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Moda

Uma lei pode abolir o culto à magreza do mundo da moda ?

O governo francês aprovou esta semana uma lei que visa lutar contra a magreza extrema que impera no mundo da moda. Segundo o texto, as modelos terão que apresentar uma atestado médico provando que não estão desnutridas.

A França faz projeto de lei para tentar proibir o acesso de modelos extremamente magras no mundo da moda.
A França faz projeto de lei para tentar proibir o acesso de modelos extremamente magras no mundo da moda. Reuters/ Caetano Barreira
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“Assim que forem adotados os decretos de aplicação, não veremos mais nas revistas da França modelos ou fotografias de modelos extremamente magras", afirmou o ex-deputado Olivier Véran, um dos defensores do projeto, adotado definitivamente pela Assembleia Nacional na quinta-feira (17). "Lutamos contra a desnutrição que se impõem, ou que, às vezes, é imposta a algumas jovens para que possam trabalhar", explicou Véran.

Meses atrás, o ex-deputado apresentou uma emenda a partir da qual se proibiria, no território francês, trabalhar com modelos desnutridas. Esta lei prevê que, para atuar na França, as modelos terão que apresentar um atestado médico que comprove que "seu estado de saúde, levando em conta, principalmente, o Índice de Massa Corporal (IMC), é compatível com o exercício da profissão". Ainda segundo o texto, as revistas ou agências que não respeitarem a lei poderão ser punidas com até seis meses de prisão e multa de € 75 mil. "Agora, terão que apresentar um atestado, e iremos exigi-lo", afirmou Ralph Toledano, presidente da Federação Francesa de Costura.

Twiggy e Kate Moss marcaram a história das magrelas na moda

Para os especialistas da saúde, a lei francesa pode ter um impacto importante, mesmo se não será suficiente. "O mais importante deste texto é que, agora, estas jovens terão acompanhamento médico", comentou Nathalie Godart, psiquiatra para adolescentes no Instituto Mutualista Montsouris, em Paris. "Mas além da saúde das modelos, devemos estar atentos à imagem, divulgada pela mídia, do que deveriam ser as formas normais de uma jovem. Quando se tomam como referência pessoas em estado de magreza patológica, criamos uma situação prejudicial às adolescentes", assinalou.

O culto à magreza na moda contemporânea começou na década de 60, quando a jovem Leslie Hornsby, uma britânica de 16 anos, se tornou a modelo do momento com o nome de Twiggy. Com sua imagem andrógina e seu rosto juvenil, ela era uma resposta à tendência das moças quase rechonchudas que marcaram o pós-guerra. Na época, marcas como Christian Dior criaram um verdadeiro império baseado na silhueta em forma de ampulheta, com seios e quadris bem delineados. Mas como na moda tudo muda, o “fenômeno Twiggy”, que coincide com a valorização da juventude e o início do streetwear, abriu as portas para uma nova estética, que teve décadas mais tarde como representante a compatriota Kate Moss, que faz sucesso até hoje.

Modelos brasileiras mudaram um pouco os padrões

No início dos anos 2000, o mundo da moda chegou a mudar temporariamente suas referências, buscando modelos com formas mais definidas. O movimento tentava virar a página da tendência do grunge que marcou o final da década de 1990, quando as passarelas de Paris, Milão, Londres e Nova York, eram repletas de jovens extremamente magras e andróginas.

Algumas modelos brasileiras ajudaram a impor esse ideal de beleza mais saudável e começaram a cair nas graças dos estilistas, substituindo as meninas vindas do leste europeu. Foi o momento em nomes como Gisele Bündchen começaram a fazer sucesso com suas formas. A sessão de fotos na revista Vogue norte-americana em 1999, intitulada “A volta das curvas”, foi uma espécie de estopim do movimento.

No entanto, apesar desse breve momento de valorização das modelos menos magras, o culto à magreza continua marcando a história da moda, com ou sem lei para controlar o peso das modelos.

Agências de modelos temem impacto da lei francesa

No mundo da moda, teme-se que esta lei resulte na determinação de um IMC mínimo para se poder desfilar. "É melhor que este índice não conste da lei, porque pode ser uma armadilha", teme Isabelle Saint-Félix, secretária-geral do Sindicato Nacional das Agências de Modelos (Synam), que reúne cerca de 40 agências. "Imagine que, um dia, fique decidido que, abaixo de um certo IMC, as modelos não poderão trabalhar. Seria catastrófico para as agências francesas, e poderia ser considerado discriminatório", estimou.

O IMC é um índice definido pelo peso (em quilogramas) dividido pela altura ao quadrado (em metros), resultando em um valor expresso por kg/m2. Por exemplo, um adulto que pesa 48 kg e cuja altura é 1,70 m terá um IMC de 16.6. Uma pessoa é considerada desnutrida quando seu índice é inferior a 16 e abaixo do peso quando o calculo resulta em menos de 18.4.

A França segue os passos de Israel, um dos primeiros países a aprovar uma lei proibindo a atuação de modelos muito magras. O texto israelense, que entrou em vigor em 2013, determina um IMC mínimo de 18,5 para as modelos em revistas e desfiles. Espanha, Chile, Itália e Bélgica também tomaram medidas legais ou regulamentares para lutar contra a magreza extrema.

(Com informações da AFP)
 

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