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França/Distúrbios

Dez anos após conflitos, periferia de Paris ainda sofre com exclusão

A França lembra nesta terça-feira (27) os dez anos dos distúrbios que sacudiram as periferias das principais cidades francesas após a morte de dois adolescentes que fugiram de uma batida policial. Zyed Benna e Bouna Traoré se esconderam em um transformador de energia na cidade de Clichy-sous-bois e acabaram morrendo eletrocutados. Essas mortes geraram três semanas de distúrbios violentos em bairros carentes e excluídos das políticas mais vantajosas do Estado. Políticos e moradores entrevistados pela RFI dizem que a situação continua dramática nessas áreas pobres e esquecidas da França.

Distúrbios em Clichy sous Bois em 2005
Distúrbios em Clichy sous Bois em 2005
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Durante 21 dias, o mundo viu imagens de jovens com coquetéis molotov nas mãos, milhares de carros queimados e confrontos entre jovens e policiais. Para refletir sobre o tema, a RFI montou nesta sexta um estúdio na cidade de Bondy, que foi afetada pelos distúrbios na época, para entrevistar moradores, além de políticos, como a ministra da Educação, Najat Vallaud-Belkacem, além de policiais e diretores de associações.

Um policial entrevistado, Christophe, acha que, se os distúrbios acontecessem hoje, a situação seria bem pior. "As tensões ainda existem. A violência hoje seria maior, pois teríamos indivíduos com armas de fogo, e não apenas com pedras.

O ex-ministro da Promoção da Igualdade, Azouz Begag, no cargo de 2005 a 2007, é ainda mais pessimista. "Nos encontramos atualmente na situação mais perigosa da república francesa. Há milhares, talvez centenas de milhares de pessoas, nas periferias que não têm nada a perder. E que estão em um processo de explosão individual", diz.

Ele está muito preocupado com uma realidade que pode levar "indivíduos a sair às ruas com kalachnikovs atirando em tudo o que está ao redor". "Millhões de franceses vão cedo ou tarde formar milícias nos seus bairros para se proteger da invasão. Eu tenho medo que a caixa de Pandora se abra ainda mais e o que o pior esteja por vir", afirma Azouz Begag.

Desilusão e desemprego

Responsável de uma associação de inclusão social, Mylène também demonstra preocupação com a situação atual. "Em Seine-Saint-Denis (periferia norte de Paris), estamos sufocados. Somos uma pequena associação, vimos nossos subvenções baixarem e agora temos um peso suplementar sobre os ombros. Principalmente depois dos atentados de janeiro contra o jornal Charlie Hebdo."

Segundo ela, o governo cobra resultados. "Eles dizem: as associações são as primeiras a promover a convivência, vocês devem carregar os valores da França. E eu respondo: necessitamos de meios para fazer o trabalho de inclusão social", conta.

A bola está, então, no campo da política. E principalmente do governo de Manuel Valls, um primeiro-ministro que denunciou, em janeiro passado, o "apartheid territorial, social e ético" que ainda existe no país.

Em Clichy-sous-Bois, 45% da população vive abaixo da linha da pobreza e mais que um em cada três jovens está desempregado. Apesar das vidas perdidas e dos milhões de euros gastos, ainda permanece no espírito de um grande número de franceses a desagradável impressão de que nada mudou realmente depois dos distúrbios de 2005.

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