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Pedofilia

Após denúncias, Igreja francesa reconhece casos de pedofilia

Acuada por reportagens que revelam o seu silêncio diante da pedofilia de seus padres, a Igreja Católica francesa anunciou, nesta quarta-feira (22), a sua “vergonha” e a sua vontade de lutar contra esse “flagelo”.

Arcebispo de Lyon, Philippe Barbarin: reputação abalada depois do caso de pedofilia do padre Preynat.
Arcebispo de Lyon, Philippe Barbarin: reputação abalada depois do caso de pedofilia do padre Preynat. REUTERS/Robert Pratta/Files
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Uma reportagem transmitida na noite de terça-feira (21) pelo canal público de televisão France 2, além de um livro e artigos publicados no site de notícias Mediapart, denunciou que 18 padres condenados por agressões sexuais contra menores, entre elas, o estupro, continuam a trabalhar na Igreja Católica na França. Além disso, a reportagem revelou um esquema de transferências criado para abafar os escândalos, por meio do qual se enviava padres pedófilos para o exterior, totalizando 95 transferências de religiosos, que podem ter abusado de 802 vítimas.

Segundo a reportagem, 25 bispos franceses, inclusive cinco que ainda trabalham, acobertaram 32 agressores sexuais, ainda vivos, que assediaram 339 vítimas. Se alguns casos datam da década de 1960, a metade deles ocorreu depois do ano 2000.

“Temos um sentimento profundo de vergonha, de humildade e de determinação porque estamos bem conscientes que cometemos erros, que houve um silêncio cúmplice, que preferimos defender a instituição a denunciar o sofrimento legítimo das vítimas”, declarou o porta-voz da Conferência dos Bispos da França, monsenhor Olivier Ribadeau Dumas.

Os números divulgados nas reportagens constituem “um somatório de fatos que toma uma dimensão vertiginosa”, reconheceu o porta-voz, acrescentando que os jornalistas não revelaram nada de novo.

Abalo na imagem da Igreja

Com menos de 0,5% de padres acusados de praticar atos sexuais com menores, a França parece menos comprometida do que os Estados Unidos, onde as acusações de pedofilia atingem 4% dos padres entre 1950 e 2002, enquanto na Austrália suspeita-se de que 7% dos padres tenham praticado atos de pedofilia entre 1950 e 2010.

De qualquer modo, a compilação desses dados abala a imagem de uma instituição que, na França, luta há meses contra as acusações de negligência ou displicência na investigação e punição dos casos de pedofilia. A história do padre Bernard Preynat, por exemplo, suspeito de abuso sexual com mais de 70 escoteiros, manchou fortemente a reputação do cardeal Philippe Barbarin, o poderoso arcebispo de Lyon, no centro-oeste da França.

O episcopado francês relembrou nesta quarta-feira as medidas anunciadas em abril de 2016: criação de dispositivos de escuta das vítimas em toda a França e da criação de uma comissão de especialistas para resolver os casos de padres litigiosos, além do trabalho de prevenção junto a seminaristas e noviços.

Acabar com a cultura do silêncio

“Houve uma cultura do silêncio. Agora, queremos rompê-la para desenvolver uma cultura de escuta e acompanhamento das vítimas. Nós acabamos de entrar nessa fase, acho eu, que pode levar muito tempo. É difícil mudar as mentalidades”, assume o padre Ribadeau Dumas.

Enquanto muitos na sociedade civil demandam a constituição de uma comissão independente de investigação, o episcopado prefere esperar que as medidas já adotadas surtam efeitos. “Ainda temos alguns anos de luta para que este flagelo acabe”, concluiu Dumas.
 

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