.com/H1VHPqyAGk
Matteo Salvini (@matteosalvinimi) 26 juin 2019
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