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Linha Direta

Realizando protestos diários, Catalunha monopoliza debate político antes de eleições legislativas

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Depois de uma semana de manifestações e distúrbios em Barcelona, a situação continua tensa na Catalunha. A menos de 20 dias de novas eleições na Espanha – as quartas eleições gerais em 4 anos – a região continua monopolizando o debate político.

Ativistas pró-independência se manifestam diariamente em Barcelona. 21/10/2019.
Ativistas pró-independência se manifestam diariamente em Barcelona. 21/10/2019. REUTERS/Albert Gea
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Fina Iñiguez, correspondente da RFI em Barcelona

Desde sábado (19) não houve mais distúrbios violentos nas ruas, embora as manifestações continuem acontecendo diariamente. Tudo indica que as ruas vão continuar aquecendo o debate político, pelo menos até as eleições de novembro.

O balanço da semana de distúrbios mostra a dimensão do conflito. Quase 200 pessoas foram detidas, 28 delas presas preventivamente e sem fiança. Além disso, 600 pessoas ficaram feridas - metade policiais - e duas delas em estado grave.

De acordo com dados da prefeitura de Barcelona, o prejuízo até o momento é de quase € 3 milhões em mobília urbana, € 25 milhões de perdas em transportes de mercadorias devido aos cortes nas estradas, € 7 milhões para as companhias aéreas, devido aos cancelamentos de vôos, além de 50% de diminuição de reservas em hotéis e compras em lojas.

Partidos reagem

De olho nas eleições, os partidos estão fazendo o possível para não perder votos. O socialista Pedro Sánchez, premiê interino do governo espanhol, e os conservadores Pablo Casado (Partido Popular) e Alberto Rivera (Ciudadanos), vieram à Barcelona tentar ampliar sua base eleitoral frente à maioria dos partidos independentistas.

Sánchez tinha o objetivo de dar seu apoio aos policiais feridos. Já os representantes da direita foram à capital catalã condenar a gestão do conflito pelo governo.

De acordo com pesquisas sobre intenção de voto, realizadas após os distúrbios e publicadas nesta segunda-feira (21) por diferentes meios de comunicação, nas próximas eleições, o partido socialista PSOE se manteria como a primeira força política. Porém obteria menos deputados que nas eleições do mês de abril passado.

Por sua vez, o conservador Partido Popular aumentaria o número de cadeiras no Parlamento. Já o partido da extrema direita Vox seria o que mais se beneficiaria dos distúrbios de Barcelona, ficando entre o terceiro e o quinto lugar. Ainda de acordo com essas pesquisas, o outro partido da direita, Ciudadanos, cairia e ficaria por trás do partido de esquerda Unidas Podemos.

Se esses resultados se confirmarem nas urnas, o tradicional bipartidarismo PSOE/PP sairia fortalecido, mas não seria maioritário. O partido socialista continuaria dependente do apoio dos partidos de esquerda - com os que não conseguiu formar governo nas últimas eleições-, além de precisar também da colaboração ou abstenção dos partidos pró independência.

Movimento pró-independência

Uma parte do independentismo catalão, com a liderança do atual presidente do governo regional Quim Torra e do ex-presidente Carles Puigdemont - que fugiu para a Bélgica para não ser preso -, confunde desejo com realidade. Eles acreditam que Barcelona pode se converter em Hong Kong, assim como pensavam que a União Europeia ajudaria a Catalunha na sua tentativa frustrada de se separar da Espanha em 2017.

Mas a maioria do movimento pró independência é pacífica e dão sinais de que não permitirão que algumas centenas de jovens violentos manchem a imagem de uma opção política com centenas de milhares de pessoas. Na noite do sábado passado, essas pessoas conseguiram evitar os distúrbios se colocando entre os jovens violentos e a polícia. Por enquanto, a violência nas ruas cessou.

Sánchez sabe que dois milhões de pessoas que votam há anos em partidos pró-independência não vão desaparecer, nem com leis restritivas - como o artigo 155 que cessou o governo catalão após o referendo proibido de 2017 -, nem mantendo políticos independentistas na cadeia.

Por isso, neste momento político delicado, Pedro Sánchez tenta navegar entre duas águas: diz que só vai dialogar com o presidente catalão Quim Torra quando ele condenar expressamente os distúrbios da última semana e reconhecer o trabalho dos policiais. Ao mesmo tempo, defende o direito das pessoas a se manifestarem pacificamente contra a condenação dos políticos catalães, considerada excessiva até por analistas jurídicos não independentistas.

A posição “empática” de Sánchez em relação ao movimento independentista pacífico e “intransigente” com a minoria violenta, é provavelmente sua única saída já que num futuro mais ou menos próximo a questão territorial da Catalunha deverá se resolver politicamente. Longe das ruas, e dos Tribunais de Justiça.

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