Alemanha: autor de ataque contra sinagoga afirma ter sido motivado por ideias de extrema direita
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O autor do atentado em Halle, no leste da Alemanha, reconheceu diante da justiça que suas ideias antissemitas e de extrema direita o motivaram a agir, divulgou nesta sexta-feira (11) o Ministério Público do país. Segundo o governo, o país conta com cerca de 12 mil militantes ultradireitistas propensos a atos de violência.
Marcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim
Além da questão de segurança da comunidade judaica, existe a forte preocupação com o crescimento da extrema direita na Alemanha. Lideranças de diversos partidos alemães - incluindo as legendas da coalizão de governo - fazem uma conexão direta entre o atentado e a ascensão de discursos "incendiários" no país.
Segundo essas lideranças, ideias de partidos de extrema direita, como o Alternativa para a Alemanha (AfD), que se tornou a principal força de oposição no parlamento, tem contribuído para incitar não só o antissemitismo como o ódio a estrangeiros.
Nesta sexta-feira, o líder do AfD, Jörg Meuthen, rejeitou responsabilidade de seu partido no ocorrido. Ele também culpou o governo alemão por não ter dado proteção à sinagoga e acusou as autoridades de instrumentarem politicamente o crime.
Crescimento da xenofobia e do antissemitismo
O atirador de Halle tinha como alvo não só judeus como estrangeiros de um modo geral. Depois de tentar em vão entrar na sinagoga, ele matou uma pedestre e disparou contra uma lanchonete tipicamente turca, matando um homem que estava no restaurante.
O crescimento de incidentes violentos de fundo antissemita tem sido constante nos últimos anos no país, de acordo com as autoridades alemãs. Só entre 2017 e 2018 foi registrado um aumento de cerca de 10%. No ano passado foram 69 delitos, de simples xingamentos a agressões físicas. Segundo uma pesquisa recente, 78% dos judeus na Alemanha se sentem sob constante ameaça.
Não só o antissemitismo tem crescido, como também os próprios movimentos radicais de direita tem se fortalecido no país, tendência que também tem sido verificada pelas autoridades. A criminalidade com fundo de extrema direita, ou neonazista, é uma preocupação que levou o governo a planejar a criação de um departamento dedicado ao tema, incumbido principalmente de detectar precocemente ameaças – na internet e em outros veículos - antes que elas se tornem realidade.
De acordo com os registros do governo, mais da metade dos cerca de 24 mil militantes ultradireitistas que o governo estima existirem na Alemanha é composta de indivíduos propensos a atos de violência. Os registros de violência de extrema direita aumentaram 3,2% no ano passado em relação ao mesmo período do ano anterior.
Ameaças de morte de neonazistas contra políticos e militantes alemães não são incomuns no país. Um dos casos recentes de violência de maior repercussão envolvendo motivação de extrema direita ocorreu em junho passado: foi o assassinato do político local Walter Lübcke, do CDU, do mesmo partido de Angela Merkel, com um tiro na cabeça. O principal suspeito, que confessou o crime, é um militante neonazista.
Mais segurança à comunidade judaica
O governo da Alemanha quer intensificar o combate ao antissemitismo após o ataque ocorrido em pleno Yom Kippur, principal feriado judaico. O incidente poderia ter terminado num massacre, se não fosse a porta reforçada do templo.
Representantes da comunidade judaica na Alemanha acusaram falha das forças de segurança. Policiais não foram mobilizados para patrulhar a região da sinagoga de Halle em uma data em que o local costuma estar lotado.
Enquanto em metrópoles como Berlim, Hamburgo e Munique, os templos, escolas, associações e outras instituições judaicas são vigiados dia e noite, isso não ocorre em outras cidades menores. Cerca de 80 pessoas estavam na sinagoga de Halle quando o atirador tentou entrar no local.
O governo da Saxônia-Anhalt, estado onde fica Halle, diz que o esquema de segurança previa que patrulhas passassem pela sinagoga. Mas as autoridades locais não acreditavam que o templo judaico pudesse ser alvo de extremistas.
O prédio dispõe de mecanismos de segurança próprios, além de portas reforçadas, como sistema de câmeras de vigilância e controle na entrada. O esquema é comum nas instituições judaicas no país inteiro - mesmo quase 75 anos após o fim da ditadura nazista.
O ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, afirma ser necessário reforçar a vigilância em todas as sinagogas do país. Dentro de duas semanas o governo deve definir novos padrões nacionais de segurança para essas instituições.
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