Diretor do BEA se defende de omissão de dados em relatório
O Diretor responsável pela investigação técnica do acidente com o voo AF 447 da Air France, Alain Brouillard, negou ter sofrido qualquer tipo de pressão ou censura, em resposta à críticas feitas pelas associações dos familiares das vítimas e também do SNLP, o principal sindicato dos pilotos na França.
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"Desde que comecei a trabalhar, nunca sofri a menor pressão….Sou funcionário, poderia muito bem deixar minha função de um dia para outro se fosse pressionado", afirmou Alain Brouillard, do BEA, a Agência francesa civil que investiga as causas do acidente, em entrevista nesta quinta-feira à rádio RMC.
"Tenho minha honra, minha integridade… não vejo como poderia viver sofrendo pressões e retirando do relatório elementos que me parecessem essenciais para a segurança”, insistiu.
As declarações foram feitas em reação à polêmica criada com a revelação de que trechos da investigação, que questionam o sistema de alarme do Airbus A330, foram retirados do relatório preliminar apresentado à imprensa no dia 29 de julho.
De acordo com uma reportagem publicada na terça-feira pelo jornal francês Les Echos, a Agência omitiu no relatório vários parágrafos que constavam num projeto confidencial. No trecho que foi retirado do documento, o BEA recomenda à AESA (Agência Europeia de Segurança Aérea), que o sistema de alarme de perda de sustentação do avião seja revisto para não ser afetado por “indicações erradas de velocidades”.
Em comunicado divulgado na quarta-feira, a Agência explicou que o trecho foi retirado porque os especialistas consideraram a recomendação prematura diante da fase atual das investigações.
O Sindicato majoritário dos pilotos ( SNPL) decidiu se retirar provisoriamente da investigação porque considera que o trabalho do BEA “se transformou em uma prova para responsabilizar a tripulação”.
A Associação francesa dos familiares das vítimas Entraide et Solidarité (Ajuda mútua e Solidariedade, em tradução livre) afirmou que a investigação ficou "totalmente desacreditada", após a divulgação da omissão no relatório. Os familiares consideram as afirmações "parciais e muito orientadas em defesa da Airbus" da "tutela do BEA", órgão vinculado ao ministério francês dos Transportes.
"O relatório sou eu quem dirijo, com minha equipe, e que proponho para ser validado pelo diretor (geral). Nunca vi e nunca conheci um diretor que tenha censurado um relatório", disse Alain Brouillard na entrevista.
"Como poderiam hoje imaginar que deixaríamos milhares de passageiros voarem se estamos aqui para proteger a segurança, que deixaríamos voar aviões se tivéssemos alguma dúvida ?", questionou o diretor do BEA.
Alain Brouillard confirmou que a Agência vai "tentar propor uma recomendação melhor elaborada" no relatório final sobre a catástrofe previsto para ser publicado no primeiro semestre de 2012.
O acidente com o voo AF 447 que fazia a rota Rio-Paris, ocorrido em 2009, deixou 228 mortos.
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