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França

Eleição legislativa confirma fratura da esquerda na França

O primeiro turno da eleição legislativa na França, realizado no domingo (11), foi marcado pela vitória esmagadora do recém criado partido do presidente Emmanuel Macron. Além de ter registrado índices inéditos de abstenção, mobilizando apenas metade dos eleitores, o pleito atesta a instabilidade da esquerda no país, principalmente com os resultados obtidos pelos socialistas, que estavam no poder até o mês de maio.

Benoît Hamon (à esquerda), candidato socialista à presidência francesa, foi derrotado novamente já no primeiro turno das eleições legislativas, enquanto Jean-Luc Mélenchon, da esquerda radical, foi para o segundo turno para tentar se tornar deputado.
Benoît Hamon (à esquerda), candidato socialista à presidência francesa, foi derrotado novamente já no primeiro turno das eleições legislativas, enquanto Jean-Luc Mélenchon, da esquerda radical, foi para o segundo turno para tentar se tornar deputado. AFP/Joël Saget
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Os candidatos que passaram para o segundo turno têm uma semana pela frente para tentar convencer os eleitores. Porém, segundo boa parte dos analistas, as urnas devem apenas confirmar o resultado de domingo, que terminou com 32% dos votos para o partido República em Marcha (REM), do presidente Emmanuel Macron. “Mesmo uma mobilização de massa não deve mudar esse cenário”, comenta Edouard Lecerf, diretor do departamento política e opinião do instituto de pesquisa Kantar Public.

As projeções mais modestas apontam que esse movimento, que existe oficialmente há pouco mais de um ano, teria 400 cadeiras do total de 577 da Assembleia. Mas o andar da carruagem leva a crer em uma vitória ainda mais acentuada, com até 450 cadeiras para o REM, criando uma maioria absoluta para o grupo de Macron.

A formação do chefe de Estado é seguida no primeiro turno das legislativas pelo partido de direita Os Republicanos (LR), com 21% dos votos, o que faria dos conservadores a principal força da oposição na Assembleia Nacional francesa. Porém, como lembra Edouard Lecerf, a legenda do ex-presidente Nicolas Sarkozy também enfrenta uma fase de dúvidas. “O LR teve muitas dificuldades para se reconstruir após a derrota [do candidato François Fillon] na eleição presidencial, e está muito perturbado. A tal ponto que alguns de seus membros já exprimiram a possibilidade de apoiar a maioria presidencial”, analisa Lecerf.

PS deve perder mais de 200 deputados na Assembleia

Mas a situação mais grave é do lado da esquerda francesa, principalmente no Partido Socialista (PS), que conquistou pouco mais de 7% dos votos no primeiro turno das legislativas. Com esse resultado, a legenda, que até maio passado governava o país com uma maioria composta por 300 deputados, deve perder mais de 200 cadeiras. Segundo as projeções, o partido pode conquistar 30 vagas, na melhor das hipóteses. Mas esse número de eleitos pode ser de apenas 15, ou seja, o limite mínimo para compor um grupo na Assembleia, o que colocaria os socialistas no mesmo patamar almejado pela extrema-direita de Marine Le Pen.

Os exemplos mais emblemáticos desse declínio PS são Benoît Hamon, candidato derrotado na presidencial, e Jean-Christophe Cambadélis, primeiro-secretário do partido: ambos foram eliminados antes mesmo do segundo turno. “Esse domingo marcou um recuo inédito para a esquerda inteira e principalmente para os socialistas”, constatou, timidamente, Cambadélis. O chefe do PS, aliás, foi alvo de gozações nas redes sociais ao ser fotografado durante a campanha em um pequeno palanque, fazendo comício diante de menos de dez pessoas.

“Esse pleito confirma a fratura da esquerda francesa”, comenta Lecerf, lembrando que o grupo vive conflitos internos, encarnados por políticos como Jean-Luc Mélenchon. O candidato da esquerda radical, que ficou em quarto lugar na eleição presidencial e foi para o segundo turno nas legislativas de domingo, chegou a dizer que “queria liquidar o Partido Socialista”, lembra o analista.

Refundar o Partido Socialista

Diante dessa ameaça, o especialista diz que é indispensável refundar o PS. “Mas para isso é preciso que eles concordem entre si sobre várias ideias, é preciso ter novos candidatos e também ter meios financeiros”. Pois a diminuição do número de membros eleitos acarreta uma redução das ajudas públicas que alimentam o partido. “Só para ter uma ideia, até a possível venda da sede do PS, (uma mansão ao lado do Museu d’Orsay) na rua de Solférino, chegou a ser cogitada para levantar fundos”, conta.

Mas a “refundação da esquerda” parece se organizar longe da sede do PS. As prefeitas socialistas de Paris e Lille, Anne Hidalgo e Martine Aubry, se uniram com a ex-ministra da Justiça da França, Christiane Taubira, e já anunciaram o projeto de criação de um novo movimento político. Batizado “Dès demain” (Desde amanhã, em tradução livre), a iniciativa se diz “aberta a todos os humanistas que ainda acreditam na ação”. A mesma estratégia também desponta do lado de Benoît Hamon, que pretende criar seu próprio movimento, a partir de julho. Com ares de déjà vu, ambas iniciativas seguem os passos de Macron, na esperança que a fórmula funcione novamente.

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