A velha política está morrendo na França, mas continua esperneando
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Suspiros de alívio. Na França e na Europa. Emmanuel Macron foi eleito presidente com muito mais votos do que era previsto, enquanto Marine Le Pen obteve muito menos. O otimismo ganhou do pessimismo. Os franceses que ainda acreditam no futuro, que tudo pode melhorar, e que querem uma França aberta ao mundo e à Europa, mostraram que são maioria.
Em cada comício de Macron, sempre havia uma bandeira estrelada europeia ao lado da tricolor francesa. E o presidente eleito celebrou a vitória ao som do hino da União Europeia. Mas a minoria não desapareceu. São os esquecidos, os sem futuro e sem emprego, os perdidos nos grotões e nas periferias das grandes cidades, os que não acreditam que a França possa competir com o resto do planeta. Melhor fechar o país e sair da Europa. Parar o mundo para descer do bonde da globalização.
Macron ganhou, mas a senhora Le Pen angariou mais de 10 milhões de sufrágios. Nunca a extrema-direita xenófoba e populista havia atingido tal nível. Para o novo presidente, não vai ser fácil reconciliar essas duas Franças. Todos os velhos políticos e todos os partidos derrotados já estão em campanha para as eleições legislativas do mês de junho. O grande desafio do novo presidente vai ser conseguir uma maioria parlamentar inédita para poder governar. A velha política está morrendo, mas continua esperneando.
Só que a eleição de Emmanuel Macron é um verdadeiro terremoto. Com 39 anos, o novo inquilino do Palácio do Eliseu é o mais jovem presidente da história republicana francesa desde Napoleão Bonaparte (imperador com 36 anos), e provavelmente um dos mais jovens do mundo. Ele representa claramente uma mudança de geração política. É a França da juventude, da energia, da vontade de fazer e mudar o país que está chegando ao poder. Toda a classe política tradicional, há décadas no palco, envelheceu de repente.
França vai sair do imobilismo
Há um ano atrás, Macron lançou sozinho um movimento para acabar com a velha divisão entre direita e esquerda. Hoje, os representantes dos dois grandes partidos governamentais, socialista e conservador, nem chegaram ao segundo turno do pleito presidencial. Nada assegura que a juventude seja mais eficiente e mais sábia do que a velharia. Mas não há dúvida que França vai sair do imobilismo e da depressão dos últimos anos. A era das mudanças, das reformas profundas e de novas práticas políticas está anunciada. Para melhor ou para pior. Mas a energia, os objetivos claros, o voluntarismo e até um certo autoritarismo do jovem presidente eleito garantem que muita coisa vai acontecer.
Essa vontade de mudança é ainda mais evidente com relação à União Europeia. Enquanto Marine Le Pen passou a campanha inteira insultando a Alemanha, as instituições de Bruxelas e o euro (a moeda única europeia), Macron fez questão de defender abertamente o papel da França dentro da União e a cooperação estreita com a chanceler Angela Merkel. O novo presidente anunciou sem rodeios que a ideia era reformar e dinamizar a economia e a sociedade francesas para poder, junto com a Alemanha, relançar e reforçar a construção e a integração europeias.
Macron: ponta de lança de uma nova Europa
Os recentes sucessos eleitorais dos partidos populistas foram um sinal de alarme: ou a Europa se transforma num espaço econômico e político integrado de verdade, com uma sólida cooperação de defesa e segurança, ou vai sucumbir à avalanche da raiva nacionalista e racista. Emmanuel Macron tem tudo para ser a ponta de lança de um novo modelo de Europa unida.
A boa notícia é que os movimentos populistas europeus bateram no teto. Hoje são os movimentos pró-europeus que estão de vento em popa, inclusive na Grã-Bretanha do Brexit. Melhor ainda: a economia europeia está voltando a crescer, os investimentos, os salários e o emprego estão aumentando. Tudo isso vai ajudar o jovem presidente francês. Maquiavel já dizia que o “príncipe” devia ter “virtude e sorte”. Por enquanto, Macron mostrou que sorte, ele tinha. E muito!
*Alfredo Valladão, da Universidade Sciences Po, publica uma crônica de geopolítica às segundas-feiras na RFI
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