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“Muitos novatos na Assembleia trazem riscos a Macron”, diz advogado Charles-Henry Chenut

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O advogado francês especializado nas relações entre Brasil e França e candidato derrotado às eleições legislativas pelo partido de centro UDI, Charles-Henry Chenut, é crítico em relação à grande renovação da Assembleia francesa. Segundo ele, a falta de experiência política dos deputados novatos e a pouca familiaridade de muitos deles com assuntos importantes das próprias regiões pelas quais foram eleitos, podem representar riscos para as ações do governo Macron.

O advogado e ex-candidato às eleições legislativas, Charles-Henry Chenut.
O advogado e ex-candidato às eleições legislativas, Charles-Henry Chenut. RFI
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De acordo com os dados oficiais divulgados nesta segunda-feira (19), o partido República em Marcha (REM) conquistou 308 cadeiras, acima da maioria absoluta de 289 da Assembleia francesa. Somado ao partido aliado Modem, com 42 assentos, o governo do presidente Emmanuel Macron e do primeiro-ministro Edouard Philippe vai ter uma maioria ampla e confortável com 350 cadeiras para levar adiante suas reformas.

No entanto, o sucesso de Macron nas eleições legislativas, menor do que anunciado nas projeções entre os dois turnos do pleito, foi relativizado pela abstenção recorde. Cerca de 14 milhões de franceses não comparecerem às urnas no domingo. “Isso é uma maioria relativa. A abstenção é histórica, de 57%. O Macron tem que perceber que seu poder não é tão forte”, avaliou.

Para Chenut, o período curto entre as eleições presidenciais e as legislativas é um dos principais motivos para desmobilização dos eleitores. “Depois de três, quatro semanas, ninguém quer mais votar. Todo mundo sabe que o resultado da eleição presidencial determina o quadro futuro da Assembleia Nacional. Há um ano e meio o povo francês mergulha em um banho político intenso e por isso está cansado, por isso a abstenção tão forte”, opinou.

“Outra coisa é que os eleitores não conseguiram achar bons candidatos para serem representados. Esse é um sinal forte para o próximo governo perceber que metade da França não segue a política do presidente”, insiste o advogado. Ele se candidatou oficialmente pela legenda UDI (centro) que, se unida ao partido de direita, Os Republicanos, constitui a segunda força política da Assembleia, com 113 cadeiras.

Evolução com riscos

Com 952 votos, 8,28% do total de inscritos, Chenut ficou em quarto entre 18 candidatos na circunscrição da região América Latina e Caribe e não chegou ao segundo turno da eleição. A representante será Paula Forteza, vencedora pelo partido República em Marcha. Ela simboliza duas grandes mudanças trazidas pela votação: ao mesmo tempo que integra os 91% de novatos eleitos da REM na Assembleia, também faz parte do grupo de 244 deputadas, um número recorde de mulheres eleitas.

“Houve uma evolução. Há mais jovens, mais mulheres, mas isso levanta questões importantes. Por exemplo, um novo deputado, da sociedade civil, não conhece os dossiês importantes da região. Durante metade do mandato, ele vai aprender como agir em sua circunscrição”, avalia Chenut.

Em conversas com políticos experientes na casa legislativa, o ex-candidato observou que o período para se adaptar ao processo parlamentar também pode levar muito tempo: “Quando você não conhece o processo parlamentar, leva-se dois anos e meio para saber como agir dentro da Assembleia Nacional. Vamos ter um terço da Assembleia que não vai saber como trabalhar. O que o governo vai fazer nesse tempo de aprendizado? Isso é uma questão grave e importante”.

Oposição nas ruas

A nova paisagem política que emergiu das urnas francesas deixou um espaço limitado para novos grupos parlamentares fazerem oposição. O bloco formado pelos partidos Os Republicano e UDI, por exemplo, contém deputados etiquetados como “compatíveis com Macron ”, denominação usada para identificar parlamentares que poderão votar a favor dos projetos do governo. O mesmo pode acontecer com o Partido Socialista, que conquistou apenas 30 cadeiras na nova Assembleia contra 284 na anterior.

“Há um grupo de ‘macronistas’ que não tem hábito de reagir e agir através de comissões e grupos parlamentares. Normalmente você tem um presidente de um grupo parlamentar que dá ordem e todo mundo segue. Agora você tem jovens, independentes, que não sabem como fazer. Quem vai dirigir esse grupo de Macron? Isso é um desafio, não haverá uma disciplina de grupo”, argumenta.

Sem uma força política contrária no Parlamento, a oposição pode se deslocar para outra arena política, segundo Chenut. “O risco é que a oposição não esteja na Assembleia, e sim, nas ruas. Quem vai representar metade do povo francês na Assembleia? Ninguém, mas acho que a rua vai reagir. Isso será um desafio imediato para o presidente”, diz em referência a eventuais manifestações populares contra reformas polêmicas anunciadas pelo governo Macron, como por exemplo, as mudanças da legislação trabalhista.

Expectativa com as relações franco-brasileiras

Especializado nas relações econômicas e políticas entre França e Brasil, Chenut tem muita expectativa para o futuro entre os dois países. Isso ficou demonstrado, segundo ele, pelos primeiros passos de Emmanuel Macron na cena internacional, considerados positivos.

Nos encontros com os presidentes russo, Vladimir Putin, e americano, Donald Trump, além do chefe de governo indiano, Narendra Modi, o jovem chefe de Estado, de 39 anos, deu indicação de que pretende impor sua visão de política internacional da França, um país com quem o Brasil tem uma parceria estratégica.

“Ele deu um bom sinal com os encontros antes do primeiro turno com esses líderes. Isso foi um bom sinal. Mas ele tem que nomear um ministro para o comércio exterior da França”, observou. “Espero uma aproximação do Brasil com a França. Há bons sinais sobre isso”, afirmou.

 

 

 

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