Tortura: Livro revela influência da “doutrina militar francesa” na ditadura do Brasil

A jornalista e escritora Leneide Duarte-Plon é a autora do livro A Tortura como arma de guerra, um relato até então inédito no Brasil sobre a influência da França nas ditaduras brasileira e de outros países latino-americanos. Graças a arquivos, muitos deles secretos, e entrevistas com personagens importantes nesse processo, a autora mostra como foram aplicados no Cone Sul os métodos – entre eles tortura e execução sumária – da chamada “doutrina francesa” de combate aos movimentos contrários ao poder.

RFI

 Um dos principais relatos do livro é o do general francês Paul Aussaresses, adido militar no Brasil nos anos 1970. Em solo brasileiro, ele deu aulas para os militares em Manaus sobre o que ficou conhecido como a “escola francesa”, desenvolvida durante os conflitos que vivenciou na Guerra da Argélia, mas também na Indochina. A autora foi a primeira brasileira a encontrar o general, que morreu em 2013 sem exprimir nenhum tipo de arrependimento sobre seu papel nesse episódio sombrio da história do século XX.

O livro da editora Civilização Brasileira mostra como os métodos aplicados, e durante muito tempo ocultados, pelos militares franceses foram reproduzidos no Brasil. Um dos exemplos é o dos “suicídios” de presos políticos por enforcamento, como o jornalista Vladimir Herzog, que apresentava semelhanças flagrantes com a morte do chefe do Frente de Liberação Nacional (FLN), Larbi Ben M'hidi, na Argélia.

No entanto, como frisa a autora, os franceses não ensinaram aos brasileiros a tortura. “O regime de Vargas, na ditadura, torturou muito. Se tortura no Brasil desde sempre”, relata, lembrando que algumas técnicas, como “pau-de-arara” já se inspiravam da maneira como os escravos eram punidos.