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Apenas um jihadista dos ataques de Paris já foi enterrado

Dois meses após os ataques de Paris, a maioria dos jihadistas mortos na ação e em operações da polícia não foi enterrada. A questão do sepultamento gera tensão entre as autoridades e os familiares dos envolvidos nos atentados.

O corpo do jihadista Samy Amimour foi enterrado em uma área de túmulos anônimos como esta do cemitério de Bobigny, na periferia de Paris.
O corpo do jihadista Samy Amimour foi enterrado em uma área de túmulos anônimos como esta do cemitério de Bobigny, na periferia de Paris. wikipédia
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Até o dia 13 de janeiro, a promotoria de Paris concedeu apenas autorização para o sepultamento de dois dos oito terroristas mortos. O corpo de Samy Amimour, um dos três homens que atacaram o Bataclan, foi enterrado no dia 24 de dezembro no cemitério de La Courneuve, periferia norte da capital francesa. A cidade está vinculada administrativamente a Drancy, local de residência do jihadista.

Em entrevista ao vespertino francês Le Monde, o secretário regional de segurança pública informou que o sepultamento de Amimour aconteceu num final de tarde, após o fechamento do cemitério ao público. Agentes de segurança agiram com muita discrição durante o enterro para evitar "manifestações de simpatia". O corpo está em uma área do cemitério destinada a muçulmanos, mas em um espaço para túmulos anônimos. Muitos fiéis se mostraram indignados que ele tenha sido enterrado no local.

Familiares do jihadista Bilal Hadfi também conseguiram autorização para poder enterrar o corpo do jovem de 20 anos, o mais novo dos terroristas. Francês vindo da Bélgica, Hadfi partiu para a Síria em fevereiro de 2015. Ele acionou seus explosivos nos arredores do Stade de France, sem deixar vítimas. As autoridades da região de Saint-Denis disseram ter sido consultadas para "autorizar o envio do corpo para o exterior".

A mãe do kamikaze pretende sepultar o filho em Berkane, nordeste do Marrocos, região de origem da família. Em entrevista à Maghreb TV, ela explicou que continua bloqueada por questões burocráticas. Um dos maiores problemas seria a recusa do consulado do Marrocos em Paris em dar o sinal verde para o caso.

Indefinições sobre outros corpos

A situação dos outros terroristas mortos deve se arrastar por muito tempo, segundo Le Monde. Os corpos continuam no Instituto Médico Legal de Paris.

A advogada de Foued Mohamed-Aggad, um dos homens que atacou o Bataclan, explica que, nesta situação, o procedimento para entrega do corpo aos familiares é parecido com os casos de acidentes de avião. As autoridades querem ter certeza dos restos mortais entregues aos familiares. Segundo o jornal, assim que for liberado pelas autoridades, o corpo de Foued deverá ser enterrado na região de Bah-Rhin, leste da França, onde morava.

Em relação a Ismael Omar Mastefai, outro jihadista que atacou o Bataclan, não há informações sobre o local de seu sepultamento. As prefeituras de Romily-sur-Seine, onde moram seus pais, e a de Chartres, local de domicílio do jihadista até 2013, não foram contatadas.

O prefeito de Chartres, norte do país, indicou que não se sente obrigado e por isso não pretende autorizar o enterro de Mastefai na cidade.

Os dois outros jihadistas mortos nos arredores do Stade de France ainda não foram identificados. Neste caso, podem ser enterrados em Saint-Denis, já que a lei francesa obriga que os corpos sejam sepultados na cidade onde houve o óbito ou se for um local de residência e tiver um túmulo familiar.

Situação pouco clara na Bélgica

A situação ainda não está definida para os casos de Brahim Abdeslam, kamikaze que atacou o bar e restaurante Comptoir Voltaire, e Abdelhamid Abaaoud, suposto mentor da série de atentados e morto na operação da polícia francesa cinco dias depois dos ataques. Os dois foram registrados como residentes no bairro de Molenbeek, em Bruxelas.

A prefeitura local não recebeu ainda nenhum atestado de óbito e sem este documento o enterro não é autorizado. O pai de Abaaoud, um belga-marroquino, espera enterrar seu filho no Marrocos. Os familiares de Abdeslam ainda não expressaram intenção sobre o local para enterro do corpo do filho, de acordo com sua advogada.

Uma das opções no caso deles é o cemitério de Bruxelas, que acolhe fiéis de todas as religiões. Políticos dizem que Abaaoud não é bem-vindo ao local, justificando que seria contrário à filosofia de fraternidade entre as religiões. Já o diretor do cemitério diz que não se pode deixar corpos "no meio da rua" e se for solicitado, não poderá recusar enterrar o corpo de um jihadista.

O cemitério, lembra ele, já abriga a sepultura de um dos dois jihadistas mortos em fevereiro de 2015, em Verviers, durante operação da polícia para evitar o planejamento de um ataque terrorista
 

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