Uma pesquisa divulgada nesta semana aponta que 29% das crianças francesas não vivem em uma família tradicional, composta de pai, mãe e filhos. De cada 10 crianças ou adolescentes de até 18 anos, pelo menos um deles tem uma família reconfigurada, com um padrasto ou madastra e às vezes com um meio-irmão ou irmã. Os filhos que moram com apenas um dos pais são ainda mais numerosos: representam quase um quinto dos lares.
"Um milhão e meio de crianças vivem em famílias reconfiguradas hoje, trezentos mil a mais do que há apenas cinco anos. Cerca de um terço delas moram com os dois pais, o que muda é que eles são filhos de uma nova união e moram com o meio-irmão ou irmã. Os outros dois terços vivem com o padrasto ou madrasta. Há também situações de multiresidência, quando os filhos de uma família remanejada moram parte do tempo com o outro pai ou mãe, caso de 30% destas crianças", explica Pascale Breuil, chefe de estudos demográficos do Insee, instituto que realizou a pesquisa.
Os resultados também mostram uma diferença de comportamento entre a capital e o restante do país. Em Paris, a quantidade de famílias não-tradicionais chega a 34%, mas não são repartidas da mesma forma. Nathalie Couleaud, diretora regional do Insee em Paris, explica o fenômeno: "Em Paris temos mais famílias monoparentais do que no resto do país. A porcentagem chega a 28, contra 22% na esfera nacional. Os apartamentos de Paris são muito pequenos e o preço do mercado imobiliário freia a recomposição das famílias em Paris".
Apesar da família tradicional estar em decadência, ela ainda representa 71% dos lares franceses, um número bastante elevado se comparado com outros países ocidentais. No Brasil, por exemplo, a família não-convencional ultrapassou a barreira dos 50% pela primeira vez no último senso demográfico. Oito novos laços de parentesco tiveram que ser acrescentados na pesquisa.
Tania Zaverucha, bióloga, morou em Paris durante quase 4 anos, mas decidiu voltar para o Rio de Janeiro para ter filhos com sua companheira. "Pensamos em ter na Europa, mas a questão burocrática sobre inseminação nos desanimou. Acho também que na França eles valorizam mais a tradição do casamento do que no Brasil", opina.
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