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França/imigração

Maior parte dos imigrantes tem mais diplomas que franceses em geral, diz estudo

Um estudo do pesquisador do Instituto Nacional de Estudos Demográficos da França, Mathieu Ichou, divulgado pelo jornal "Le Monde", mostra que a maioria dos imigrantes tem um perfil bem diferente do que pensa a classe mais conservadora do país.

Imigrantes deixam o acampamento de Calais, no norte do país
Imigrantes deixam o acampamento de Calais, no norte do país PHILIPPE HUGUEN / AFP
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Na França, é comum ouvir nas ruas, em bate-papos às vezes nada amistosos nas mesas dos bares e em debates acalorados na TV que os imigrantes “aproveitam” da estrutura social do país, porque são, na maioria dos casos, pobres com um baixo nível de instrução que buscam o paternalismo de uma nação rica.

As imagens dos refugiados que inundaram a TV e a mídia nos últimos meses contribuíram para o fortalecimento desse estereótipo, reforçado também pelas declarações populistas como as da candidata da extrema-direita Marine Le Pen, favorita ao primeiro turno das eleições presidenciais francesas.

O estudo intitulado “O nível de instrução dos imigrantes: variado e com frequência mais elevada do que boa parte da população francesa”, publicado nesta terça-feira (14) na revista “População e Sociedades”, questiona essa ideia e prova que ela tem pouco fundamento científico.

O demógrafo Mathieu Ichou mostra que muitos grupos de imigrantes têm alto índice de diplomas de ensino superior – superando os franceses. É o caso de 37% dos romenos que vivem no país, 43% dos chineses, 35% dos vietnamitas, ou ainda 32% dos poloneses.

Na França, 27% tem um diploma universitário – o mesmo índice, aliás, dos senegaleses que vivem no país. É o caso também de outras nacionalidades do continente africano. “Contrariamente ao que pensa uma boa parte da opinião pública, os imigrantes malineses que chegam à Europa, vêm da classe média ou média alta de seus países”, diz o pesquisador, entrevistado pelo jornal "Le Monde". Ele lembra, também, que para deixar a África é preciso beneficiar de um certo nível de capital econômico, social e intelectual.

27% dos refugiados sírios têm diploma universitário

O fenômeno também pode ser constatado em outros países da Europa: a demógrafa Anne Goujon, do Instituto Demográfico de Viena, analisou o perfil dos refugiados sírios que chegaram à Áustria no início de 2015 e constatou que 27% deles tinha diploma ensino superior. No país, em guerra desde 2011, apenas 10% tem esse nível de instrução. A mesma constatação foi feita entre os afegãos. A conclusão é que apenas a população mais privilegiada conseguiu fugir da guerra e terminar seu périplo até a Europa.

A pesquisa da demógrafa também traz outro dado interessante: os imigrantes que estudaram apenas até o primário representam apenas 1% da população, com exceção das nacionalidades marroquina, com 19%, e turca, com 15%. Mathieu Ichou lembra que os fluxos migratórios se diversificaram ao longo das décadas, o que explica a tese da imigração "sob medida" defendida por alguns candidatos à eleição presidencial francesa.
 

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