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França

Agressão sexual de rapaz por policiais invade debate político na França

A agressão sexual de um jovem de 22 anos durante uma batida policial na periferia de Paris chocou a opinião pública. O caso desencadeou várias manifestações populares e se convidou ao debate político, a menos de dois meses da eleição presidencial na França.

O presidente francês François Hollande visitou Théo no hospital e pediu que o jovem agredido confie na Justiça.
O presidente francês François Hollande visitou Théo no hospital e pediu que o jovem agredido confie na Justiça. Présidence de la République - L. Blevennec
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O jovem Théo foi agredido na quinta-feira (2) durante um controle de identidade em Aulnay-sous-Bois, cidade ao nordeste de Paris. Durante a operação, um dos policiais teria usado um cassetete para agredir sexualmente o rapaz. Segundo os médicos, a vítima, que segue hospitalizada após ter sido operada, sofreu lesões graves na zona retal. O episódio foi filmado pelas câmeras de segurança.

Apesar de a Justiça ter agido rapidamente após a denúncia, indiciando os quatro policiais que participaram da ação, a agressão de Théo se tornou um dos principais temas da agenda política francesa. Bruno Beschizza, prefeito de Aulnay-sous-Bois, denuncia a falta de ação do governo. Segundo ele, que faz parte do partido Os Republicanos, de direita, o ministério francês do Interior, responsável pelos assuntos ligados à segurança, praticamente não se exprimiu sobre o caso.

O primeiro-ministro, Bernard Cazeneuve, e o ministro do Interior, Bruno Le Roux, se contentaram em dizer que as forças de ordem têm “o dever de serem exemplares”. O governo também anunciou, nesta quarta-feira (8), um reforço dos efetivos policiais nos bairros sensíveis, principalmente após as manifestações de revolta que terminaram com cerca de vinte veículos queimados e a detenção provisória de 17 pessoas.

Agressão entra na campanha presidencial

Com a campanha eleitoral a pleno vapor, a maioria dos candidatos denunciou a agressão contra o jovem. O candidato conservador François Fillon, envolvido um escândalo político, e que tenta recuperar sua imagem, declarou que “os policiais cometeram erros e devem ser punidos”. No entanto, o presidenciável ressaltou que trata-se de “um ato que deve ser provado”. Já a candidata Marine Le Pen, da extrema-direita, se solidarizou com as forças policiais.

Emmanuel Macron, ex-ministro socialista da Economia e outsider da corrida presidencial, apresentou um discurso ambíguo. “O contexto mudou e a delinquência se transformou”, declarou. “A maioria dos policiais fazem um trabalho admirável e esse caso não deve, de forma alguma, desonrar toda uma categoria profissional”, disse o candidato. “Confiança e respeito devem ser recíprocos entre a polícia e a população”, ponderou o ex-ministro que, apesar de não ter partido, avança rapidamente nas pesquisas de opinião sobre a eleição presidencial de abril.

O presidente francês, François Hollande, que visitou a vítima na terça-feira (7), não hesitou em levar a Théo a mensagem de que “o Estado pensa nele” e que o jovem poderia confiar na justiça. Porém, o jornal Le Monde que chegou às bancas na tarde desta quarta-feira (8) questiona se não se trata apenas de uma tentativa de angariar a simpatia dos eleitores, já que o chefe de Estado – que não está na disputa presidencial – fez a visita acompanhado de jornalistas, que filmaram o encontro.

Cassetete já foi arma em outra agressão sexual

Na Assembleia Nacional, na hora em que os deputados examinavam um projeto de lei que reforma as regras sobre a ação da polícia, o socialista Daniel Goldberg fez um apelo para uma tomada de consciência nacional. Para ele, as relações entre polícia e população nos bairros da periferia precisam mudar, principalmente no que se refere às técnicas de controle de identidade.

Essa não é a primeira vez que um caso de agressão sexual envolve policiais durante uma batida. Em 2015, um agente foi acusado de ter agredido sexualmente um jovem de 27 anos, com um cassetete, durante um controle de identidade em Drancy, cidade vizinha a Aulnay-sous-Bois. Após a perícia médica confirmar que o rapaz havido sofrido uma penetração anal violenta, a justiça exigiu uma condenação de seis meses de prisão ao policial, mas com direito a sursis. O veredicto do caso deve ser anunciado no dia 20 de fevereiro.
 

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