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Reportagem

A volta da França da corrupção é tema de livro premiado

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Os jornalistas de investigação Jacques Duplessy e Guillaume Morand percorreram a França durante dois anos em busca de histórias envolvendo subornos, condutas abusivas, práticas irregulares, nepotismo, concorrência desleal e conflitos de interesse. O projeto resultou no livro “Le tour de France de la corruption” (Le tour de França da corrupção, em tradução livre) onde os autores descrevem com riqueza de detalhes episódios que envolvem uma prática desenvolta de comportamentos ilícitos.

Os jornalistas franceses Jacques Duplessy e Guillaume de Morand recebem o prêmio "Ética" pelo livro "O tour da França da corrupção"
Os jornalistas franceses Jacques Duplessy e Guillaume de Morand recebem o prêmio "Ética" pelo livro "O tour da França da corrupção" Jean Schmidt-Whitley pour Anticor
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O intuito de ambos era de esboçar um retrato da corrupção ordinária existente no país, aquela que não está nas manchetes dos jornais, mas que é praticada no quotidiano de forma insidiosa.

Um senador que é reembolsado inúmeras vezes pela mesma viagem, um homem de negócios corrompido que se converte em lançador de alertas, um prefeito que abusa de seu cargo e decreta que os ônibus de turismo devem passar obrigatoriamente em frente de suas lojas de comércio, uma deputada que é acusada de desvio de dinheiro público, mas que ainda exerce o mandato. São cerca de trinta demonstrações de como a corrupção se pratica em maior e menor escala no país.

Num dos casos mais emblemáticos do livro, um agricultor teria sido vítima de fraudes diversas por parte de seus sócios, mas também do liquidante judicial e do oficial de justiça. O agricultor teve um prejuízo de € 200 mil.“Ele perdeu tudo e já fazem sete anos. E por enquanto, esse caso ainda não foi julgado”, comenta Jacques Duplessy, em entrevista à RFI Brasil.

O jornalista acredita que a lentidão da justiça é um dos problemas centrais na luta contra a corrupção. Segundo ele, o fato de que alguns casos levem até quinze anos para serem julgados aumenta ainda mais a sensação de impunidade.

Outro aspecto apontado por Duplessy é a inexistência total de estatísticas oficias sobre a corrupção. “Quando nós interrogamos o Ministério da Justiça, eles declararam que é ilegal fazer estatísticas sobre a corrupção. Nós gostaríamos de saber porque, mas nós não tivemos respostas a esta questão.”

 Duplessy explica que na luta contra a corrupção é fundamental que haja um maior controle da atividade dos lobistas. “Nós vemos cada vez mais casos de corrupção ligados ao lobby. A lei precisa realmente ser melhorada nesse setor.”

Suspeita de nepotismo
Ao ser questionado sobre as suspeitas de corrupção que ameaçam o candidato da direita à presidência, François Fillon, o jornalista afirma:“Eu tenho a impressão que nós temos reis e que eles fazem o que bem entendem. O problema é esse sentimento de impunidade, a impressão que certas pessoas estão acima da lei. E isso é realmente devastador para a política.”

A investigação realizada pelos jornalistas franceses foi recompensada pelo Prêmio Ética, da associação Anticor, que luta contra a corrupção e defende a ética na política.

Políticos franceses na mira da justiça
No dia 1º de fevereiro, os deputados franceses adotaram uma lei que impede a candidatura daqueles que foram condenados pela justiça. Na França existem inúmeros casos de políticos investigados, que continuam exercendo suas atividades. De acordo com os dados da associação Anticor, entre 1995 e 2015, 1188 políticos franceses foram investigados em casos de corrupção.

 

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